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Mundo

Yoani Sánchez não sabe se Fidel Castro está vivo ou morto

15 out 2012 - 21h22
(atualizado às 21h25)
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MARCOS FUENTES T.

O telefone da blogueira e dissidente cubana Yoani Sánchez tocou insistentemente nos últimos dias. Todos a procuram para fazer perguntas sobre a reaparição e os rumores sobre deterioração da saúde de Fidel Castro. "Nós, cubanos, seremos os últimos a saber o dia em que (sua morte) vier a ocorrer", afirma, em entrevista ao Terra.

Yoani Sánchez: ninguém sabe sobre o estado de saúde de Fidel Castro
Yoani Sánchez: ninguém sabe sobre o estado de saúde de Fidel Castro
Foto: AFP

"Ouvi rumores assim pelo menos 300 vezes, razão pela qual sou muito cautelosa", explica, quando questionada sobre a piora no estado de saúde de Fidel Castro. No entanto, ela enumera indícios que indicariam que o histórico líder cubano não se encontra bem: não aparece fisicamente aos meios de comunicação cubanos desde que se reuniu com o Papa Bento XVI, em março, e tampouco tem publicado suas reflexões na imprensa oficial cubana. Sua última coluna, datada de 18 de junho, aborda a "expansão do universo".

Seu blog e seus comentários no Twitter sobre os acontecimentos na ilha dos irmãos Castro fizeram dela um dos rostos mais conhecidos da oposição cubana. Nesta semana, a revista Foreign Policy a incluiu entre os 50 intelectuais ibero-americanos mais influentes, ao lado dos ex-presidentes Felipe González (Espanha), Ricardo Lagos e Michelle Bachelet (ambos do Chile).

Yoani Sánchez assegura que é improvável que alguém saiba efetivamente o que acontece com Castro. "Aquele que diz que tem uma fonte próxima, e que sabe de uma fonte direta, posso lhe garantir que é falso, porque ninguém está tão perto para saber como Fidel está", afirma.

Sobre os protestos no Chile: gostaria de saber mais de sua realidade

Sánchez relata que acompanha os protestos no Chile, ainda que não tanto quanto gostaria. "Gostaria de me somar à realidade do Chile além dos noticiários cubanos, que são muito contrários a (Sebastián) Piñera e muito favoráveis a (Michelle) Bachelet e o Partido Comunista do Chile; de todo modo, no entanto, me parecem muito interessantes as coisas que estão vivendo."

Ela recorda que quando a então presidente Bachelet visitou a ilha, em fevereiro de 2009, não se reuniu com a dissidência cubana. "Tentei entrar em contato com a delegação. Sei que alguns membros foram alertados para não entrar em contato comigo. O que posso assegurar é que conheço muitos chilenos que vieram a Cuba durante os anos da ditadura militar (chilena). Segundo relata, alguns destes chilenos ainda vivem lá, enquanto que outros foram embora. "Mas a maioria deles sente que este não é o paraíso, tampouco a utopia, e conheceram o que é não poder sair à rua para protestar", conta.

O triunfo de Chávez: para quem depende dos negócios na Venezuela, foi um alívio

Para a blogueira, o último fato que chama atenção é a ausência de uma mensagem de Fidel Castro parabenizando Hugo Chávez por sua reeleição na Venezuela. "A mensagem de felicitação foi assinada por Raúl (Castro), e esta mensagem não faz menção a seu irmão mais velho", observa.

Segundo ela, a notícia da vitória de Chávez foi recebida em Cuba de duas maneiras. A primeira foi a "oportunista": pessoas que vivem diretamente, de um ou outro modo, dos negócios feitos entre Havana e Caracas. "Para estas pessoas, é claro, o anúncio da vitória de Chávez significou um alívio."

Outro grupo entende que a ajuda venezuelana é o que mantém o regime em Havana. "Há uma frase tipicamente cubana que afirma que 'o bem que sustenta isto é um mal que se está pondo'. Isto é, muitos pensavam que, se se cortasse o subsídio, a situação em Cuba poderia chegar a um ponto que fizesse retroceder a cidadania, ou que ao menos obrigasse reformas de corte nos gastos público. Alguns de nós esperávamos isto", admite.

Eleições nos Estados Unidos: preferência por vitória democrata

A corrida presidencial nos Estados Unidos também vem sendo observada pela blogueira, cuja atenção principal recai sobre o fim do bloqueio econômico imposto a Cuba.

Mas esclarece: "Não é porque eu acredite na propaganda oficial (de Havana), segundo a qual o embargo é o que mantém Cuba nesta situação material, mas sim porque o embargo é o principal argumento que tem sido usado pelos governos para explicar o descalabro econômico, sua ineficiência produtiva, a falta de direito dos cidadãos".

Ela diz que a solução ao embargo estará mais perto de ser atingida com um segundo mandato de Barack Obama que com um triunfo de Mitt Romney. "Obama tem mantido uma política de aproximação cultural, (...) o que me parece muito mais corrosivo ao governo de Havana que a política da maçada."

Blog e Twitter: uma Cuba sem Fidel

Sánchez conta que acorda todos os dias tratando de viver, ainda que interiormente, o pós-castrismo. "Trato de ver uma Cuba onde Fidel já não mais está presente", diz.

Em um país onde assegura não ter liberdade de deslocamento, o campo que encontrou para semear suas ideias é a internet, especialmente no Twitter e no blog para o qual escreve diariamente suas reflexões sobre a vida na ilha. A atividade envolve desafios. "Aqui, a grande maioria dos tuiteiros alternativos atua através de mensagens de texto. É às cegas. Podemos mandar (textos), mas não ler ou responder perguntas, tampouco ler uma mensagem direta", descreve.

O último atrito que teve com as autoridades comunistas ocorreu quando tentou assistir ao julgamento contra Ángel Carromero, político espanhol envolvido em um acidente de carro no qual morreram outros dois dissidentes cubanos. Ela ficou detida por quase 24 horas. "Quando fui detida, eu tinha 292 mil seguidores no Twitter, hoje eu tenho 317 mil. Podem me tirar o celular, podem me prender, mas, felizmente, é graças à visibilidade e aos meus seguidores, em Cuba e no mundo, que tenho conseguido me manter."

Agente da CIA?

A dissidente assegura que, há cinco anos, quando decidiu deixar o silêncio e partir para a exposição pública, já conhecia os custos que precisaria assumir: acusações de conexão com a CIA, de ser pró-ianque, ou uma infiltrada do Pentágono.

"Eu escutava essas mesmas acusações sobre os dissidentes opositores, pessoas que não estavam de acordo com a maneira pela qual Fidel Castro governava o país, que não estava de acordo com o subsídio soviético ou a intromissão do Kremlin na política cubana. Todos eram acusados da mesma coisa, pois o governo de Cuba não quer reconhecer que haja pessoas realmente interessadas em seu país, pessoas com ética e convicção de que há muitas coisas a serem mudadas."

Fonte: Terra
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