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Ásia

Campos de concentração norte-coreanos têm mais de 200 mil presos

31 mai 2013 - 10h28
(atualizado às 10h37)
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"Meus seis irmãos, se continuam vivos, estão encarcerados em um campo de concentração", lamenta uma norte-coreana de 66 anos refugiada em Seul que indaga em vão há quatro décadas o paradeiro de sua família através dos sinistros gulags do regime dos Kim. A organização "Free the North Korean Gulag" assegura que na Coreia do Norte existem atualmente cinco campos de concentração nos quais se encontram reclusas cerca de 200 mil pessoas.

Sob o nome fictício de Kwang-sun, esta refugiada que chegou a Seul há dez anos relata sua trágica história, marcada pela busca de seus entes queridos desde que em uma tarde de maio de 1969, quando estava na universidade, recebeu uma carta que lhe comunicava a detenção e desaparecimento de seu pai.

"Fui ao escritório de segurança local perguntar de que era acusado, mas ninguém me deu uma resposta. Só me disseram que o tinham levado a um campo de trabalho", lembra a desertora, uma dos mais de 25 mil norte-coreanos que nas últimas seis décadas conseguiram completar a dura travessia ao Sul.

No final dos 70 e após anos de indagações sem sucesso, Kwang-sun se casou e abandonou sua cidade natal no condado de Onsong no extremo setentrional norte-coreano para instalar-se com seu marido, um marinheiro, em uma cidade pesqueira do sudeste do país. Ali foi onde recebeu a notícia mais trágica.

"Em 1981 detiveram meus cinco irmãos, de 13 anos o menor deles, e minha irmã durante um expurgo para eliminar supostos elementos subversivos", conta a refugiada.

Suas investigações a levaram nesta ocasião até um dos motoristas que revelou ter transferido os prisioneiros ao campo 12, no nordeste do país, perto da fronteira com a Rússia e com a China.

Por serem filhos de um condenado, os irmãos de Kwang-sun sofreram o "castigo por três gerações", com o qual o regime norte-coreano estigmatiza os descendentes de quem considera "traidores da pátria" e condena crianças a passar o resto de suas vidas nos confines delimitados pelas cercas electrificadas dos gulags.

Esta situação é denunciada habitualmente por organizações como a Anistia Internacional, grupo que na semana passada lembrou em seu relatório anual que existem "constantes violações dos direitos humanos, execuções extrajudiciais, trabalhos forçados e torturas" aos prisioneiros nos campos norte-coreanos.

Campos cuja existência é negada pelo governo da Coreia do Norte, que acusa quem os denuncia de seguir uma campanha orquestrada pelos Estados Unidos e pela Coreia do Sul para difamar o regime socialista mais ortodoxo do mundo no qual todos os moradores, garantem, vivem em um permanente estado de felicidade.

Recentemente, um norte-coreano que retornou a sua pátria após desertar do Sul assegurou na televisão estatal do Norte (KCTV) que o governo da Coreia do Sul utiliza atores e atrizes que simulam serem refugiados do país vizinho para fabricar histórias como a dos gulags como método propagandístico contra Pyongyang.

É a versão da Coreia do Norte, cujo inescrutável hermetismo torna impossível apresentar provas definitivas que demonstrem a existência dos campos de concentração e, com isso, dificulta o trabalho das ONGs que tentam denunciar esta opaca realidade.

"Além dos testemunhos dos refugiados, as imagens (distantes) de satélite são a única evidência dos campos de prisioneiros", disse Joo Ji-eun, gerente da "Free the North Korean Gulag", enquanto mostra mapas e listas de prisioneiros criados pela organização a partir dessas duas fontes.

Joo descreve os gulags norte-coreanos como "lugares de onde não há retorno", dos quais até agora só um prisioneiro, Shin Dong-hyuk, conseguiu escapar para contar sua história. Relatada com detalhe no livro "Fuga do Campo 14" (2012), foi levada ao cinema no mesmo ano sob o título "Campo 14: Zona de Controle Total".

Shin, nascido em 1982 no campo de concentração 14 do qual fugiu com 23 anos, conta que presenciou a execução de seus familiares e foi submetido a constantes humilhações e torturas que chegaram a deformar sua pele e articulações.

Ao escutar testemunhos como este, a fugitiva Kwang-sun não pode conter as lágrimas ao pensar que seus seis irmãos talvez estejam experimentando uma situação similar ou a tenham sofrido até a morte durante duas décadas.

EFE   
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