O avião da Malaysia Airlines que está desaparecido desde a última sexta-feira, 7 de março, pode ter sido alvo de ataque terrorista, segundo o comandante e professor da Faculdade de Ciências Aeronáuticas da PUCRS, Paulo Villas Boas. Em entrevista ao Terra, o professor, que tem mais de 18 mil horas de voo e 34 anos de experiência em aviação, disse que acredita que a teoria de terrorismo não pode ser descartada, já que alguns acontecimentos corroboram para este fato. O comandante nega outras hipóteses levantadas, como aquela em que acredita-se em um pouso do avião em “algum lugar do planeta”, ou da captura do “Boeing por óvnis”. Leia a íntegra da entrevista exclusiva de Paulo Villas Boas.
O que o senhor acredita que aconteceu com o avião?
Eu não tenho nenhuma teoria, porém, baseado nos fatos apresentados, posso formular uma hipótese, corroborando com o comentário da CIA, de que pode ter sido um ato de terrorismo. Segundo informações, o transponder [dispositivo que emite um sinal de radar que envia informações de inscrição e determina a posição da aeronave, altitude e velocidade na tela do controlador] foi desligado 50 minutos depois da decolagem e, aparentemente, o avião pode ter mudado de rota.
Não é comum o transponder ficar desligado, pois a aeronave tem dois aparelhos: se um estraga, o outro entra em ação. É quase impossível os dois estarem estragados. É um indício de terrorismo. Ao mesmo tempo em que pode ter sido isso, não há destroços, o que é quase impossível. Temos pouquíssimas informações, mas acho que tudo corrobora mais com isso.
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O Boeing 777 é um dos mais seguros do mundo. Que tipo de falha poderia causar o desaparecimento da aeronave?
É um avião muito moderno, muito seguro, como são outros aviões da Boeing. Não acredito em uma falha inesperada de controlabilidade [propriedade importante de um sistema de controle, para desempenho em problemas de controle, tais como a estabilização de sistemas instáveis].
A CIA ter dito que pode ter sido um atentado terrorista, corrobora. Claro, quando uma agência de inteligência fala isso, não sabemos se é uma opinião ou uma informação plenamente fundamentada em dados, pois a exposição de dados poderia comprometer a investigação, mas isso já nos deixa de sobressalto. O avião mudou a posição de rota e o transponder foi desligado. Por que não há destroços? Isso não saberia explicar.
Animação: o desaparecimento do Boeing da Malaysia Airlines:
Em uma reportagem especial sobre o caso, a revista Wired coloca, que, em casos de extrema urgência, comandantes são ensinados a tratar como prioridade a resolução do problema, e só depois, comunicar o ocorrido. É este o procedimento?
Sim, mas esses procedimentos de emergência na aeronave levam apenas alguns segundos. As emergências mais graves em aviões estão todas previstas em um checklist, sendo que, para casos muito urgentes, alguns itens devem ser decorados. Assim, mesmo os procedimentos para situações graves, levam, em média, de 30 segundos a 1 minuto para serem realizados, a menos que tenha sido alguma explosão súbita; inclusive tem uma expressão internacional para isso que é “Mayday, Mayday, Mayday” [chamada radiotelefônica de emergência ou socorro, do francês m'aider ou m'aidez, que significa "venha me ajudar"]. Depois desse período, o piloto consegue se comunicar no rádio e explicar alguma coisa.
Numa emergência muito grave, o piloto pode usar o rádio, tendo condições de resolver de maneira instantânea. São sempre dois pilotos: um faz a manobra e as ações iniciais e o outro se comunica no rádio. Na minha opinião, é mais um indício de que não houve uma emergência, evidenciando um possível ato de terrorismo, como em 11 de setembro. É difícil dar um prognóstico.
Aviões deste porte tem um localizador de sinal de emergência que a tripulação pode acionar fácil e rapidamente. Qual seria a explicação para esse dispositivo não ter sido acionado?
Sim, ELTs (Emergency Locator Transmitters). No caso de um impacto da aeronave, pelo sistema de GPS, em desaceleração violenta, ele liga. Utiliza-se mais para o sistema de rastreamento, mas se sofrer um impacto violento, pode ser danificado, destruído. Dentro da água é muito mais difícil de perceber as ondas de identificação, pois elas enfraquecem bastante. Em águas profundas, já não se recebe o sinal.
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Outras teorias dão conta de que o avião poderia ter pousado em algum lugar do planeta ou até ter sido “interceptado por um objeto não identificado”. O que acha disso
Não acredito que possa ter pousado em outro lugar. É impossível. Hoje em dia não tem um lugar que não seja conhecido no planeta. E outra coisa: nós temos dezenas de satélites espiões (EUA, Rússia, China) que são capazes de fotografar uma bola de golfe no chão. Os satélites estão rastreando, ninguém fala sobre isso, mas eles estão ativos. Seria impossível não fotografar um Boeing 777 pousado em algum lugar. E quanto aos óvnis, eu tenho 18 mil horas de voo e 34 anos de aviação, e jamais vi nada. Já vi meteoros, satélites, mas, nada além disso. Não corroboro com essa teoria.
