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Análise: Apesar de crise na Europa, 95% dos refugiados estão em países vizinhos a conflitos

30 ago 2015 - 07h32
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A Europa está sendo obrigada a lidar com um grande fluxo de refugiados de fora do continente em meio à fuga de milhares de pessoas de áreas de conflito como Síria e Iraque. E seus políticos estão tendo dificuldades em encontrar uma ação coerente.

Europa tem enfrentado maior fluxo de refugiados de fora do continente
Europa tem enfrentado maior fluxo de refugiados de fora do continente
Foto: EPA

A nível europeu, a suposta política comum de asilo e imigração da União Europeia chegou ao seu limite. Enquanto políticos e a imprensa caracterizam este fluxo como uma "crise de imigração", a grande maioria destas pessoas vem de países onde a população se tornou refugiada.

A Europa se orgulha de uma passado de proteção a refugiados - foi aqui que nasceu o regime moderno de refugiados após o Holocausto. Esta tradição está sob ameaça.

Países do continente precisam prover asilo, mas é preciso uma perspectiva global.

Somente uma pequena proporção dos 20 milhões de refugiados em todo o mundo vem à Europa: 95% estão em países vizinhos a conflitos e crises, a maioria em regiões em desenvolvimento.

Cerca de 3,5 milhões de sírios estão na Turquia, no Líbano e na Jordânia. Mais de 500 mil somalianos estão no Quênia. Mais de 2 milhões afegãos estão no Paquistão e no Irã.

É nestas regiões que uma parte importante da solução precisa ser encontrada.

As respostas típicas focam em prover assistência humanitária. Mas isto não é o bastante.

Bom para todos

Países que recebem refugiados como Líbano, Jordânia, Quênia e Tailândia estão lotados e, cada vez mais, fecham suas fronteiras. Refugiados várias vezes tornam-se dependentes, "estocados" em campos e sem o direito de trabalhar por muitos anos. Diante disso, muitos optam por seguir adiante.

O desafio real não é como impedir as pessoas de vir à Europa; é como criar modelos globais inovadores e sustentáveis de assistência a refugiados.

Uma opção seria olhar para os refugiados como uma questão de desenvolvimento e não apenas um problema humanitário.

Refugiados têm habilidades, talentos e aspirações. Uma abordagem voltada para o desenvolvimento na questão dos refugiados têm o potencial para fornecer oportunidades de ganhos a todos: refugiados, países anfitriões, e doadores - até que refugiados possam voltar a seus países.

Em nossa pesquisa recente em Uganda, mostramos como refugiados podem contribuir economicamente com os países que os hospedam. Ao contrário de muitos países na região, Uganda adotou a chamada "estratégia de autoconfiança", dando a refugiados o direito de trabalhar e certa liberdade de movimento.

Em áreas urbanas e assentamentos, refugiados participam de diversas atividades empreendedoras.

Em Kampala, por exemplo, 21% dos refugiados comandam empresas que empregam outras pessoas. Muito longe de serem dependentes em ajuda, 96% das famílias de refugiados têm alguma fonte de renda independente. Isso mostra que, com as políticas certas, refugiados podem e irão se ajudar e contribuir com as sociedades que lhe receberam.

Historicamente, há exemplos de como a Europa apoiou políticas baseadas em desenvolvimento para atender refugiados. Um exemplo negligenciado vem da América Central onde, no final da Guerra Fria, centenas de milhares de pessoas foram desalojadas.

A comunidade internacional adotou uma iniciativa conhecida como Cirefca, que entre 1987 e 1995 criou oportunidades para a autossuficiência de refugiados na região.

A premissa era de que por meio de assistência de desenvolvimento direcionada, oportunidades poderiam ser criadas para a comunidade anfitriã e as populações desalojadas.

Projetos nas áreas de saúde, educação e infraestrutura foram financiados principalmente pela então Comunidade Europeia na região. No total, cerca de US$ 500 milhões foram gastos em 72 projetos de desenvolvimento em sete países.

Apoio sustentável

O México, com um alto número de refugiados guatemaltecos, reconheceu que tinha áreas de cultivo subdesenvolvidas. Com recursos europeus para projetos de agricultura, o país concordou em oferecer oportunidades de autossuficiência e integração local para refugiados da Guatemala.

O resultado foi que os refugiados contribuíram com o desenvolvimento agrário da Península de Yucatán.

Hoje, oportunidades semelhantes existem.

A apenas 15 minutos do conhecido campo de refugiados de Zaatari, na Jordânia, onde são abrigados 83 mil refugiados, localiza-se a área de desenvolvimento rei Hussain. A zona foi criada para apoiar a base da indústria jordaniana, mas sofre com escassez de mão de obra e investimento estrangeiro.

Se refugiados de Zaatari tivessem acesso a oportunidades de emprego neste espaço, ao lado de cidadãos nacionais, poderiam ajudar a apoiar a estratégia de desenvolvimento da Jordânia e a economia pós-conflito da Síria.

A Europa poderia contribuir por meio de assistência de desenvolvimento, apoiando concessões no comércio e investimento estrangeiro.

A União Europeia precisa de uma política completa para refugiados. A resposta deve incluir melhor cooperação entre os 28 Estados da UE e divisão de responsabilidades na Europa.

Isto deve incluir dizer ao público porque devemos receber os refugiados - os benefícios éticos, jurídicos, econômicos e culturais e a importância simbólica de reciprocidade.

Mas isto também exige um plano para ajudar sustentavelmente refugiados em outras partes do mundo.

Survival Migration: Failed Governance and the Crisis of Displacement

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