O primeiro ano de governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro foi marcado pela crise econômica, a maior revolta social das últimas décadas no país e uma forte polarização política. Para especialistas a principal vitória do presidente é ter conseguido completar um ano no poder. Segundo eles, para continuar Maduro terá que realizar reformas econômicas profundas.
Há exatamente um ano, em 19 de abril de 2013, o presidente Nicolás Maduro tomava posse da presidência da Venezuela em meio a panelaços e manifestações. Ele foi eleito para seis anos de mandato, em controvertidas eleições, para dar continuidade ao governo de seu antecessor, Hugo Chávez, falecido em março de 2013.
Ao final de doze meses de governo, o balanço não é favorável. A Venezuela enfrenta escassez de vários produtos da cesta básica, terminou o ano de 2013 com 56,2% de inflação, a mais alta da América Latina, e a moeda nacional sofre uma desvalorização sem precedentes. Além da questão econômica, outro problema enfrentado por Maduro é o de segurança pública. O país tem um dos maiores índices de violência do mundo, com 79 homicídios por cada 100 mil habitantes, segundo a organização não governamental (ONG) Observatório Venezuelano da Segurança.
Para completar o quadro, desde fevereiro a Venezuela é palco de uma revolta popular que começou com manifestações de estudantes contra a violência que se alastraram por todo o país. Os protestos foram fortemente reprimidos pelo governo, deixando dezenas de mortos e centenas de feridos.
Como resposta à situação de crise, o presidente responsabiliza líderes da oposição que, segundo ele, seriam apoiados pelos Estados Unidos para organizar uma “guerra econômica” contra o país e seu governo. Mas muitos dos problemas enfrentados pelo mandatário, como a escassez de produtos básicos e a inflação, se arrastam desde o governo de Chávez. Maduro recuperou um país às margens da bancarrota, com gastos públicos excessivos e dólares insuficientes tanto para pagar a importação de alimentos quanto a dívida externa. O chavismo também não conseguiu acabar com a dependência histórica do país da renda advinda do petróleo.
Legitimidade
Os problemas começaram para Maduro logo após as eleições presidenciais de 14 de abril de 2013, quando ganhou por pouco mais de 200 mil votos (menos de 1,5% do eleitorado). O candidato da oposição, Henrique Capriles, afirmou que houve fraude e os protestos tomaram o país, deixando pelo menos dez mortos e dezenas de feridos.
“Maduro não contou com a famosa ‘lua-de-mel’ com os eleitores que muitos presidentes gozam ao começar um mandato”, afirma o cientista político da Universidade Católica Andrés Bello, Edgard Gutiérrez. “Seu governo começou com um profundo questionamento sobre sua legitimidade devido ao resultado eleitoral tão estreito. Isso marcou Maduro”, diz o especialista.
O presidente venezuelano também enfrenta, segundo Gutiérrez, o desafio de suceder Chávez, uma liderança muito carismática. De tal maneira que a única referência do chavismo continua sendo o ex-presidente. Segundo ele, Maduro tenta construir uma imagem, “mas ainda é algo indefinido, não sabemos quem é Maduro. Mas percebemos que é alguém muito mais radical, com medidas muito fortes sobre a propriedade privada, sobre a economia, sobre o modelo de estado”, afirma.
Problemas sociais
O especialista em políticas públicas da Universidade Central da Venezuela, Máximo Sanchez, chama a atenção para o fato de que além das questões econômicas e políticas, o atual governo tem dificuldades de continuar aplicando os planos sociais criados no governo anterior. As chamadas Missões, desenvolvidas durante o governo de Hugo Chávez, visando famílias de baixa renda, vêm perdendo investimentos, segundo ele.
“O problema é que estes projetos sociais, que eram propostas muito boas, foram se deteriorando. Por exemplo, existem pessoas que (esperam) anos para ter acesso a uma casa da missão moradia. Já a missão bairro adentro – que oferece serviços de saúde – no começo foi muito positiva, mas logo foi desmantelada por falta de investimento. São poucas as estruturas na área de saúde que hoje funcionam de maneira adequada”, afirma. “Não houve investimentos em saúde, segurança pública ou educação neste último ano. Os mais afetados são os que têm menos condições”.
