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Análise: Discurso 'clássico' pode ajudar Netanyahu nas políticas interna e externa

3 mar 2015 - 20h29
(atualizado às 20h29)
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Convite para Netanyahu discursar no Congresso americano partiu de republicanos

O discurso do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyhu, no Congresso americano, nesta terça-feira, pode representar uma vitória dupla para o líder israelense, tanto interna quanto externamente.

Para Jeremy Bowen, editor para o Oriente Médio da BBC, as declarações de Netanyahu, pontuadas por aplausos efusivos dos presentes ao evento, a maioria republicanos, aumentam a pressão sobre o presidente americano, Barack Obama, que necessitará de um "esforço retórico" junto à população do seu país caso um acordo nuclear com o Irã seja alcançado.

Já na avaliação de Kevin Connolly, correspondente da BBC em Jerusalém, o discurso deixa os adversários locais do premiê israelense em uma situação "delicada" às vésperas das eleições legislativas em Israel, quando Netanyahu concorrerá mais uma vez à reeleição.

O primeiro-ministro israelense viajou aos Estados Unidos a convite do presidente da Câmara dos Representantes, o republicano John Boehner. Mas a visita foi criticada pela Casa Branca, que, sem ter sido consultada, afirmou que Netanyahu estava tentando arrebanhar oposição dentro dos Estados Unidos contra o acordo nuclear com o Irã.

No caminho para o plenário, onde discursaria, Netanyahu foi ovacionado pelos presentes, a maioria membros do Partido Republicano, e parou para devolver cumprimentos que recebia. Muitos congressistas democratas boicotaram a solenidade, incluindo o vice-presidente americano, Joe Biden.

Durante o discurso, o primeiro-ministro de Israel foi novamente aplaudido ─ e por várias vezes. Netanyahu repetiu que não estava tentando se intrometer na política interna americana e priorizou focar suas atenções sobre o programa nuclear iraniano, atualmente sob intensa negociação na Suíça.

Segundo Netanyahu, um possível tratado entre os Estados Unidos e o Irã poderia "pavimentar o caminho para a bomba", em vez de impedi-lo.

O premiê israelense também descreveu o Irã como uma "ameaça para todo o mundo".

"O regime iraniano está mais radical do que nunca, a ideologia está profundamente enraizada no Islã militante...sempre será um inimigo dos Estados Unidos", disse Netanyahu.

Para o premiê israelense, a contribuição do Irã no combate ao grupo autodenominado Estado Islâmico não o torna um amigo do Ocidente.

O prazo inicial para costurar um eventual acordo sobre o programa nuclear iraniano, que está sendo negociado na Suíça, termina no final deste mês. As discussões, por enquanto, não têm sido bem-sucedidas. O objetivo é fechar um tratado cujos detalhes só seriam conhecidos no final de junho.

Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Rússia e China estão tentando buscar alcançar um acordo para frear o programa nuclear iraniano em troca de um alívio nas sanções econômicas impostas ao país.

Eles acreditam que o Irã tem ambições para construir uma bomba atômica ─ algo que o governo iraniano nega, alegando que está apenas exercendo seu direito à energia nuclear com fins pacíficos.

Netanyahu, por outro lado, reiterou que a relação EUA-Israel deveria "permanecer acima da política" e que ele estava "agradecido pelo apoio do povo americano".

Após o discurso, Obama afirmou a jornalistas que não viu "nada de novo" no discurso do colega israelense e que "nenhuma alternativa viável" para evitar que o Irã obtenha armamento nuclear foi apresentada.

Pressão sobre Obama

Em discurso no plenário do Congresso americano, Netanyahu criticou fortemente acordo nuclear EUA-Irã

Na visão de Jeremy Bowen, editor para Oriente Médio da BBC, o discurso de Netanyahu não surpreendeu.

"Foi um clássico Netanyahu. O premiê israelense misturou a política do medo com a política da valentia na adversidade. Na visão de Netanyahu, o Irã está 'devorando' os países do Oriente Médio ─ uma referência à sua influência sobre Síria, Líbano, Iraque e Iêmen ─ enquanto Israel permanece forte, e nunca mais permitirá que os judeus se tornem vítimas passivas em meio à hostilidade", avalia Bowen.

"Foi uma intervenção direta na política dos Estados Unidos. Não resta dúvida de que Netanyahu vê a ameaça vinda do Irã como real, e sua hábil retórica ressoará junto a muitos americanos. Se houver um acordo, Obama precisará usar todo o seu próprio arsenal de palavras para convencer a população de que fez a coisa certa", diz Bowen.

Vantagem política?

Em meio à aproximação das eleições legislativas em Israel, daqui a duas semanas, nas quais Netanyahu concorre à reeleição, o discurso no Congresso americano também poderia beneficiar as pretensões do premiê israelense, opina Kevin Connolly.

"Os adversários de Netanyahu em Israel enfrentam agora um dilema. Foi altamente frustrante para eles vê-lo entrar no Congresso americano sob fortes aplausos e pior ainda assistir a seu discurso pela TV".

Ovacionado antes mesmo de começar a discursar, Netanyahu sai dos Estados Unidos 'duplamente vitorioso', dizem analistas

"É o tipo de imagem que não se pode comprar em uma campanha eleitoral".

Segundo Connolly, os rivais de Netanyahu nas eleições legislativas ficam agora numa situação delicada.

"Se eles repetirem os alertas de que Netanyahu está colocando em perigo a segurança de Israel ao se indispor com a Casa Branca, eles correm o risco de prolongar uma novela que até agora está dando vantagem ao premiê israelense", argumenta.

"Muitos deles, como o líder opositor Yitzhak Herzog, sentem que são tão duros com o Irã quanto Netanyahu ─ mas não tem a mesma visibilidade."

"O partido de Netanyhu, o Likud, já está perguntando aos eleitores se eles podem imaginar qualquer outro líder israelense fazendo tal discurso".

"A oposição quer começar a debater o custo de vida e outros assuntos nos quais sente ter alguma vantagem ─ eles só esperam, contudo, que as imagens de Netanyahu sendo aplaudido de pé dentro do Congresso americano sejam esquecidas até o dia das eleições".

Crédito: Getty
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