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Ásia

Escola é fechada após aparição sobrenatural na Malásia

2 mai 2016 - 10h04
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Várias escolas da cidade de Kota Bharu, capital de Kelantan, no norte Malásia, registraram nas últimas semanas fatos estranhos, um fenômeno que a imprensa local atribuiu a "fatos sobrenaturais", mas que para os especialistas é produto de algo muito real: a histeria coletiva.

Na semana passada, mais de cem pessoas, entre alunos e professores, sofreram desmaios, vômitos e ataques de ansiedade após a aparição de uma "silhueta preta sobrenatural" no colégio SMK Pengkalan Chepa 2.

"Não me surpreende que os surtos tenham acontecido em escolas islâmicas da zona rural da Malásia. É região religiosamente mais conservadora, com uma arraigada crença nos espíritos, e cujas doutrinas a respeito são mais rígidas", disse à Agência Efe o sociólogo americano Robert Bartholomew.

A escola foi fechada por três dias para que clérigos islâmicos recitassem versos do Corão dentro do colégio e os 'bomohs' (xamãs) afugentassem os 'pontianak', nome como os fantasmas são conhecidos da mitologia local.

Uma das alunas garantiu que ficou com as mãos dormentes e que a cabeça dava voltas. Outra disse ter sentido uma "pesada presença" em cima do seu corpo, em entrevista à rede "BBC".

"A imprensa e as redes sociais se encarregaram do restante e contribuíram para o efeito dominó", explicou o pesquisador, esclarecendo que os sintomas de histeria aparecem em pessoas "absolutamente saudáveis", mas com níveis "severos" de estresse mental.

A Universidade Pahang da Malásia começou a vender em maio do ano passado um kit anti-histeria que contém sal, spray de pimenta, limão e pinças de madeira, entre outros artigos, para "espantar os espíritos malignos".

"Os muçulmanos acreditam que estes ingredientes de uso diário protegem dos demônios e dos que fazem rituais supersticiosos, embora o kit também contenha compostos químicos menos comuns, como cloreto de sódio e ácido fórmico", argumentou o criador da invenção, o professor Mahyuddin Ismail.

Segundo Ismail, durante mais de 20 anos este tratamento foi utilizado por hospitais "prestigiados", como o Manarah Islamic Treatment Centre, que declararam sua "alta efetividade".

"Quando lançamos o protótipo no ano passado, muitos questionaram, mas depois do aumento no número de casos nas últimas semanas outros muitos estão me pedindo ajuda", afirmou ele, apesar de reconhecer que alguns médicos e psiquiatras não aceitam como válido o componente sobrenatural.

O sociólogo americano ironiza e duvida da efetividade do kit.

"Para mim, faria mais sentido se isso fosse acompanhamento da minha comida chinesa. Estamos no século XXI. Penso o mesmo a respeito dos 'bomohs'. Fechar um colégio e pedir para que um curandeiro vá até lá para solucionar a questão não faz mais do que legitimar que há algo sobrenatural nos surtos, quando não há", defendeu Bartholomew.

As instituições de ensino da Malásia são as que mais encomendaram o kit feito por Ismail, que custa 499 ringgits malaios (mesmo valor em reais) e teve o respaldo do Ministério da Educação, que apoiou o lançamento oficial.

A definição científica da histeria coletiva, ou Doença Psicogênica em Massa, diz que se trata de uma situação na qual uma pessoa experimenta sintomas de uma doença qualquer - sem causa orgânica alguma - e estes se estendem rapidamente para aqueles que estão ao redor.

Normalmente ocorre em ambientes fechados e com pessoas que convivem muito próximas. Pode acontecer em hospitais, mosteiros, ambientes industriais, mas na maioria das vezes ocorre em colégios.

"É um transtorno cujo tratamento e cura ainda não temos muita informação", disse Ismail.

A histeria coletiva foi qualificada como tal no século 18, mas existem textos datados de mil atrás que falam de 'danzig-mania' - que fazia as pessoas dançarem de forma descontrolada durante horas -, considerada por alguns especialistas um precedente da histeria.

Outros estudiosos do tema, como o escritor John Waller, já afirmaram que os surtos são cada vez mais frequentes no mundo, "de Kuala Lumpur ao México, dos Estados Unidos à Europa".

EFE   
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