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Ásia

Aulas de paz em uma região cheia de conflitos

2 nov 2015 - 09h59
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A Universidade Acadêmica da Não Violência e dos Direitos Humanos (AUNOHR) recebeu a autorização do governo do Líbano para a titulação oficial de 130 estudantes árabes, que cursaram os estudos deste projeto de paz em uma região repleta de conflitos.

Esta iniciativa, que funciona desde 2009 com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), é o resultado da ideia de duas figuras emblemáticas que militam no campo da paz e dos direitos humanos há mais de 30 anos, Walid Slaybi e Ogarit Younan.

"Era um sonho e uma necessidade, agora, transformados em realidade", disse Ogarit em entrevista à Agência Efe.

Embora a universidade, localizada na cidade de Dhour el Choueir, na região central do Metn, funcione desde 2009, só foi reconhecida oficialmente pelo Estado libanês em setembro de 2014.

Além disso, recentemente obteve a autorização que permite a seus estudantes receberem um diploma oficial universitário, seja de licenciatura, mestrado ou doutorado.

"Desde 2009, estamos aplicando um projeto piloto para mostrar às pessoas o que é a universidade e o que ensinamos. É algo novo para todos porque antes isso não existia em lugar algum do mundo", explicou Ogarit.

Ela defendeu que não é possível proteger uma sociedade se os conceitos da não violência e dos direitos humanos não forem introduzidos para que depois se tornem uma tradição.

"No Líbano, estamos em um momento de transição entre a guerra e a paz. Não estamos em guerra civil, como outros países árabes, onde se passou da ditadura a outros sistemas piores, por isso devemos ajudá-los através do conhecimento e da capacitação para que existam mudanças sociais", acrescentou.

Ogarit conta que o centro universitário foi criado para formar professores, membros de associações, militantes políticos, juízes e advogados. "O objetivo é que não exerçam somente a justiça, mas também a mediação em um conflito", explicou.

De acordo com ela, no caso do Líbano e de outros países, a maioria das pessoas que possui uma bagagem cultural emigra por culpa da guerra.

"Por isso, é preciso que os cidadãos que ficaram preparem a nova geração, dando a elas uma formação profissional, experiência intelectual e prática. É necessário formar novos líderes sociais nas escolas, nos meios de comunicação e no âmbito religioso. A cultura da não violência e dos direitos humanos sempre foi deixada de lado e o dinheiro foi posto à disposição da violência, das guerras, da hegemonia e das ditaduras", destacou Ogarit.

A fundadora defende a necessidade de institucionalizar a não violência e os direitos humanos, e dar diplomas em educação, cinema, filosofia política, desenvolvimento e religião para que a violência não esteja presente.

"Não é o mesmo que dar uma palestra, fazer uma atividade e depois ir embora", ressaltou.

Uma das alunas da AUNOHR é Theresia Tawk, que conta que o local é fundamental para o país e para a região, onde não há uma cultura da não violência nem dos direitos humanos.

"O que nos ensinam deve ser aplicado na realidade, embora isso vá levar algum tempo. Estamos cansados de teoria, queremos a prática e poder aplicar isso na região", acrescentou.

Na mesma linha pensa a Unesco, que colocou filósofos, cientistas e ganhadores do prêmio Nobel da Paz à disposição da universidade. São os casos de Jean-Marie Müller, Federico Mayor, Dominique Pire, Arun Gandhi e Adolfo Pérez Esquivel.

De acordo com Ogarit, 60% das disciplinas ensinadas são novas.

"Por enquanto, temos nove especializações e os alunos, com idades entre 22 e 60 anos, chegam de diferentes lugares. Eles mesmos realizam cursos ativos contando suas experiências", revelou.

Além disso, 30% dos cursos são online para que os estudantes de outros países árabes possam acompanhá-los.

As aulas são majoritariamente dadas em árabe, mas as matérias ensinadas por professores estrangeiros são em inglês ou francês e os alunos podem responder as provas em um desses dois idiomas.

Quanto aos cursos de mestrado, o título geral é de "Mestre em Cultura da Não Violência", que, por sua vez, se divide em áreas como cinema, educação, política, meios de comunicação da cultura não violenta e mediação judicial.

E com grande orgulho, Ogarit destaca que alguns estudantes já estão empregados em organismos como o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

EFE   
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