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Ásia

Governos se revoltam com vazamento de arquivos do Afeganistão

26 jul 2010 - 14h51
(atualizado às 15h25)
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A divulgação de dezenas de milhares de arquivos secretos das forças americanas causou a indignação nesta segunda-feira de países que lutam no Afeganistão, por temor de que as vidas dos soldados estrangeiros que combatem os talibãs sejam colocadas em perigo.

O site Wikileaks divulgou 92 mil documentos secretos sobre a guerra no Afeganistão
O site Wikileaks divulgou 92 mil documentos secretos sobre a guerra no Afeganistão
Foto: AFP

Cerca de 92 mil documentos foram divulgados pelo site Wikileaks com detalhes inéditos da guerra no Afeganistão, retirados de arquivos do Pentágono e de relatórios da situação no teatro de operações, com datas que vão de 2004 a 2010.

"Os Estados Unidos condenam firmemente a divulgação de informações classificadas por parte de pessoas e organizações que poderão colocar as vidas de americanos e de nossos aliados em risco, e ameaçam nossa segurança nacional", disse o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, James Jones, em um comunicado de domingo.

A Grã-Bretanha indicou nesta segunda-feira que lamentava o vazamento, mas pediu ao Paquistão que desmantele todos os grupos militantes que operam em seu território.

"Lamentaríamos qualquer revelação não autorizada de material classificado", disse uma porta-voz de Downing Street. "A Casa Branca fez uma declaração. Não falaremos sobre documentos vazados".

Os documentos contêm, entre outras coisas, notas confidenciais da embaixada de Washington em Cabul, onde é expressada a preocupação com o que denunciam como uma crescente influência do Irã no Afeganistão, ressalta um resumo divulgado nesta segunda-feira pelo jornal britânico The Guardian.

"O Irã deu uma série de passos para expandir e aprofundar sua influência no Afeganistão", escreveu um militar de alto escalão em um documento secreto emitido pela legação diplomática e reproduzido pelo diário, que não pode confirmar a autenticidade dos "relatórios de ameaças" que vazaram.

Os informes, a maioria com base em testemunhos de espiões e informantes afegãos, sugerem que o Irã participa de uma campanha contra as forças internacionais lideradas pelos Estados Unidos no Afeganistão, por meio do fornecimento de dinheiro, armas e treinamento aos talibãs, acrescentou o The Guardian.

Teerã, que a princípio apoiou a ação liderada pelos Estados Unidos contra o regime dos talibãs no Afeganistão, rejeita as denúncias.

Por outro lado, a inteligência militar americana acusa o serviço secreto paquistanês (ISI) de trabalhar com insurgentes afegãos, segundo as novas revelações.

O material que vazou liga, por exemplo, o ISI à tentativa de assassinato do presidente afegão Hamid Karzai em 2008, aos ataques contra aviões da Otam e aos atentados contra a embaixada indiana em Cabul há dois anos.

O Paquistão foi um aliado próximo do regime talibã afegão (1996-2001) e os Estados Unidos acreditam que após a sua derrubada o ISI manteve as relações com os islamitas, esperando pelo momento em que as tropas internacionais se retirariam.

Em Berlim, o Ministério da Defesa, que tem cerca de 4.600 soldados no norte do Afeganistão, criticou o vazamento e indicou que estava revisando os arquivos, embora tenha acrescentado que muitas dessas informações não são novas.

"Obter e divulgar documentos, alguns deles secretos, em tal escala é uma prática altamente questionável, já que pode afetar a segurança nacional dos aliados da Otan e toda a missão da Otan", afirmou uma porta-voz do ministério.

De acordo com o Guardian, pelo menos 195 mortos civis estão registrados, um número "provavelmente subestimado porque vários eventos controversos são omitidos nos relatórios diários das tropas no terreno". A maior parte dessas mortes foi provocada por disparos de soldados nervosos em postos de controle.

"A função do jornalismo é questionar o poder", ressaltou nesta segunda-feira o fundador do Wikleaks, Julian Assange, que defendeu a divulgação dos arquivos. Assange disse em uma entrevista coletiva à imprensa que os relatórios de baixas civis no Afeganistão registrados nos documentos, podem ser evidência de que a coalizão pode ter cometido "crimes de guerra".

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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