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Ásia

Conflitos entre governo e minorias afastam a paz na nova era de Mianmar

25 fev 2015 - 06h11
(atualizado às 06h11)
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Conflitos armados entre o governo de Mianmar, a antiga Birmânia, e as minorias étnicas, especialmente os kokang e os kachin, afastam as esperanças de alcançar a paz - possibilidade que desencadeou um processo de reformas política, social e econômica, iniciado em 2011 no país.

O governo de Mianmar declarou estado de exceção e lei marcial na semana passada na região de Kokang, depois de mais de vários dias de combates entre o exército e a guerrilha kokang, agrupada sob o nome de Exército da Aliança Nacional Democrática de Mianmar (MNDAA - sigla em inglês).

Há mais de seis décadas as minorias étnicas reivindicam maior autonomia ou independência, mas existe uma confusão sobre os motivos que levaram ao recomeço das hostilidades na região de Kokang.

Desde então, houve pelo menos 50 mortes e mais de 30 mil pessoas se tornaram deslocados ou refugiados - muitos cruzaram a fronteira com a China.

Alguns veículos, como o jornal impresso "Irrawaddy" e a rádio "Voz Democrática de Mianmar", afirmaram que Peng Jiasheng, um antigo líder do MNDAA, está por trás dos ataques da guerrilha kokang. Peng fugiu em 2009 após um enfrentamento com o exército birmanês.

"É difícil dizer, mas o enfrentamento acontece em parte em função de conflitos internos entre diferentes clãs em Kokang e em parte porque o MNDAA quer ser visto como um exército étnico genuíno", disse à Agência Efe Bertil Lintner, jornalista especializado em Mianmar.

Há seis anos, os militares birmaneses foram atrás de Peng - conhecido traficante de drogas e antigo protegido do regime militar - aparentemente por ter se recusado a participar de sua guerrilha, em um corpo de guardas de fronteiras sob o comando do exército.

Kokang é um grupo étnico de origem chinesa que possui laços estreitos com outras minorias, como os kachin, shan e wa e recebeu ajuda da guerrilha ta'ang nos últimos enfrentamentos. Durante anos, este grupo liderou o Partido Comunista da Birmânia, até sua dissolução, em 1989.

As autoridades birmanesas também mantêm um conflito armado desde 2011 contra a guerrilha do Exército para a Independência Kachin (KIA), após romper o cessar-fogo vigente desde 1994.

De acordo com as Nações Unidas, o conflito já causou dezenas de mortes e estupros e fez com que cerca de 100 mil pessoas se deslocassem e/ou refugiassem.

Segundo Lintner, há uma "incompatibilidade" entre a agenda das minorias étnicas e do governo, que alimenta um conflito que remonta à década de 40.

O Executivo de Mianmar exige o estabelecimento de um cessar-fogo antes de chegar a acordos políticos, enquanto as minorias étnicas exigem um consenso político antes de assinar a paz, o que inclui a criação de um estado federal.

"No entanto, os militares - que estão por trás do governo - veem o federalismo como o primeiro passo para a desintegração do país e, portanto, o consideram inaceitável", disse o especialista em um artigo no "Irrawaddy".

Lintner acredita que Mianmar deveria adotar um modelo de estado federal similar ao da Índia e com o espírito do Acordo de Panglong, assinado em 1947 entre diversas minorias étnicas e Aung San - herói da independência e pai de Aung San Suu Kyi, política de oposição birmanesa e ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 1991.

No entanto, Suu Kyi, liberada em 2010 após passar mais de 15 anos em prisão domiciliar com períodos pontuais de liberdade, "não disse quase nada durante os cerca de quatro anos de guerra no estado de Kachin", declarou o jornalista, que nos anos 80 passou 24 meses com os kachin.

A principal reivindicação de praticamente todas as minorias étnicas birmanesas é a maior autonomia. Tais minorias incluem o shan, karen, rakhine, mon, chin, kachin e kayah, que representam mais de 30% dos 53 milhões de habitantes do país.

Depois de quase meio século sendo governada por militares, em 2011, Mianmar começou um processo de reformas políticas, econômicas e sociais ditadas pelo governo civil ligado ao regime anterior.

EFE   
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