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Ásia

Acidente nuclear aumenta incidência de problemas psicológicos em Fukushima

6 nov 2013 - 06h18
(atualizado às 06h18)
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Estresse, ansiedade e medo é o que a população da região japonesa de Fukushima enfrenta por causa da incerteza sobre a radiação, mais de dois anos e meio depois de um tsunami arrasar a costa nordeste do Japão e causar o maior acidente nuclear dos últimos 30 anos.

"Desde o acidente, 57 mil pessoas abandonaram Fukushima, enquanto as que ficaram têm que conviver com a dúvida sobre sua decisão de ficar em um local não seguro, que causa estresse", explicou à Tsuyoshi Akiyama, diretor do departamento de Psiquiatria do Hospital Kanto, em Tóquio.

Akiyama participou na semana passada em Viena do Congresso Internacional da Associação Mundial de Psiquiatria, no qual palestrou sobre Fukushima.

Além dos fenômenos relacionados à contaminação radioativa derivada do acidente, o governo japonês tem que lidar com um problema de saúde pública também difícil de detectar: o aumento de transtornos mentais.

"Para esquecer a ansiedade, muita gente bebe. As taxas de alcoolismo aumentaram radicalmente, e os que não bebem caem em depressão", acrescentou Akiyama.

Segundo o especialista, estes problemas vêm da "angústia" e do "medo" que as pessoas sentem, o que levou à "construção de um estigma" que marca a vida dos que ficaram na região.

A incerteza sobre o risco que existe para os habitantes de Fukushima, o "perigo invisível" próprio de um acidente nuclear e a separação dos membros de várias famílias levaram muitas pessoas a sofrer com depressão e ansiedade.

"Muita gente vive episódios de estresse pelo medo de contaminar os outros, de comer alimentos de Fukushima e pelos rumores de que ninguém poderá sobreviver, além dos alertas para que as mulheres não tenham filhos", disse o psiquiatra. "Este estigma, no final, acaba prejudicando a saúde", ressaltou.

Junto com outros especialistas, Akiyama participa do "Projeto Fukushima", um grupo de pesquisa financiado pelo governo japonês para estudar a saúde mental dos cidadãos da região e buscar soluções que "acabem com o problema".

Diversos estudos afirmam que, após um desastre natural, a saúde mental das vítimas pode melhorar ou se agravar com o tempo dependendo do grau de resposta e de ajuda recebida para a recuperação.

Em Fukushima, a situação atual não parece muito diferente da descrita pelos 1.495 trabalhadores da usina nuclear em um estudo realizado entre maio e junho de 2011 pela Academia Militar de Medicina do Japão.

Na época, 46,6% dos trabalhadores da usina nuclear apresentavam sintomas de estresse psicológico por terem sido obrigados a deixar seus imóveis, estado a ponto de morrer, visto as explosões de hidrogênio, e perdido os bens devido ao tsunami, além da morte de parentes e companheiros de trabalho.

Uma situação semelhante aconteceu após o acidente nuclear de Chernobyl, em 1986, na Ucrânia, quando aumentaram em 20% as mortes ligadas à saúde mental durante o ano seguinte ao desastre, segundo uma pesquisa da psiquiatra Evelyn J. Bromet, da Universidade de Stony Brook (Nova York, EUA).

No relatório, Evelyn explicou que o número de casos de estresse pós-traumático após o desastre entre as pessoas que viviam e trabalhavam em áreas contaminadas duplicou por causa da exposição à radiação.

Sobre Chernobyl, a Organização Mundial da Saúde chegou a advertir que "o impacto psicológico poderia superar as consequências radioativas diretas do acidente em termos de risco para a saúde".

"Embora o aumento da ansiedade, o consumo de álcool e a depressão sejam fenômenos compartilhados com Chernobyl, a situação não é a mesma" em Fukushima, defendeu Akiyama.

"Chernobyl aconteceu durante a era soviética, o acidente era um tabu e não se deixava que o povo falasse sobre o tema, enquanto no Japão sabemos o que houve e estimulamos as pessoas a falarem disso e tomarem consciência", afirmou.

"Realizamos tratamentos com leituras de textos e oficinas de teatro para estimular os sentimentos dos participantes", explicou.

"Buscamos estabelecer uma metodologia razoável para ajudar os habitantes a conviver com essa ansiedade, que vai existir de todas maneiras, para que possam levar uma vida saudável e que os membros da comunidade se ajudem entre si", destacou.

Apesar disso, o especialista garantiu que dentro de cinco ou dez anos os problemas mentais da sociedade não desaparecerão. Até esse momento "não haverá dados confiáveis sobre a incidência de câncer na população, por isso o medo continuará", concluiu.

EFE   
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