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América Latina

Uribe deixa controvertido legado a sucessor na Colômbia

28 mai 2010 - 09h03
(atualizado às 09h20)
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Os colombianos comparecem às urnas no próximo domingo para escolher o sucessor de Álvaro Uribe, o presidente mais popular da história recente do país e que após oito anos de Governo deixará uma controvertido legado, com sucessos em matéria de segurança e acusações sobre violações de direitos humanos.

Com uma popularidade de 70% faltando três meses para o fim de seu mandato, Uribe conseguiu encurralar as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) com o uso da força militar e desmontou as temidas Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC, organização paramilitar ultradireitista), o que aumentou a percepção de segurança em um país imerso em um conflito interno há mais de quatro décadas.

As cidades foram as mais favorecidas, porque a Polícia recuperou o controle das ruas, assim como as principais estradas e rodovias, mas o conflito se deslocou às fronteiras e regiões isoladas com um rastro de civis deslocados de seus lares.

Uribe fez este trabalho dentro de sua Política de Defesa e Segurança Democrática, o eixo de sua gestão e sobre a qual analistas destacam sucessos e fracassos, uma herança com muitos desafios para o próximo presidente.

"A Segurança Democrática é uma política de Estado, que pela primeira vez na Colômbia foi prioridade absoluta do Governo", explicou à Agência Efe o diretor da Fundação Segurança e Democracia, Alfredo Rángel, para quem o maior êxito do presidente está em "ter conquistado um imenso apoio da população".

Uribe também fortaleceu as Forças Armadas e assegurou o respaldo dos Estados Unidos, principal aliado da Colômbia. Tudo isso graças a "uma liderança muito forte, muito decidida, muito envolvida do presidente", acrescentou o analista, que participou da elaboração das minutas do programa de Segurança Democrática.

Sem dúvida, trata-se de um ponto de inflexão na história da Colômbia, onde "existia há muito tempo um problema crônico de insegurança e violência", acrescentou Rángel.

Segundo o analista, durante o Governo de Uribe, o número de combatentes das Farc caiu de 18 mil para 6 mil; já o Exército de Libertação Nacional (ELN) tem atualmente apenas um quinto do número de militantes do passado, cerca de 500. Além disso, 31 mil paramilitares abandonaram as armas.

Rángel ainda elogiou o trabalho de Uribe no combate ao narcotráfico. "A Colômbia, que produzia 90% da cocaína em nível mundial, hoje está produzindo 50%", afirmou.

Mas esta política também colecionou fracassos, como o atraso da presença do Estado no conjunto do território, a mudança do conflito para as fronteiras, o enfraquecimento da Justiça, as execuções extrajudiciais de civis praticadas pelo Exército e a espionagem ilegal por parte do serviço de inteligência, reconheceu Rángel.

No mesmo sentido, Alejo Vargas, também analista em Segurança e Política Pública da Universidade Nacional da Colômbia, assinalou à Efe que Uribe "deixa basicamente uma Polícia fortalecida quanto a número e capacidade de resposta, mas também questionada por violações graves aos direitos humanos".

Segundo a ONG colombiana Consultoria para os Direitos Humanos e o Deslocamento Forçado (Codhes), dos 4,9 milhões de colombianos que se viram obrigados a abandonar seus lares nos últimos 25 anos por causa do conflito, 2,4 milhões foram expulsos de suas casas a partir 2002, ou seja, durante o Governo de Uribe.

De acordo com Vargas, os oito anos do Governo Uribe deixaram "as Farc enfraquecidas e desprestigiadas, mas também uma sociedade muito polarizada no tema da controvérsia democrática, porque para o Governo todos que não estivessem a seu lado eram considerados inimigos".

A Segurança Democrática, e especialmente "o papel onipresente de Uribe", gerou ainda "um enfraquecimento das autoridades locais e regionais", acrescentou.

Para o analista, o futuro presidente colombiano deverá manter "a expectativa sobre o tema de segurança, mas mais orientado à segurança cidadã", embora sem afrouxar a luta contra a guerrilha.

Um desafio difícil, porque para alguns Uribe estabeleceu um padrão muito alto em matéria de segurança, e para outros essas conquistas foram obtidas à custa dos direitos humanos dos cidadãos.

EFE   
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