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Ásia

Futuro incerto para jovem que revelou programas de vigilância americanos

10 jun 2013 - 13h07
(atualizado às 13h18)
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Edward Snowden, que revelou ao jornal britânico The Guardian os programas confidenciais de vigilância das comunicações de Washington, está em Hong Kong, que tem tratado de extradição com os Estados Unidos, e enfrenta um futuro incerto.

Snowden, de 29 anos , está em um quarto de hotel deste território de administração especial chinesa, para onde viajou em 20 de maio, depois de copiar os últimos documentos que decidiu revelar do prédio da Agência Nacional de Segurança (NSA) no Havaí, segundo o Guardian.

O consulado dos Estados Unidos e as autoridades de Hong Kong se negaram a confirmar nesta segunda-feira a presença de Snowden, que disse em um entrevista em vídeo divulgada no site do jornal que pensava em pedir asilo à Islândia, que, segundo ele, tem reputação de apoiar "os que defendem a liberdade na internet".

"Não temos nada neste momento", declarou à AFP Scott Robinson, diretor adjunto Assuntos Públicos do consulado americano em Hong Kong.

O Departamento de Segurança de Hong Kong, responsável por temas como imigração, polícia e serviços de inteligência, também se recusou a fazer comentários, assim como o consulado islandês.

Em Reikjavik, o governo informou que não recebeu um pedido de asilo e destacou que quem deseja obter a permissão deve fazer a solicitação pessoalmente na Islândia.

A legisladora de Hong Kong Regina Ip, pró-Pequim, disse à imprensa que Snowden provavelmente terá que deixar a cidade.

A administração da cidade "é obrigada a cumprir os termos dos acordos" com o governo dos Estados Unidos, disse.

Estados Unidos e Hong Kong assinaram um tratado de extradição em 1996, um ano antes de a China retomar a administração da ex-colônia britânica.

Mas qualquer tentativa americana de aplicar o acordo no caso será delicada, já que Pequim tem a possibilidade de vetar uma extradição quando envolve a "defesa, assuntos estrangeiros, interesse público ou política" da China.

Em um comunicado divulgado após a revelação da identidade de Snowden, o gabinete do diretor de inteligência nacional, James Clapper, afirma que o tema foi enviado ao Departamento de Justiça".

"A comunidade de inteligência está atualmente avaliando os danos provocados pelas recentes revelações", afirma o texto.

O Departamento de Justiça confirmou a abertura de uma investigação pelos vazamentos, mas não fez outros comentários.

"Não tenho intenção alguma de me esconder porque sei que não fiz nada errado", disse Snowden na entrevista ao Guardian.

Mas ele também declarou não acreditar que voltará para casa.

Ex-técnico da CIA, Snowden trabalhou durante quatro anos na NSA como funcionário de várias empresas terceirizadas, incluindo Dell e a consultoria Booz Allen Hamilton, seu último empregador.

"Meu único objetivo é informar a população sobre o que está sendo feito em seu nome e o que se faz contra", disse para justificar sua atitude.

Há três semanas, ele deixou a namorada, com a qual desfrutava uma vida cômoda no Havaí, para viajar a Hong Kong, antes de provocar o vazamento de informações confidenciais.

"Estou disposto a sacrificar tudo isto porque não posso, em minha alma e meu coração, permitir que o governo dos Estados Unidos destrua a vida privada, a liberdade da internet e as liberdades fundamentais de todo o mundo com este enorme sistema de monitoramento que está sendo realizado secretamente", disse.

Vazamentos publicados pelos jornais The Washington Post e The Guardian revelaram a existência do PRISM, um programa para compilar rastros deixados na internet por pessoas fora dos Estados Unidos.

Os jornais também revelaram que a NSA acessa desde 2006 registros das horas e da duração das ligações telefônicas realizadas nos Estados Unidos, como parte de uma operação para monitorar e compilar dados com o objetivo de antecipar planos terroristas.

"A vigilância eletrônica é uma ferramenta chave para garantir a segurança da nação", afirmou no domingo o diretor nacional de inteligência, James Clapper.

Ele destacou a eficácia dos programas no combate ao terrorismo, afirmou que eram legais e estavam submetidos a uma ampla supervisão dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

Entrevistado no domingo pelo canal ABC, o jornalista Gleen Greenwald, do Guardian, um dos que revelou os programas de espionagem eletrônica, denunciou a intenção de "intimidar os jornalistas e suas fontes".

"Cada vez que um jornal menciona algo que o governo esconde, que os dirigentes políticos não querem que as pessoas saibam, fazem o mesmo: atacam os meios de comunicação", disse Greenwald.

"Cada vez que alguém revela ações ruins do governo, a tática consiste em demonizá-lo e apresentá-lo como traidor", disse o jornalista.

Muito severo na luta contra o vazamento de informações confidenciais, o governo de Barack Obama enfrentou muitas críticas em maio, depois da divulgação das atividades sem precedentes de rastreamento dos registros telefônicos da agência de notícias americana AP.

Um veterano da CIA, John Kiriakou, foi condenado em janeiro a dois anos e meio de prisão por ter revelado o nome de um agente secreto envolvido em interrogatórios sensíveis de supostos membros da Al-Qaeda.

E na segunda-feira passada teve início o julgamento do soldado Bradley Manning, em um tribunal militar. Ele pode ser condenado à prisão perpétua por ter repassado milhares de documentos secretos ao site WikiLeaks.

O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, está refugiado na embaixada do Equador em Londres para evitar uma extradição à Suécia, onde é acusado de crimes sexuais.

Ele teme que a extradição para Estocolmo seja o primeiro passo para uma transferência posterior aos Estados Unidos.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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