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É verdade que as aeronaves saem do alcance do radar a 150 milhas da costa? Isso pode ter acontecido com o voo da Malaysia Airlines?
Nós temos radares que têm um alcance limitado, correspondendo à curvatura da Terra, que emite ondas de alta frequência. Há vários radares ali na península de Malaca. Olhei no mapa e acho que aquela área tem número suficiente, ou seja, a rota da aeronave estaria sempre sob a cobertura de radar. Pode haver um ponto cego, mas não tenho certeza. No meio dos oceanos Pacífico ou do Atlântico não há radar, mas naquela região, sim.
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Quais são as orientações que a tripulação recebe como prevenção e ações em um ato de terrorismo?
As cabines são blindadas, caso haja ameaça terrorista, não se pode deixar ninguém entrar na cabine. Há códigos para aceder à cabine, uma palavra e uma senha; há uma série de requisitos para evitar [entradas indesejadas]. Porém, todos os procedimentos têm uma brecha, nunca sabemos. Por uma característica cultural, os orientais costumam seguir os procedimentos à risca. São muito rigorosos. As empresas asiáticas costumam cumprir os procedimentos na íntegra, inclusive os antiterroristas. Por exemplo, as empresas coreanas de aviação recomendam que, após um voo, o piloto vista roupas civis ao voltar pra casa, evitando sequestros ou eventos similares.
Malaysia Airlines: buscas por avião desaparecido são ampliadas:
A Boeing oferece um avançado sistema chamado Airplane Health Management que fornece solução de problemas e monitoramento de voos em tempo real, mas esse sistema não estaria sendo usado pelo voo MH370. Se o sistema estivesse em uso, as coisas poderiam ter acontecido de maneira diferente? Poderíamos saber onde está o avião?
No caso da Air France [voo AF447 desapareceu no Atlântico por duas semanas, quando fazia o trajeto Rio de Janeiro - Paris, em junho de 2009], algumas informações foram passadas a Toulouse por meio desse sistema. O fato de que o aparelho estava desligado, vai dificultar muito as buscas. Esse serviço não é obrigatório, é a empresa que opta por tê-lo. É mais caro, sofisticado, no entanto, a parte de transmissão até poderia estar em pane, mas a de registrar não, pois isto impediria a decolagem. Cada vez mais as empresas seguem os requisitos dos órgãos governamentais. Nenhuma empresa sai com um aparelho crucial em pane.
Há a hipótese de que possa ter havido uma descompressão explosiva na aeronave. Quais seriam as chances disso acontecer com o voo da Malaysia Airlines? O que isso poderia ter provocado?
Numa descompressão comum, o piloto tem tempo de reagir, mas a descompressão explosiva pode ser causada por uma bomba ou uma falha estrutural, o que considero muito difícil. A última vez que houve uma falha estrutural foi em 1988, no Havaí, [o Boeing 737-297 da Aloha Airlines sofreu um grande dano após uma descompressão explosiva em pleno voo, quando o teto do avião foi arrancado, e, mesmo assim, os pilotos pousaram sem problema, eu acho que no aeroporto de Kahului, em Maui]. É muito pouco provável haver uma falha estrutural, porque o histórico não mostra um evento dessa natureza.
