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Ásia

Dois anos depois, Abbottabad luta para afastar imagem de Bin Laden

3 mai 2013 - 10h07
(atualizado às 10h41)
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Grupo de paquistaneses reza no lugar onde antigamente se encontrava a casa de Bin Laden, em Abbottabad, em 2 de maio
Grupo de paquistaneses reza no lugar onde antigamente se encontrava a casa de Bin Laden, em Abbottabad, em 2 de maio
Foto: EFE

Dois anos após ganhar fama mundial pela morte de Osama bin Laden, a pacata cidade de Abbottabad, no norte do Paquistão, quer esquecer um episódio que muitos de seus moradores continuam acreditando ser fruto de uma armação.

Cenário da operação que levou à morte do terrorista mais procurado do mundo, a cidade segue lutando para recuperar o clima de normalidade, após monopolizar a atenção mundial e se transformar em símbolo das contradições do Paquistão na luta contra o terrorismo.

A pouco mais de 100 quilômetros da capital do país, Abbottabad se encontra em uma região montanhosa que foi, durante décadas, ponto de atração do turismo local, e muitos lá continuam se negando a acreditar que o homem mais procurado do mundo viveu entre eles durante anos.

"Se quer que eu diga a verdade, a maioria aqui não acredita. As informações a respeito nunca foram claras, especialmente no início", diz um líder político e candidato ao parlamento nas eleições de maio, Javed Abbasi. "Não se entende nem o que aconteceu durante a operação, nem o que ocorreu antes", diz esse ex-vizinho de Bin Laden.

"Isso foi uma montagem. Por que nunca mostraram o corpo?", questiona Wasim, um jovem garçom que adere às várias teorias da conspiração sobre o que todos lá chamam de "o incidente".

O líder da Al-Qaeda, que com seu ataque em 11 de setembro de 2001 desencadeou a invasão do Afeganistão e a guerra mais longa dos Estados Unidos até o momento, viveu aparentemente durante seis anos nessa pequena cidade com grande presença militar.

Na madrugada de 2 de maio de 2011, 23 membros da unidade de elite da Marinha dos EUA, os Navy Seals, entraram no país a partir do Afeganistão em dois helicópteros não detectados pelos radares paquistaneses e mataram Bin Laden, para depois jogar seu corpo no mar.

A ultrasecreta operação foi perdendo a aura de mistério à medida que seus detalhes passaram a ser divulgados, com a edição de livros de alguns soldados que participaram da caça a Bin Laden e até mesmo um célebre filme de Hollywood sobre "o incidente".

A operação ordenada pela Casa Branca colocou em apuros as autoridades civis e militares do Paquistão, que se viram diante da evidência de que o terrorista mais procurado do planeta estava em seu território apesar de Islamabad negar isso durante anos.

"O que me contou um amigo que trabalha no serviço secreto é que Bin Laden morreu em decorrência de um problema renal no Afeganistão, mas que os americanos queriam uma operação para garantir a reeleição de (Barack) Obama", diz outro morador, Mukhtar Javed.

Imagem de 3 de maio de 2011 mostra pessoas ao redor da casa em que Bin Laden foi morto
Imagem de 3 de maio de 2011 mostra pessoas ao redor da casa em que Bin Laden foi morto
Foto: AFP

Javed, que trabalha em uma organização local de ajuda ao desenvolvimento, apoia a ideia de que a maioria dos moradores não acredita no que aconteceu e explica que a operação teve um impacto muito negativo sobre o turismo, grande fonte de recursos da cidade. "Nos trouxe má fama, e isso afetou negativamente a chegada de visitantes", avalia Javed.

Assim como ele, outros moradores relatam que os turistas começaram a procurar outras cidades mais ao norte e que, mesmo dois anos depois, Abbottabad não voltou a ser o que era.

Essa cidade com cerca de 1 milhão de habitantes abriga diversas instalações militares, entre elas a principal academia do Exército, e as agências de segurança ainda monitoram os movimentos ao redor das instalações militares.

As autoridades tentaram apagar o rastro do "incidente" para pôr fim à chegada de curiosos e caçadores de lembranças sobre o ex-líder da Al-Qaeda e, em troca, criar outros atrativos, como um parque de atrações.

"O parque será construído, mas agora há um problema judicial com os terrenos e não sabemos quando as obras poderão começar", disse o candidato Javed Abbasi, que defende os benefícios que a instalação levaria para a cidade e seus arredores.

No entanto, muitos moradores, acostumados ao ritmo e aos costumes da política local, que tende a fazer grandes anúncios que depois não saem do papel, veem a construção do grande parque com o mesmo ceticismo com que enxergam "o incidente".

O grande atrativo da cidade foi, por quase um ano, a casa que durante anos refugiou o homem mais procurado do mundo, mas as autoridades locais a demoliram em fevereiro de 2012 para apagar o rastro de um fato que quer ser esquecido por todo o país.

"O que nós queremos é virar a página e esquecer tudo aquilo", argumentou o candidato Javed, minutos antes de sair para um novo comício em que explicará aos eleitores como deve ser o futuro de Abbottabad.

EFE   
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