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Ásia

Curandeiros suprem falta de médicos da família nas Filipinas

15 ago 2011 - 10h00
(atualizado às 11h01)
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Os curandeiros tradicionais filipinos, que empregam as mesmas técnicas desde os tempos pré-hispânicos, são uma espécie de médicos da família dos mais pobres, incapazes de pagar por uma consulta e remédios.

Com uma mistura de massagens, métodos ancestrais e superstições religiosas, os chamados "hilot" garantem que além de eliminar dores ósseas e musculares, também curam gripe, baixam febre e tratam pessoas que sofrem de várias doenças.

Para um grande número de famílias essa é a única opção, já que os preços dos remédios nas Filipinas, um dos países mais pobres da Ásia, são os segundos mais caros do continente, só superados pelos do Japão.

"Vem muita gente pobre, portanto não cobramos nada de ninguém, simplesmente quem pode me dá algo e quem não tem condições não paga nada", conta à agência Efe Cipriano de la Cruz, um conhecido curandeiro da província de Pampanga, a 80 km ao norte de Manila.

Sentado sobre uma cama simples de madeira colocada em frente à porta de sua casa, com um cigarro pela metade preso entre os lábios, De la Cruz recebe um paciente atrás do outro, a maioria moradores do humilde bairro em que vive.

"Sempre trago minhas crianças ao 'hilot' quando têm febre, assim não preciso gastar com médicos e remédios", conta Catherine, uma mulher de 28 anos preocupada com a febre alta do filho de dois anos, caçula de quatro crianças.

O curandeiro coloca as mãos na cabeça e as costas da criança e pressiona em diferentes pontos por alguns minutos, até o tratamento surtir o efeito desejado.

"Toco a cabeça deles e rezo, então começam a suar e em pouco tempo já se sentem melhor", aponta De la Cruz, quem confessa nunca ter ido ao médico desde o seu nascimento, 63 anos atrás.

"Uma médica que vive perto daqui costuma vir quando seus filhos têm algum problema. Outras pessoas me pedem que eu vá ao hospital curá-los, e também há fisioterapeutas que trazem seus pacientes quando não encontram solução para suas lesões", relata.

Os 'Hilots' - palavra que no idioma tagalo também significa massagem ou massagista - garantem que seus conhecimentos só são transmitidos de um membro para outro da mesma família.

"É muito raro que alguém de fora da família tenha o dom, já tentei ensinar para muitas pessoas, mas ninguém aprende. Só meu cunhado aprendeu um pouco", diz De la Cruz.

O gradual desaparecimento de curandeiros-massagistas contribuiu para que em quatro décadas, De la Cruz tenha colocado em prática seus métodos de cura "mais de 1 milhão de vezes".

"A cada dia tenho ao menos 30, 40 pacientes, mas algumas vezes passa de cem. Nos dias de maior trabalho não consigo dormir antes da meia-noite, fico exausto. Às vezes, quando viajo para minha província natal me escondo porque as pessoas fazem fila para que os cure e ao final isso me deixa muito cansado", confessa.

Entre seus pacientes, o curandeiro conta ter tratado do ator e candidato à Presidência Fernando Poe.

Apesar de realizar curas diariamente, admite que seus métodos são ineficazes em doença como diarreia, desidratação, câncer e cegueira.

Além de suprir a função de um médico, alguns destes "hilot" garantem ser capazes de fazer exorcismos dos "maus espíritos" que se apossam de corpos de filipinos.

Enquanto descreve os espasmos que sofrem os supostos possuídos aos que tratou, De la Cruz mostra uma folha de papel com o desenho de um triângulo, inscrições em latim e referências à religião católica e começa a ler.

"Uso palavras latinas para expulsar os espíritos malignos. Contra eles emprego esse idioma, é como se jogasse fogo pela boca. Sempre começo o ritual com rezas latinas, isso me dá força, aprendi com um "hilot" há muitos anos e não me esqueci nunca mais", comenta orgulhoso.

Embora seja de religião católica, não considera necessário pedir permissão a nenhum estamento para realizar essas práticas. "Por que haveria de fazê-lo? Tenho mais poder do que os padres", afirma.

EFE   
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