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América Latina

Polêmica: contra zika, Colômbia recomenda evitar gravidez

23 jan 2016 - 15h04
(atualizado às 16h44)
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Gomez afirma que é obrigação do Ministério da Saúde alertar o público
Gomez afirma que é obrigação do Ministério da Saúde alertar o público
Foto: Divulgação / BBC News Brasil

A recomendação do Ministério da Saúde na Colômbia para que casais evitem engravidar pelos próximos seis meses, em função do aumento no número de casos do vírus zika no país, causou polêmica desde o anúncio oficial, no início da semana.

A Colômbia anunciou ter detectado mais de 13 mil possíveis casos de zika. Ainda não há informações sobre ocorrências de microcefalia em bebês que possam ter relação com o vírus, mas as notícias brasileiras preocupam as autoridades do país.

No Brasil, ainda não há recomendações nesse sentido - embora em novembro o diretor de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, chegou a recomendar que as mulheres adiassem planos de gravidez, mas depois acabou voltando atrás.

Agora, especialistas em saúde criticaram o governo colombiano pelo que consideraram uma medida exagerada e que pode provocar pânico na população. Até porque o país ainda não registrou nenhum caso de microcefalia associada ao zika.

Dever

"Estamos um pouco incomodados com a recomendação. A gravidez tem uma série de riscos, alguns bem mais complicados que o zika. Se adotarmos o mesmo critério, as mulheres jamais poderiam ficar grávidas", disse à BBC Mundo Marco Duque, obstetra da Clínica Del Country, em Bogotá.

"As pessoas estão assustadas e há um volume grande de informações. Mas disse a meus pacientes que isso parece uma recomendação excessiva".

No entanto, o vice-ministro da Saúde, Fernando Ruiz Gomez, nega que o governo tenha sido rigoroso demais.

"Estamos dizendo às mulheres que levem em conta o risco de contágio do zika em sua decisão de ter bebês", afirmou Gomez, acrescentando que o ministério tem a obrigação de alertar o público. E disse que faria o mesmo se uma epidemia de rubéola, doença que comprovadamente pode trazer complicações para fetos, estivesse ocorrendo.

Aedes transmite zika, chikungunya, dengue e febre amarela.
Aedes transmite zika, chikungunya, dengue e febre amarela.
Foto: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas / Vivo Mais Saudável

Nas últimas semanas, autoridades colombianas cogitaram a ideia de recomendar uma moratória na gravidez para pessoas vivendo em localidades abaixo de 2.200m de altitude, onde há mais ocorrência do mosquito transmissor da zika, o Aedes aegypti. Mas pediram que mulheres grávidas evitassem viajar para áreas atingidas pelo vírus.

Para o acadêmico Fabian Mendez, diretor da Escola de Saúde Pública da Universidade del Valle, o governo acertou na recomendação. Mas ele considera que a ela pode ter sido tardia. "Gostaria de ter visto mais medidas preventivas".

As autoridades da Colômbia estão realmente preocupadas com a epidemia. Hospitais e postos de atendimento médico foram orientados a considerar qualquer gravidez de um paciente com zika como de risco, o que implica em uma bateria extra de exames de ultrassonografia, em vez dos quatro habitualmente recomendados.

Casos de microcefalia podem ser detectados entre as semanas 15 e 18 de gestação. Em termos médicos, trata-se de uma janela para um aborto relativamente seguro para a mãe. Mas a legislação colombiana proíbe o procedimento, com raras exceções.

"O risco é baixo e as pessoas não deveriam se angustiar. É de um bebê em 400 casos de gravidez. Mas é preciso que as mulheres se protejam", afirma Gomez.

Isso é mais fácil na teoria. Valentina Armel, por exemplo, vive em uma área segura da Colômbia - Bogotá, a mais de 2.600m acima do nível do mar. Mas seu trabalho envolve viagens por áreas de risco. E seus pais vivem em uma cidade abaixo de 2.200m de altitude. Grávida há dois meses. Armel cancelou as viagens e mesmo as visitas familiares. Mas afirma que não se arrepende da decisão de ter engravidado.

"Fazia um ano que queria ser mãe. Não creio que teria interrompido as tentativas (por causa do vírus)".

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