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Mundo

Após violência, EUA elevam pressão sobre o governo do Egito

15 ago 2013 - 19h04
(atualizado às 19h07)
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O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ampliou a pressão sobre o Egito para que as autoridades do país abandonem o uso da violência contra partidários do presidente deposto Mohammed Morsi, um dia depois de que mais de 600 pessoas terem morrido em enfrentamentos com forças de segurança em várias cidades do país.

Obama, que disse "deplorar a violência contra civis", condenou a repressão das tropas de segurança aos protestos e advertiu que o Egito seguiu por um "caminho mais perigoso".

Ele também cancelou exercícios militares conjuntos com o Egito, previstos para o mês que vem, numa primeira reação em termos práticos à violência de quarta-feira - mas não suspendeu nem reduziu o dinheiro que Washington destina anualmente ao Cairo.

"Ante os desdobramentos sangrentos no Egito, ficou claro aos governos ao redor do mundo que Exército do Egito ignorou a pressão feita nas últimas semanas para evitar mortes em massa no país", disse o analista diplomático da BBC James Robbins.

"O cancelamento de exercícios militares conjuntos é um gesto simbólico, mas não causará muitos danos ao generais no Cairo. Obama não cancelou a ajuda anual de US$ 1,3 bilhão que os EUA oferecem ao Egito, a maior parte da qual vai para as Forças Armadas. A avaliação é de que isso poderia comprometer a já relutante parceria do Egito com Israel e o frágil processo de paz discutido no Oriente Médio", explica.

ONU

O Conselho de Segurança da ONU realiza na noite desta quinta-feira uma reunião de emergência para discutir as ações dos militares egípcios contra membros da Irmandade Muçulmana.

A reunião acontece a portas fechadas. Ela foi convocada a pedido da Grã-Bretanha, da França, da Austrália e da Turquia.

Grã-Bretanha e França já haviam expressado preocupação com a matança, e a Turquia chamou o episódio de quarta-feira de "um massacre" e retirou seu embaixador do país.

Navi Pillay, alta comissária de direitos humanos da ONU, pediu uma investigação independente para apurar os fatos no Egito.

"O número de mortos ou feridos, mesmo de acordo com as contas do governo, apontam para o uso excessivo - ou mesmo extremo - da força contra os manifestantes", disse Pillay.

Protestos

As mais de 600 pessoas foram mortas na quarta-feira durante as operações das forças de segurança egípcias para desmantelar dois acampamentos de simpatizantes do presidente deposto Mohammed Morsi - o primeiro eleito democraticamente no país e derrubado por um golpe militar em julho.

Foi o dia mais sangrento no país desde a revolução pró-democracia que culminou com a queda de Hosni Mubarak, dois anos atrás. E, segundo a Irmandade Mulçumana, grupo político que apoia Morsi, o número de mortos na quarta-feira já passa de 2 mil.

Dezenas de vítimas não foram contabilizadas, e algumas estão completamente carbonizadas, segundo apurou a BBC. A reportagem esteve na mesquita de Eman, próxima a um dos principais pontos de protesto no Cairo, e viu ali 202 corpos - muitos dos quais não foram oficialmente contados.

O governo do Egito justificou a ação das forças de segurança alegando que elas estavam autorizadas a disparar em defesa própria - argumento que nesta quinta-feira foi repetido por diplomatas egípcios ao redor do mundo para explicar os desdobramentos no país.

Em anúncio transmitido pela TV na noite de quarta, o premiê interino Hazem Beblawi defendeu a operação, dizendo que ela foi necessária para restaurar a segurança no país.

Mas, no mesmo dia, representantes do governo disseram ter usado apenas gás lacrimogêneo para conter os manifestantes, apesar dos relatos indicando que muitos haviam sido alvo de tiros.

Um toque de recolher foi imposto pelo governo, que também decretou estado de emergência no país.

Apesar de esta quinta-feira ter sido mais calma, enquanto muitas famílias velavam seus mortos, as tensões continuam no país: a Irmandade Muçulmana convocou protestos no Cairo e em Alexandria, e seus simpatizantes atearam fogo EM dois edifícios governamentais nos arredores da capital, em retaliação aos eventos de quarta-feira.

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