Parentes aguardam notícia de avião desaparecido na Ásia; veja fotos
24 de março - Membro da família de um passageiro a bordo do vôo MH370 da Malaysia Airlines chora depois de assistir a transmissão da entrevista coletiva, em que o governo malaio confirmou que o avião caiu no oceano Índico. Foto tirada no hotel Lido, em Pequim, na segunda-feira, 24 de março
Foto: AFP
24 de março - Membro da família de um passageiro a bordo do vôo MH370 da Malaysia Airlines chora depois de assistir a transmissão da entrevista coletiva em que o governo malaio confirmou que o avião caiu no oceano Índico. Foto tirada no hotel Lido, em Pequim, na segunda-feira, 24 de março
Foto: Reuters
9 de março - Familiares confortam Chrisman Siegar, a esquerda, e sua esposa Herlina Panjaitan, parentes de Firman Siregar, um dos passageiros do voo MH370 da Malaysia Airlines, desaparecido desde a noite de sexta-feira, em sua residência em Medan, Sumatra do Norte, na Indonésia
Foto: AP
9 de março - Familiares de passageiros do vôo desaparecido da Malaysia Airlines choram no hotel Putrajaya, na Malásia, onde as famílias aguardam informações e recebem assistência
Foto: AP
Parentes choram ao sair do local onde familiares e amigos dos passageiros do avião da Malaysia Airlines estão sendo recepcionados, no aeroporto de Kuala Lumpur, na Malásia
Foto: AP
Parentes reclamam da falta de informações de companhia aérea Malaysia Airlines
Foto: Reuters
8 de março - Familiares dos passageiros que estavam no vôo aguardam informações sobre o desaparecimento da aeronave
Foto: AP
Uma mulher, aos prantos, é ajudada por funcionários do aeroporto de Beijing, onde parentes dos passageiros do avião da Malaysia Airlines esperam por notícias
Foto: AP
8 de março - Porta-voz da Malaysia Airlines, a direita, fala com a imprensa em hotel em Beijing, China
Foto: AP
Boeing 777 da Malaysia Airlines, que desapareceu das telas de controle de tráfego aéreo nas primeiras horas deste sábado, transportando 239 pessoas. O vôo ia de Kuala Lumpur, na Malásia, para Pequim. Foto de dezembro de 2011
Foto: AP
Uma mulher, cercada pela mídia, cobre o rosto em sua chegada em um hotel que está preparado para receber parentes e amigos dos passageiros a bordo do avião desaparecido. Pequim, China, sábado, 8 de março
Foto: AP
Ahmad Jauhari Yahyain, executivo-chefe da Malaysian Airlines Group, fala durante uma coletiva de imprensa em um hotel em Sepang, arredores de Kuala Lumpur, Malásia, neste sábado, 8 de março
Foto: AP
O primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak, ao centro, chega à área de espera para a família e amigos de passageiros do vôo da Malaysia Airlines MH370, no aeroporto internacional de Kuala Lumpur, neste sábado, 8 de março
Foto: Reuters
12 de março - Famílias chinesas arremessaram garrafas de água em autoridades, durante entrevista coletiva, na manhã de 12 de março, em Pequim
Foto: Nine Networks / Reprodução
Parentes de passageiros esperam por novas informações em hotel de Pequim nesta terça-feira. Há ameaças de greve de fome para expressar sua raiva a desapontamento com o modo como a situação tem sido conduzida pelas autoridades
Foto: AFP
18 de março - Parentes ameaçaram, onze dias após o sumiço de avião, a fazer greve de fome como forma de expressar raiva a desapontamento com o modo como a situação tem sido conduzida pelas autoridades
Foto: AFP
Em uma folha de papel mostrada para a imprensa, uma mulher, parente de um dos passageiros, pediu o retorno dos familiares e respeito pela vida
Foto: AP
"Nós não temos informações, e todo mundo está compreensivelmente preocupado, afirmou Wen Wanchen, cujo filho estava no avião
Foto: AP
18 de março - Familiares sem notícias disseram que, caso seja necessário, vão até a embaixada malaia para saber informações sólidas. Eles ameaçaram greve de fome nesta terça-feira
Foto: AP
Um membro da família de passageiro a bordo no avião desaparecido grita durante visita de oficiais da companhia ao hotel. Parentes se dizem revoltados com autoridades e com falta de notícias
Foto: Reuters
Parentes de passageiros acompanham o noticiário local para saber mais informações sobre o desaparecimento
Foto: Reuters
Homem mostra papel para a imprensa com mensagem das famílias dos passageitos que amaeaçaram greve de fome em 18 de março
Foto: Reuters
22 de março - Um parente de passageiro chinês do voo do Boeing 777 protestou contra falta de respostas ao desaparecimento neste sábado. Um satélite chinês encontrou objetos ao sul do oceano Índico que podem ser de avião
Foto: AP
22 de março - Parentes aguardam notícias recentes sobre paradeiro de avião desaparecido há 2 semanas. Bebê dorme em cima de cadeiras em hotel na China
Foto: AP
22 de março - Um parente de passageiro chinês do voo do Boeing 777 protestou contra falta de respostas ao desaparecimento neste sábado. Um satélite chinês encontrou objetos ao sul do oceano Índico que podem ser de avião
Foto: AP
22 de março - Parentes dos passageiros acompanham notícias no hotel em Pequim, China. Um satélite encontrou rastros de objetos ao sul do Oceano Índico neste sábado que podem ser pista de avião desaparecido desde 8 de março
Foto: AP
22 de março - Criança com camiseta "Reze pelo MH370" em aeroporto de Kuala Lumpur, na Malásia
Foto: AP
24 de março - Os familiares de passageiros a bordo do vôo MH370 da Malaysia Airlines gritam a choram após assistir à transmissão da entrevista coletiva em que o governo da Malásia confirmou que a aeronave caiu no oceano Índico e que não haveria sobreviventes