Crise no Paraguai: Espanha diz que apoiará Mercosul e Unasul
25 jun2012 - 14h41
(atualizado às 15h37)
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O governo da Espanha apoia Mercosul e Unasul na gestão da crise política no Paraguai e ressalta sua "preocupação" com a "fraqueza" das garantias processuais no impeachment do presidente Fernando Lugo. Essa afirmação foi feita nesta segunda-feira em Luxemburgo pelo ministro de Relações Exteriores espanhol, José Manuel García-Margallo, que lembrou que o governo de seu país emitiu um comunicado "de forma imediata nas primeiras horas" após o julgamento político no qual Lugo foi considerado culpado de mau desempenho em suas funções e afastado do cargo.
Paraguai vota impeachment de Fernando Lugo; entenda a crise:
"Destacamos aí nossa preocupação com a, entre aspas, fraqueza das garantias processuais", declarou García-Margallo em entrevista coletiva em Luxemburgo, onde participou do encontro do Conselho da União Europeia. "É verdade que essas garantias processuais em um julgamento político (...) não estão reconhecidas, mas não é menos certo que nos preocupa que a defesa tivesse pouquíssimas horas para preparar seus argumentos", acrescentou.
Segundo García-Margallo, neste caso, "como é norma e tradição na comunidade à qual pertencemos, a Comunidade Ibérica de Nações, apoiamos as organizações regionais, Mercosul e Unasul, às quais corresponde um maior protagonismo neste tema".< Brasil, Argentina e Uruguai, parceiros do Paraguai no Mercado Comum do Sul (Mercosul), decidiram "suspender" o país vizinho "de forma imediata" da cúpula de presidentes do bloco, que será realizada na próxima sexta-feira em Mendoza (Argentina).
O novo governo paraguaio acusou os três países de se "excederem" com essa decisão e de evitar os procedimentos do bloco.
Processo relâmpago destitui Lugo da presidência
No dia 15 de junho, um confronto entre policiais e sem-terra em uma área rural de Cuaraguaty, ligada a opositores, terminou com 17 mortes. O episódio desencadeou uma crise no Paraguai, na qual o presidente Fernando Lugo, acusado pelo ocorrido, foi sendo isolado no xadrez político. Seis dias depois, a Câmara dos Deputados aprovou de modo quase unânime (73 votos a 1) o pedido de impeachment do presidente. No dia 22, pouco mais de 24 horas depois, o Senado julgou o processo e, por 39 votos a 4, destituiu o presidente.
A rapidez do processo, a falta de concretude das acusações e a quase inexistente chance de defesa do acusado provocaram uma onda de críticas entre as lideranças latino-americanas. Lugo, por sua vez, não esboçou resistência e se despediu do poder com um discurso emotivo. Em poucos instantes, Federico Franco, seu vice, foi ovacionado e empossado. Ele discursou a um Congresso lotado, pedindo união ao povo paraguaio - enquanto nas ruas manifestantes entravam em confronto com a polícia -, e compreensão aos vizinhos latinos, que questionam a legitimidade do ocorrido em Assunção.
A reação da polícia provocou a morte de 11 camponeses e a consequente crise política e o pedido de impeachment do presidente. Ao aprovar o início do processo político, a Câmara dos Deputados alegou "mau desempenho de funções", um dos motivos pelos quais o presidente pode ser processado, de acordo com a Constituição do Paraguai
Foto: AFP
Fazendeiros e políticos de oposição denunciaram esses procedimentos violentos, próximos à ilegalidade. Na sexta-feira, 15 de junho, seis policiais desarmados foram mortos durante a desocupação de uma propriedade em Curuguaty, 250 km a nordeste de Assunção, possivelmente por franco-atiradores que estavam ao lado dos camponeses
Foto: AFP
Conduzido à política por seu trabalho entre os camponeses, Lugo afirmava, ao assumir a Presidência, que faria uma reforma agrária pacífica. Mas foi abalado por invasões de grupos de camponeses ligados ao governo em propriedades de ricos produtores no leste, região agrícola mais rica do país na fronteira com Brasil e Argentina, onde milhares de colonos "brasiguaios" prosperam
Foto: AFP
Em agosto de 2010, seus médicos anunciaram que ele sofria de câncer linfático, mas afirmaram que ele poderia ser curado. Lugo se submeteu a seis sessões de quimioterapia, reduzindo consideravelmente suas aparições públicas. Ele foi tratado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, por uma equipe de médicos brasileiros e paraguaios
Foto: AFP
A existência de diversos filhos do ex-bispo católico abalaria o apoio popular. Sua popularidade de 93% no momento de sua posse como chefe de Estado caiu para 30% depois dos escândalos em abril de 2009, quando foi obrigado a reconhecer um filho de 2 anos, Guillermo Armindo, de Viviana Carrillo, 24 anos (na foto)
Foto: AFP
A presidência de Lugo foi sacudida por reiteradas denúncias de paternidade feitas por várias mulheres, que pediam exames de DNA por filhos que, segundo elas, tiveram com o mandatário enquanto era bispo de San Pedro, Departamento mais pobre do país
Foto: AFP
Lugo venceu as eleições presidenciais de 20 de abril de 2008 à frente de uma coalizão de partidos de direita e esquerda, a Aliança Patriótica para a Mudança (APC, sigla em espanhol) pondo fim ao partido Colorado, que se confundiu durante seis décadas com o Estado paraguaio
Foto: AFP
Fernando Lugo se reúne com se reúne com o monsenhor Orlando Antonini, representante do Vaticano, em 2008, depois de a Igreja Católica dispensá-lo das funções eclesiásticas do cargo de bispo, o que permitiu a Lugo se candidatar à presidência do Paraguai - que ele acabaria vencendo em 20 de abril
Foto: AFP
Ex-bispo católico, Fernando Lugo foi eleito há quatro anos no Paraguai com promessas de defender as necessidades dos pobres e obteve grande aceitação por parte dos movimentos sociais, especialmente dos camponeses. Defendeu a reforma agrária, questão conflituosa que acabaria levando seu governo a sofrer grandes abalos
Foto: AFP
Nesta sexta-feira, 22 de junho, o Senado paraguaio aprovou o processo de impeachment do presidente Fernando Lugo, que foi destituído do cargo. A votação obteve a maioria absoluta, com 39 votos a favor da condenação, quatro contra e duas abstenções. Trinta votos eram necessários para aprovar o impeachment de Lugo, que agora deve deixar o poder e ser substituído pelo vice-presidente, Federico Franco