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Sanguinetti: Mercosul "não tem direito" de não reconhecer Franco

24 jun 2012 - 20h32
(atualizado em 25/6/2012 às 17h22)
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O ex-presidente uruguaio Julio María Sanguinetti disse neste domingo que é "triste" a situação do Paraguai e condenou o que classificou como "intervencionismo" dos países do Mercosul e da Unasul, uma atitude "contrária a todas as tradições e normas da América Latina", afirmou. Sanguinetti opinou que os países do Mercosul (Argentina, Brasil e Uruguai) "não têm direito" de não reconhecer o novo governo paraguaio, "nem reivindicar eleições antecipadas".

A presidência de Lugo foi sacudida por reiteradas denúncias de paternidade feitas por várias mulheres, que pediam exames de DNA por filhos que, segundo elas, tiveram com o mandatário enquanto era bispo de San Pedro, Departamento mais pobre do país
A presidência de Lugo foi sacudida por reiteradas denúncias de paternidade feitas por várias mulheres, que pediam exames de DNA por filhos que, segundo elas, tiveram com o mandatário enquanto era bispo de San Pedro, Departamento mais pobre do país
Foto: AFP

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O ex-mandatário, advogado e líder histórico do Partido Colorado (tradicionalmente governante no Uruguai), assegurou em entrevista à rádio local El Espectador que o impeachment de Fernando Lugo "não configura um golpe militar", mas "um episódio cívico institucional". Sanguinetti disse que a situação de Lugo foi definida pelos "deputados e senadores eleitos pelo povo".

Após afirmar que a situação que se vive no Paraguai é "triste", o ex-presidente afirmou que os países da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) estão praticando um ato de "intervencionismo contrário a todas as tradições e normas da América Latina em relação à situação interna de um país que atuou dentro de seus códigos". Sanguinetti, que governou o Uruguai por duas ocasiões, defendeu que quem deve avaliar se a cassação de Lugo não foi adequada são as "instituições paraguaias ou a Corte Internacional de Justiça, mas não o governo argentino, brasileiro ou uruguaio".

O ex-presidente fez o comentário em referência às medidas tomadas pelos países-membros do Mercosul, que criticaram a decisão dos legisladores paraguaios e retiraram ou chamaram para consultas seus embaixadores em Assunção. "Com que direito estão fazendo isso, desconhecendo uma situação e propondo que se faça inconstitucionalmente uma eleição imediata?", refletiu Sanguinetti, para quem a postura dos governos da região representa um "perigoso precedente".

Na opinião do ex-mandatário uruguaio, os governos da região atuam de forma ideológica pois veem Lugo como um companheiro de "suas orientações". Sobre a possibilidade do Paraguai ser excluído do Mercosul e deixar o caminho livre para o ingresso formal da Venezuela, bloqueado até agora pela postura contrária do Parlamento paraguaio, Sanguinetti assegurou que se o bloco regional der este passo será um erro gigantesco.

Previamente, o governo uruguaio emitiu uma declaração na qual afirmou que o processo de destituição de Lugo "não teve as garantias essenciais" e pediu que fosse convocado novas eleições "o mais breve possível".

Processo relâmpago destitui Lugo da presidência

No dia 15 de junho, um confronto entre policiais e sem-terra em uma área rural de Curaguaty, ligada a opositores, terminou com 17 mortes. O episódio desencadeou uma crise no Paraguai, na qual o presidente Fernando Lugo, acusado pelo ocorrido, foi sendo isolado no xadrez político. Seis dias depois, a Câmara dos Deputados aprovou de modo quase unânime (73 votos a 1) o pedido de impeachment do presidente. No dia 22, pouco mais de 24 horas depois, o Senado julgou o processo e, por 39 votos a 4, destituiu o presidente.

A rapidez do processo, a falta de concretude das acusações e a quase inexistente chance de defesa do acusado provocaram uma onda de críticas entre as lideranças latino-americanas. Lugo, por sua vez, não esboçou resistência e se despediu do poder com um discurso emotivo. Em poucos instantes, Federico Franco, seu vice, foi ovacionado e empossado. Ele discursou a um Congresso lotado, pedindo união ao povo paraguaio - enquanto nas ruas manifestantes entravam em confronto com a polícia -, e compreensão aos vizinhos latinos, que questionam a legitimidade do ocorrido em Assunção.

EFE   
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