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Analista: Ocidente usa conflito nuclear para conter poder do Irã

21 mai 2013 - 13h38
(atualizado às 13h51)
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O especialista no Oriente Médio Michael Lüders defende que o objetivo primário do Ocidente não é o controle do programa nuclear, mas sim limitar o poder do Irã na região.

Deutsche Welle - O Ocidente há muito tempo vem tentando limitar o poder nuclear do Irã através de sanções, buscando uma solução à força - com sucesso apenas parcial. A política ocidental para o Oriente Médio fracassou?

Michael Lüders - Se observarmos pela perspectiva dos que elaboraram essas sanções, elas não fracassaram, uma vez que colocam o Irã sob uma intensa pressão econômica. A esperança é que com essa pressão contra o governo e a sociedade iranianos, a população saia às ruas para expressar seu descontentamento com a piora progressiva de sua situação. Espera-se mudanças de modo indireto, ou ao menos desestabilizar o regime, forçando-o a ceder na questão nuclear.

DW - Mas nos últimos dez anos essa política não obteve grandes êxitos. A política de sanções é errada?

Lüders - Se entendermos a política de sanções como uma tentativa de trazer os iranianos à força até a mesa de negociações, então certamente ela fracassou. Analisando mais profundamente, o propósito não é bem esse. Oficialmente, essa política é uma tentativa de negociar uma solução com o Irã, mas seu objetivo real é desestabilizar o regime. Esse é o ponto crucial.

DW - Há sempre uma retórica de guerra, como as ameaças de um ataque preventivo de Israel ou dos Estados Unidos às instalações nucleares do Irã. Até que ponto isso é realista, e o que significaria para a região?

Lüders - Com certeza, é uma projeção realista. Tanto em Israel quanto nos EUA existem hardliners, da "linha-dura", que consideram a opção militar. Ao mesmo tempo, vozes moderadas dos dois países, assim como de outras nações, alertam para as consequências de uma guerra contra o Irã. Não é necessário ser um profeta para prever que um ataque ao Irã possa contagiar toda a região.

As consequências e os custos de uma agressão direta seriam tão grandes e devastadoras que quaisquer benefícios dessa iniciativa seriam insignificantes se comparados aos danos causados.

É preciso considerar que, do Marrocos à Indonésia, o Irã é o único país com uma orientação não ocidental, por isso ele está tanto em evidência.

Isso tudo tem menos a ver com as violações dos direitos humanos ou com a questão nuclear, e mais com o poder regional do Irã. Quer-se evitar o reconhecimento do país como um centro de poder geopolítico no Oriente Médio.

DW - Então há muito mais em jogo do que a política nuclear iraniana?

Lüders - Sim, se o governo de Teerã tivesse uma postura pró-Ocidente, ninguém se preocuparia com isso. No entanto, a política armamentista iraniana serve como justificativa para a pressão internacional sobre o país.

Minha impressão é que não importa quais concessões os iranianos venham a fazer, as pressões irão continuar porque as sanções têm a finalidade de desestabilizar o regime, e não obter concessões do Irã.

Se fosse apenas a questão da disputa nuclear, já se poderia ter encontrado uma solução há tempos. Mas não existe de fato a intenção de buscar uma solução para o conflito. Tanto o Ocidente quanto os iranianos se recusam a falar a mesma língua.

Já a forma como são feitas as negociações é absurda: o chamado grupo "5+1" – formado pelos países com direito a veto no Conselho de Segurança da ONU, mais a Alemanha. Na realidade, os Estados Unidos teriam de assumir o papel decisivo, mas preferem se retrair. Acaba sendo a União Europeia que assume o comando das negociações.

Na verdade, seriam necessários contatos bilaterais oficiais entre Washington e Teerã, mas para os hardliners nos Estados Unidos e no Irã isso seria, obviamente, ir longe demais.

DW - As eleições presidenciais no Irã estão marcadas para junho. O senhor acredita que a escolha de um novo presidente possa abrir novas possibilidades de negociação com o país?

Lüders - Sinceramente, acho que não importa quem vença as eleições, isso não causará uma troca no regime ou o fim do sistema islâmico. Esse seria o desejo de alguns círculos influentes nos EUA e em Israel. O risco de confronto permanece, mesmo que mude o tom das negociações.

O antecessor de Ahmadinejad na presidência, Mohammad Khatami, fez em 2003 uma oferta bastante clara de reconciliação e compensação, mas a iniciativa foi ignorada. Houve a percepção que os iranianos estariam em uma posição de fraqueza, e a proposta não foi adiante.

Perdeu-se assim uma oportunidade histórica.

Michael Lüders é jornalista, cientista político e especialista em Islã. Ele vive em Berlim.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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