Vitórias
Mas o presidente venezuelano também obteve vitórias neste primeiro ano. Maduro conseguiu se impor nas eleições municipais de dezembro passado, consideradas pela oposição como “plebiscitárias” para seu governo, saindo vitorioso com 77% das prefeituras. Através de uma política ofensiva de rebaixamento de preços de artigos como eletrodomésticos e calçados, ele conseguiu reconquistar o eleitorado chavista que não parecia totalmente convencido pelo novo presidente.
Descalços, venezuelanos marcham pelo fim do 'sofrimento do país':
“Maduro ganhou as eleições municipais de dezembro e isso é inquestionável. O chavismo teve mais votos e isso está a seu favor”, diz Edgard Gutiérrez. “Mas ainda assim, isso não significou legitimidade, já que poucos meses depois os conflitos voltaram às ruas”.
Como explicar esta vitória do atual presidente nas urnas? Para o especialista ela tem uma relação com o vazio político do lado da oposição. “Este governo precário consegue se manter em grande parte por falta de propostas interessantes dos opositores”, afirma.
Mas para Gutiérrez a maior vitória de Maduro é ter conseguido ficar um ano no poder. “A liderança de Maduro no chavismo não é inquestionável, ele deve dividir seu poder com outras figuras importantes do partido. E apesar disso, ele continua”, analisa. “Mas isto tem um lado negativo. Ele é um presidente que não governa por inteiro, ocupa o cargo mas não tem a última palavra, este parece mais um governo de coalizão. Isso é complicado para qualquer líder político”.
Para sobreviver “o governo será obrigado a realizar mudanças principalmente de fundo econômico”, afirma Máximo Sanchez. “Continuam existindo elementos importantes de confiança para os investidores, tanto nacionais como estrangeiros, mas eles temem investir em um país onde não se respeita a propriedade privada, onde não existe garantia de retorno do capital”, diz.
Para o analista, este ano deve continuar com muitos protestos e conflitos nas ruas. Segundo Sanchez, “o governo já deu sinais de que quer continuar com uma política de alto controle por parte do estado e não permitir que a iniciativa privada tenha espaço tanto na economia como em outros aspectos do desenvolvimento humano no país.”
16 de fevereiro - Governo venezuelano afirma que as manifestações são parte de um "golpe de estado fascista em marcha" e acusa grupos de ultradireita
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16 de fevereiro - Quase três mil estudantes protestaram em Caracas no domingo
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16 de fevereiro - Manifestantes de oposição participam de protesto contra o presidente Nicolas Maduro no último domingo, em Caracas
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16 de fevereiro - Manifestante usa máscara com a bandeira da Venezuela durante protesto, em Caracas
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16 de fevereiro - Jovens caminham em meio a gás de efeito moral jogado pela polícia durante protesto contra o governo de Maduro
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16 de fevereiro - Durante quase duas semanas, milhares de estudantes de todo o país têm protestado nas ruas
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14 de fevereiro - Com bandeiras e cartazes contra a violência e contra o governo de Nicolás Maduro, centenas de estudantes se reuniram na Praça Altamira, no leste de Caracas
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14 de fevereiro - Mais de mil estudantes voltaram às ruas de Caracas, nesta sexta-feira, para protestar contra o governo, de maneira pacífica, enquanto setores governistas preparam uma marcha "contra o fascismo" para este sábado
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14 de fevereiro - Protestos têm registrado grande número de feridos
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14 de fevereiro - Polícia foi acionada para conter os manifestantes
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14 de fevereiro - Há 11 dias, grupos de estudantes e opositores ao governo iniciaram em diferentes cidades passeatas contra a insegurança, a inflação e a escassez de produtos
Foto: EFE
14 de fevereiro - Há 11 dias, grupos de estudantes e opositores ao governo iniciaram em diferentes cidades passeatas contra a insegurança, a inflação e a escassez de produtos
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14 de fevereiro - Parentes, amigos e manifestantes velam o corpo do estudante Juan Montoya, um dos três mortos durante protestos na Venezuela
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18 de fevereiro - O presidente Nicolás Maduro exigiu de seu colega colombiano, Juan Manuel Santos, nesta terça-feira, que pare "de se meter nos assuntos internos" da Venezuela
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18 de fevereiro - Manifestantes permaneceram nas ruas de Caracas até o final da noite
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18 de fevereiro - Venezuelana residente no México segura cartaz em apoio ao líder da oposição, Leopoldo López, que se entregou nesta terça-feira
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18 de fevereiro - Venezuelanos residentes no México protestam contra o governo de Nicolás Maduro
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18 de fevereiro - Menina venezuelana acende velas que pedem "SOS" em protesto no México
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18 de fevereiro - Menino acende velas em apoio aos protestos que acontecem na Venezuela
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18 de fevereiro - "Venezuelanos em Monterrey, nós apoiamos nossos estudantes e irmãos", diz cartaz dos manifestantes venezuelanos que moram no México
