PUBLICIDADE

América Latina

Venezuela: vitória do PSUV legitima Maduro e garante "bomba de oxigênio"

Partido do governo conquistou a maioria nas urnas, mas, apesar da derrota, a oposição conseguiu se manter no poder em cidades importantes

9 dez 2013 - 09h59
(atualizado às 09h59)
Compartilhar
Exibir comentários
Maduro comemora a vitória ao lado do prefeito reeleito Jorge Rodriguez
Maduro comemora a vitória ao lado do prefeito reeleito Jorge Rodriguez
Foto: AP

Desgastado por uma crise econômica, inflação de 50% e pelo desabastecimento, Maduro parecia ter perdido o apoio de seus eleitores. Pesquisas de opinião divulgadas em novembro, indicavam que o partido “oficialista” ganharia em número de prefeituras, mas que a oposição venceria em número total de votos. A vitória do PSUV nas urnas significa um respaldo para o atual governo e um golpe duro para a oposição, que buscava nas municipais legitimidade para pedir um referendo revocatório do mandato do presidente venezuelano. 

Mas apesar da derrota, a oposição conseguiu se manter nas principais cidades do país. Antonio Ledezma foi reeleito na disputada prefeitura metropolitana de Caracas, e Eveling de Rosales, no município de Maracaibo, o mais populoso da Venezuela e capital do estratégico Estado petroleiro de Zulia. Outra vitória emblemática da oposição foi a prefeitura de Barinas, bastião do chavismo, onde ganhou o candidato José Luis Machín Machín. 

Este também foi o caso  do município de Sucre, que faz parte da grande Caracas e inclui uma das regiões mais pobres da capital, o bairro de Petare. O governador desta localidade, Carlos Ocaríz, do partido de oposição Primeiro Justiça, conseguiu se manter no poder após uma disputa acirrada com o ex-jogador de beisebol e cantor carismático Antonio “el potro” Alvarez, do PSUV.

Os primeiros resultados das eleições foram divulgados pela presidente do CNE, Tibisay Lucena, pouco depois das 22h, quando os resultados eram definitivos em 77% dos municípios. Mas a apuração total dos votos pode durar até 48 horas. 

Logo após a divulgação dos primeiros resultados, o presidente venezuelano anunciou que “aprofundaria a luta contra a guerra econômica” e que a Venezuela enviou para o mundo a mensagem de que “a revolução bolivariana é uma realidade”. Já Capriles disse que o país se encontra “dividido” e que as eleições mostraram que a  Venezuela “não tem dono” e que “pede diálogo”. 

Golpe para a oposição

Segundo o consultor político e professor da Universidade Católica Andrés Bello, Edgar Gutiérrez, este resultado é “uma verdadeira bomba de oxigênio para Maduro”. “O governo vai considerar este resultado como um respaldo enorme e uma consagração do modelo radical de controle econômico e político”, afirma.

A oposição, que conseguiu se aproximar do poder nas últimas eleições presidenciais de 14 de abril, acabou perdendo forças nas últimas semanas. O governo passou a ser o protagonista da campanha eleitoral, com ações populistas contra o que chamou de “guerra econômica” e “capitalismo parasitário”, fiscalizando empresas e baixando preços de produtos como eletrodomésticos e sapatos. 

O opositor Henrique Capriles beija a cédula ao votar
O opositor Henrique Capriles beija a cédula ao votar
Foto: AP

Gutierrez acredita que a concorrência eleitoral na Venezuela é muito desigual. “Não podemos nos abstrair da dificuldade de fazer política na oposição hoje na Venezuela. O governo tem todos os meios e todos os recursos, desde o financiamento até o uso da imprensa”, diz. “Considerando as limitações que teve, acho que a oposição fez uma excelente campanha”, completa. 

O analista político Angel Alvarez acredita que a derrota é resultado da abstenção de alguns setores da oposição. “Há uma parte da oposição que acha que não vale a pena votar porque acredita que seu voto não será respeitado, e que a oposição não tem capacidade de defender, nas ruas, sua vitória”, diz o especialista, fazendo referência às ultimas eleições presidenciais, que tiveram os resultados contestados pela oposição. 

Já o presidente da Federação Venezuelana de Analistas Políticos, Esteban Oria, acredita que não houve abstenção ou desequilíbrio. Ele critica a estratégia da oposição de considerar as eleições como um plebiscito e se esquecer dos problemas sociais. Para o analista, a oposição não consegue “se conectar” com os segmentos mais populares da sociedade. 

“A oposição deveria estar mais nas ruas, ir aos bairros pobres, pegar o metrô”, afirma. “Se o discurso político não estiver vinculado aos interesses sociais, a oposição não vai ganhar nenhuma eleição nos lugares mais populares”. Segundo ele, não bastam apenas os votos da classe média, “são necessários votos de outros segmentos para ganhar uma eleição”. Oria afirma que a única solução para a oposição reverter esta sequência de derrotas é a renovação política. 

Participação e desordem

Durante todo o dia, representantes políticos e artistas enviaram mensagens através das redes sociais, chamando os eleitores para votar, sem êxito. Como de costume nas eleições municipais na Venezuela, a abstenção foi alta e apenas 58,92% dos eleitores participaram, já que o voto não é obrigatório no país. 

Em eleições complexas, onde além dos prefeitos, os venezuelanos tiveram que eleger 1.680 vereadores, problemas com urnas, atrasos em aberturas de seções eleitorais e ausência de mesários foram notificados. A oposição criticou a falta de informação prévia sobre como votar e denunciou problemas na organização. 

A Associação Civil venezuelana Súmate declarou que 981 mil eleitores poderiam ter sido prejudicados pelas irregularidades. Em algumas seções da grande Caracas, as urnas eletrônicas não funcionaram e vários eleitores tiveram que ficar mais de 6 horas em filas para conseguir votar. 

O Ministério Público deteve 13 pessoas por delitos como obstrução do voto e usurpação de identidade. No horário de fechamento das seções, houve violência em algumas zonas eleitorais. Em Caracas, representantes do governo teriam  tentado manter aberta algumas urnas após o horário oficial de fechamento, segundo divulgaram eleitores em redes sociais. 

O Ministério do Interior aumentou o patrulhamento nas principais cidades do país na noite de domingo, para evitar possíveis violências e desordem com a divulgação dos primeiros resultados das eleições. 

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade