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América Latina

Vitória de Maduro foi conseguir ficar 1 ano, diz especialista

Governo de Nicolás Maduro completa um ano neste sábado; governo enfrenta sua pior crise há mais de dois meses com balança desfavorável de seu governo

19 abr 2014 - 16h14
(atualizado em 20/4/2014 às 12h11)
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<p>O presidente Nicolás Maduro afirma que denúncias são parte de uma tentativa de golpe ao seu governo. Na foto, o presidente venezuelano fala para ministros das Relações Exteriores da Unasul, em Caracas</p>
O presidente Nicolás Maduro afirma que denúncias são parte de uma tentativa de golpe ao seu governo. Na foto, o presidente venezuelano fala para ministros das Relações Exteriores da Unasul, em Caracas
Foto: Reuters
O primeiro ano de governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro foi marcado pela crise econômica, a maior revolta social das últimas décadas no país e uma forte polarização política. Para especialistas a principal vitória do presidente é ter conseguido completar um ano no poder. Segundo eles, para continuar Maduro terá que realizar reformas econômicas profundas.  

Há exatamente um ano, em 19 de abril de 2013, o presidente Nicolás Maduro tomava posse da presidência da Venezuela em meio a panelaços e manifestações. Ele foi eleito para seis anos de mandato, em controvertidas eleições, para dar continuidade ao governo de seu antecessor, Hugo Chávez, falecido em março de 2013.

Ao final de doze meses de governo, o balanço não é favorável. A Venezuela enfrenta escassez de vários produtos da cesta básica, terminou o ano de 2013 com 56,2% de inflação, a mais alta da América Latina, e a moeda nacional sofre uma desvalorização sem precedentes. Além da questão econômica, outro problema enfrentado por Maduro é o de segurança pública. O país tem um dos maiores índices de violência do mundo, com 79 homicídios por cada 100 mil habitantes, segundo a organização não governamental (ONG) Observatório Venezuelano da Segurança.

Foto: Reuters

Para completar o quadro, desde fevereiro a Venezuela é palco de uma revolta popular que começou com manifestações de estudantes contra a violência que se alastraram por todo o país. Os protestos foram fortemente reprimidos pelo governo, deixando dezenas de mortos e centenas de feridos.

Como resposta à situação de crise, o presidente responsabiliza líderes da oposição que, segundo ele, seriam apoiados pelos Estados Unidos para organizar uma “guerra econômica” contra o país e seu governo. Mas muitos dos problemas enfrentados pelo mandatário, como a escassez de produtos básicos e a inflação, se arrastam desde o governo de Chávez. Maduro recuperou um país às margens da bancarrota, com gastos públicos excessivos e dólares insuficientes tanto para pagar a importação de alimentos quanto a dívida externa. O chavismo também não conseguiu acabar com a dependência histórica do país da renda advinda do petróleo.   

Legitimidade

Os problemas começaram para Maduro logo após as eleições presidenciais de 14 de abril de 2013, quando ganhou por pouco mais de 200 mil votos (menos de 1,5% do eleitorado). O candidato da oposição, Henrique Capriles, afirmou que houve fraude e os protestos tomaram o país, deixando pelo menos dez mortos e dezenas de feridos.

Foto: Reuters

“Maduro não contou com a famosa ‘lua-de-mel’ com os eleitores que muitos presidentes gozam ao começar um mandato”, afirma o cientista político da Universidade Católica Andrés Bello, Edgard Gutiérrez. “Seu governo começou com um profundo questionamento sobre sua legitimidade devido ao resultado eleitoral tão estreito. Isso marcou Maduro”, diz o especialista. 

O presidente venezuelano também enfrenta, segundo Gutiérrez, o desafio de suceder Chávez, uma liderança muito carismática. De tal maneira que a única referência do chavismo continua sendo o ex-presidente. Segundo ele, Maduro tenta construir uma imagem, “mas ainda é algo indefinido, não sabemos quem é Maduro. Mas percebemos que é alguém muito mais radical, com medidas muito fortes sobre a propriedade privada, sobre a economia, sobre o modelo de estado”, afirma.

Problemas sociais

O especialista em políticas públicas da Universidade Central da Venezuela, Máximo Sanchez, chama a atenção para o fato de que além das questões econômicas e políticas, o atual governo tem dificuldades de continuar aplicando os planos sociais criados no governo anterior. As chamadas Missões, desenvolvidas durante o governo de Hugo Chávez, visando famílias de baixa renda, vêm perdendo investimentos, segundo ele.   

Foto: Reuters

“O problema é que estes projetos sociais, que eram propostas muito boas, foram se deteriorando. Por exemplo, existem pessoas que (esperam) anos para ter acesso a uma casa da missão moradia. Já a missão bairro adentro – que oferece serviços de saúde – no começo foi muito positiva, mas logo foi desmantelada por falta de investimento. São poucas as estruturas na área de saúde que hoje funcionam de maneira adequada”, afirma. “Não houve investimentos em saúde, segurança pública ou educação neste último ano. Os mais afetados são os que têm menos condições”.

Vitórias

Mas o presidente venezuelano também obteve vitórias neste primeiro ano. Maduro conseguiu se impor nas eleições municipais de dezembro passado, consideradas pela oposição como “plebiscitárias” para seu governo, saindo vitorioso com 77% das prefeituras. Através de uma política ofensiva de rebaixamento de preços de artigos como eletrodomésticos e calçados, ele conseguiu reconquistar o eleitorado chavista que não parecia totalmente convencido pelo novo presidente.

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“Maduro ganhou as eleições municipais de dezembro e isso é inquestionável. O chavismo teve mais votos e isso está a seu favor”, diz Edgard Gutiérrez. “Mas ainda assim, isso não significou legitimidade, já que poucos meses depois os conflitos voltaram às ruas”.

Como explicar esta vitória do atual presidente nas urnas? Para o especialista ela tem uma relação com o vazio político do lado da oposição. “Este governo precário consegue se manter em grande parte por falta de propostas interessantes dos opositores”, afirma.

Mas para Gutiérrez a maior vitória de Maduro é ter conseguido ficar um ano no poder. “A liderança de Maduro no chavismo não é inquestionável, ele deve dividir seu poder com outras figuras importantes do partido. E apesar disso, ele continua”, analisa. “Mas isto tem um lado negativo. Ele é um presidente que não governa por inteiro, ocupa o cargo mas não tem a última palavra, este parece mais um governo de coalizão. Isso é complicado para qualquer líder político”.

Para sobreviver “o governo será obrigado a realizar mudanças principalmente de fundo econômico”, afirma Máximo Sanchez. “Continuam existindo elementos importantes de confiança para os investidores, tanto nacionais como estrangeiros, mas eles temem investir em um país onde não se respeita a propriedade privada, onde não existe garantia de retorno do capital”, diz.

Para o analista, este ano deve continuar com muitos protestos e conflitos nas ruas. Segundo Sanchez, “o governo já deu sinais de que quer continuar com uma política de alto controle por parte do estado e não permitir que a iniciativa privada tenha espaço tanto na economia como em outros aspectos do desenvolvimento humano no país.”

Fonte: Especial para Terra
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