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18 de fevereiro - Dezenas se reuniram no México para dar apoio aos protestos que acontecem há dias na Venezuela
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18 de fevereiro - Venezuelana chora em protesto nesta terça-feira
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22 de fevereiro - Mulher toca ombro de policial da Guarda Nacional durante marcha da oposição em San Cristóbal
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22 de fevereiro - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ergue uma flor durante ato em Caracas
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22 de fevereiro - Marcha da oposição em Caracas
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22 de fevereiro - Multidão de manifestantes em novo protesto nas ruas de Caracas contra o governo do presidente Nicolás Maduro
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22 de fevereiro - Henrique Randonski Capriles, um dos líderes opositores, na chegada ao protesto em Caracas
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22 de fevereiro - Marcha opositora em San Cristóbal, capital do Estado ocidental de Táchira
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22 de fevereiro - Manifestante participa de protesto em Caracas com cartaz com a imagem do ex-presidente Hugo Chávez
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23 de fevereiro - Moradora exibe retrato do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez durante passeata de anciãos em apoio ao governo de Nicolás Maduro, em Caracas
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23 de fevereiro - Homem com camiseta de Simón Bolívar, herói da independência latino-americana, canta em apoio a Maduro durante passeata de anciãos em Caracas
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23 de fevereiro - Pedro Pablo Rivero, 81 anos, participa de passeata de anciãos em apoio ao governo de Nicolás Maduro na capital da Venezuela, Caracas
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23 de fevereiro - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, acena à multidão ao lado de sua esposa, Cilia Flores, em dia de ato público de apoio ao governo venezuelano
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24 de fevereiro - Manifestantes antigoverno montaram barricadas e começaram incêndios na capital venezuelana nesta segunda-feira
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24 de fevereiro - Motociclistas entram em confronto com estudantes que bloqueiam rua em Caracas
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24 de fevereiro - Motoqueiros pró-Maduro desfilam por avenida da capital, Caracas, durante protesto
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24 de fevereiro - Manifestantes entram em confronto com policiais em Altamira, no leste de Caracas
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24 de fevereiro - Manifestantes improvisam equipamentos de defesa e ataque durante confrontos
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26 de fevereiro - No Palácio Presidencial de Miraflores, Maduro recebeu representantes religiosos, empresários, intelectuais, jornalistas, deputados e governadores do partido governista. Os representantes dos partidos reunidos na oposição decidiram boicotar o encontro, que qualificaram de manobra de distração
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27 de fevereiro - Um manifestante da oposição corre com um escudo improvisado durante confronto com a polícia, em Caracas
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27 de fevereiro - Manifestante faz uma pausa durante confronto com a polícia na Praça Altamira, em Caracas
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27 de fevereiro - Manifestante dispara morteiro durante protesto contra o president da Venezuela, Nicolás Maduro
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08 de março - Manifestantes fogem de gás lacrimogêneo em Caracas
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08 de março - Manifestante lança bomba contra a polícia durante protesto. O governo impediu a realização de uma manifestação durante o Dia Internacional das Mulheres
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10 de março - Manifestantes contrários ao governo de Nicolás Maduro participam de protestos em Caracas
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10 de março - Manifestantes participam de protesto em Caracas
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10 de março - Manifestante anti-governo atira pedras contra a polícia durante um protesto na praça Altamira em Caracas
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10 de março - Polícia Nacional em motocicletas passa em nuvem de gás lacrimogênio durante manifestação anti-governo na Praça Altamira, em Caracas
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10 de março - Policial persegue um manifestante oposiçista ao Governo de Nicolás Maduro, na Praça Altamira, em Caracas. A escalada de violência em protestos contra o presidente já dura um mês
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10 de março - Estudante universitário Daniel Tinoco, de 24 anos, é retirado de um veículo ao chegar ao hospital, depois de ter levado um tiro na testa por homens armados não identificados em uma moto, durante protesto em San Cristobal, Tachira, Venezuela
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20 de março - Polícia joga spray de pimenta em manifestantes que protestaram próximo à Universidade Central de Caracas
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20 de março - Manifestantes e policiais se confrontaram na capital Caracas
