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América Latina

Venezuela encerra retirada de detidos de prisão após motim

27 jan 2013 - 14h13
(atualizado às 14h33)
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O desalojamento da prisão de Uribana (nordeste), onde na sexta-feira um motim deixou 61 mortos, segundo fontes hospitalares, terminou na manhã deste domingo, enquanto diversos familiares se perguntavam sobre o destino de alguns dos presos.

Policiais montam guarda em frente ao necrotério para onde os corpos foram levados
Policiais montam guarda em frente ao necrotério para onde os corpos foram levados
Foto: AP

"Termina a retirada dos privados de liberdade da Prisão de Uribana! Agora vamos à reconstrução!", escreveu em sua conta no Twitter a ministra de Assuntos Penitenciários, Iris Varela, que ainda não forneceu um número oficial de vítimas do motim. "Na prisão não há ninguém", confirmou à AFP o pastor evangélico Santiago Travieso, que colaborou no processo de desalojamento durante a noite dialogando com os réus.

Nos arredores da prisão, localizada no estado de Lara, os réus gritavam dos ônibus o nome das prisões para onde eram levados, enquanto seus familiares os seguiam com olhar preocupado, agitando os braços. "Meu irmão vai para Guanare (noroeste). Não é igual a tê-lo por perto, mas onde ele vai, com a luta irei", disse à AFP Carmen Escalona. Seu irmão José, de 32 anos, está preso há quatro anos "por estar junto de um amigo que roubou um taxista", disse.

A esta angústia se somava a de outras pessoas que ainda não sabem o que ocorreu com seus familiares presos. "Meu filho (Henry, de 24 anos) está desaparecido desde sexta-feira. Aparece (nas listas) como ferido. Eu o procurei" em vão, gritava Mariela Torrealba. "É uma angústia desesperadora", soluçava.

Varela informou no sábado sobre a decisão de esvaziar totalmente a prisão de Uribana, uma operação que finalmente ocorreu na madrugada deste domingo tranquilamente e sem que os réus opusessem resistência. "Fazemos uma inspeção corporal, sua revisão (...) e determinamos para quais prisões eles querem ir", explicou Varela de madrugada à rede de televisão estatal VTV, detalhando que agora será feita "uma inspeção profunda" no centro, antes de reformá-lo para voltar a transferir os presos.

Na sexta-feira, uma inspeção em busca de armas em Uribana provocou um motim de um grupo de presos armados, que "arremeteram contra os efetivos da Guarda Nacional", explicou anteriormente a própria ministra.

Entre as vítimas que chegaram ao Hospital Central Antonio María Penida, em Barquisimeto, há 61 falecidos e 120 feridos, 90 dos quais receberam alta, informou neste sábado à AFP o diretor do centro, Ruy Medina, que atendeu à emergência. Os demais feridos evoluem satisfatoriamente, disse. Medina informou que todos os falecidos que chegaram ao necrotério do hospital eram presos.

Varela, por sua vez, negou-se no sábado a fornecer um balanço oficial para não entrar em "uma competição de números". O vice-presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ordenou na sexta-feira à noite a investigação do motim, um dos episódios mais violentos das últimas décadas nas prisões do país.

A oposição e organizações não governamentais criticaram a forma como a inspeção foi realizada, assim como a gestão do ministério de Assuntos Penitenciários, criado em meados de 2011 para solucionar a violência e a superlotação das prisões venezuelanas.

O Observatório Venezuelano de Prisões (OVP) considerou que a inspeção "não foi devidamente coordenada nem aplicada pelos especialistas em trabalhos deste tipo, que fizeram um uso desproporcional da força". A opositora Mesa da Unidade Democrática afirmou que "os verdadeiros culpados pela violência vivida nas prisões do país são os funcionários que permitem a entrada de todo tipo de armas de fogo".

Segundo a OVP, a prisão de Uribana tem capacidade para 850 réus, mas abrigava 2.500. Além disso, encontra-se sob medidas provisórias de proteção da Corte Interamericana de Direitos Humanos desde 2007, que estabelecem que as autoridades devem velar para evitar a perda de vidas em seu interior.

As prisões venezuelanas sofrem com problemas de insalubridade, superlotação e violência, e em muitos casos são controladas por grupos de presos fortemente armados, que constantemente geram confrontos internos.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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