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Ásia

Autoridades chinesas exigem rendição do povo de Wukan

16 dez 2011 - 11h18
(atualizado às 11h40)
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As autoridades de Wukan, um pequeno povoado pesqueiro da China que se rebelou contra os líderes comunistas, exigiram nesta sexta-feira aos moradores que se rendam, enquanto eles lembraram o líder que morreu sob custódia policial, motivo que originou os protestos.

"O Governo se mostrará clemente com o rendimento de forma honesta", afirmou o prefeito de Shanwei, município onde se encontra Wukan, citado pela agência China News, que também mostrou sua determinação a "reprimir os que cometeram o crime de exaltar seus habitantes".

Frente a estas ameaças, o pequeno povoado de 20 mil habitantes, literalmente sitiado pelas autoridades, com cercas e controles policiais em seus acessos por estrada para cortar a provisão de alimentos, celebrou nesta sexta-feira uma cerimônia de homenagem ao líder dos protestos que morreu, Xue Jinbo.

Fotos publicadas em fóruns chineses na internet, embora a censura tente impedir a divulgação do protesto na rede, mostram os manifestantes levando fotografias de Xue junto a cartazes nos quais se leem frases como "sacrificou sua vida pela terra".

Inclusive crianças e adolescentes levavam cartazes com as reivindicações dos moradores de Wukan, com lemas como "devolva-nos a terra para sobreviver" e "queremos sinceridade".

De acordo com o jornal independente South China Morning Post, cerca de 7 mil moradores, quase um terço da população, participaram da cerimônia de homenagem a Xue, um açougueiro de 42 anos eleito junto a outros moradores como representante do povo no conflito, e que morreu no dia 11 de dezembro em uma delegacia.

Sua família afirmou que seu cadáver mostrava sinais de ter sido golpeado e torturado, com ferimentos e ematomas. De acordo com as autoridades, as autópsias apontam que as manchas na pele são um fenômeno normal após a morte, e os ferimentos foram causados por "uso ligeiro da força" durante a detenção.

Os moradores de Wukan também mostraram preocupação com outros quatro líderes dos protestos que estão detidos. As autoridades divulgaram um vídeo de um deles, Zhang Jiangcheng, no qual ele afirma que "come e dorme bem" e aconselha deixar os rumores de lado.

O conflito é em torno de um terreno de 33 hectares que foi cedido em 1997 a um homem de negócios de Hong Kong para construir uma fazenda de porcos e que este ano foi revendido a uma empresa sem o consentimento dos moradores.

Além disso, eles se queixam de não ter recebido compensação alguma pela concessão desse terreno nos anos 90 e há três meses protagonizam manifestações de protesto, que chegaram a originar ataques a veículos policiais e edifícios do Governo local.

O conflito de terras, motivo frequente de tensões na China, adquiriu esta semana dimensões de revolta após a morte de Xue e depois que os moradores de Wukan conseguiram expulsar os líderes comunistas do povoado e fecharam os acessos por estrada à localidade com troncos e pedras.

A poucos quilômetros, a Polícia montou suas próprias cercas, e algumas testemunhas afirmam que em Wukan começa a ter sinais de escassez de alimentos.

A cada ano, de acordo com o Governo da China, há cerca de 180 mil "incidentes sociais", como denomina Pequim, e calcula-se que 65% estão relacionados com expropriações de terras e edifícios, às vezes de forma ilegal e realizados por Governos locais corruptos.

EFE   
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