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20 de março - Guarda Nacional Bolivariana tenta conter manifestantes na capital Caracas
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20 de março - Policiais atiram balas de efeito moral e gás contra pessoas que participam de protesto contra o governo
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20 de março - Manifestante enfrenta soldados da Guarda Nacional Bolivariana durante protesto
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20 de março - Policial é tomado por chamas durante protesto contra o governo de Nicolás Maduro
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20 de março - Pessoas encapuzadas enfrentam as forças do governo
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17 de março - Membros da polícia se protegem da ação dos manifestantes nos arredores de Caracas
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17 de março - Manifestante caminha próximo a ônibus incendiado, na capital Caracas
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1 de abril - agente da Polícia Nacional Bolivariana dispara gás lacrimogêneo contra manifestantes que protestam contra o governo de Maduro, em Caracas
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1 de abril - manifestantes se protegem de gás lacrimogêneo lançado pela Polícia Nacional Bolivariana durante protesto na capital Caracas
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1 de abril - manifestante é detido pelas forças de segurança do governo durante protesto
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2 de abril grupo de manifestantes opositores do governo do presidente Nicolas Maduro incendeiam ônibus em Caracas
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1 de abril - manifestantes enfrentam policiais da Guarda Nacional Bolivariana em Chacao
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1 de abril - membros da Guarda Nacional detêm manifestante em Caracas. A Igreja Católica acusou o presidente Nicolas Maduro de tentar implantar um regime totalitário no país
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1 de abril - funcionários do governo deixam escritório após manifestantes colocarem fogo no edifício
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1 de abril - líder da oposição Maria Corina Machado é barrada pela polícia após ela tentar entrar non Parlamento Venezuelano em Caracas
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29 de março - Manifestantes se enfrentam com agentes das forças do governo no distrito de Chacao
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26 de março Policiais prendem manifestante na capital Caracas
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3 de abril - estudante é agredido e despido por partidários do governo de Nicolás Maduro, durante manifestação na Universidade Central da Venezuela, em Caracas
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3 de abril manifestantes lançam pedras contra a Polícia Nacional Bolivariana durante enfrentamentos na Universidade Central da Venezuela, em Caracas
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3 de abril - estudante é atacado por partidários do governo de Nicolás Maduro na Universidade Central da Venezuela
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3 de abril - policial à paisana é socorrido por colegas depois de ser atingido por fogos de artifício lançados por estudantes da Universidade Central da Venezuela
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6 de abril - manifestantes e policiais entram confronto em Caracas
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6 de abril - membros da Guarda Nacional disparam bombas de gás lacrimogêneo contra manifestantes, em protestos na capital, Caracas
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4 de abril - manifestantes contrários ao governo usam estilingue para atirar pedras contra membros das forças de segurança, em Caracas
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17 de abril - manifestante anti-governo lança um coquetel molotov contra policiais durante os distúrbios com a polícia em Caracas
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17 de abril - policiais se protegem contra foguetes lançados por manifestantes anti-governo durante os distúrbios com a polícia em Caracas; protestos no país já deixaram pelo menos 40 mortos
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17 de abril - Polícia se protege de foguetes lançados por manifestantes anti-governo durante os distúrbios com a polícia em Caracas. Estudantes venezuelanos estão marchando com os pés descalços, trabalhando na construção de crucifixos e planejando queimar efígies do presidente Nicolas Maduro para tentar insuflar movimento de protesto durante a Páscoa
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17 de abril - manifestante anti-governo lança um objeto com gás, antes arremessado pela polícia contra estudantes, durante um protesto contra o governo do presidente Nicolas Maduro, em Caracas
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17 de abril - manifestante anti-governo se afasta de gás lacrimogêneo usado pela polícia durante distúrbios com a polícia em Caracas
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17 de abril - manifestante anti-governo toma cobertura atrás de um escudo rudimentar durante um protesto contra o governo do presidente Nicolas Maduro, em Caracas
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17 de abril - manifestantes anti-governo lançam fogos de artifício contra a polícia durante um protesto contra o governo do presidente Nicolas Maduro, em Caracas