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América Latina

Raúl Castro à frente de Cuba: a reta final para o herdeiro de Fidel

22 fev 2013 - 18h46
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Com sua provável reeleição no domingo, o presidente cubano Raúl Castro terá cinco anos para impulsionar a lenta abertura iniciada desde que sucedeu seu irmão Fidel em 2006, e para preparar o terreno que governará ao final de seu último mandato, num contexto de incerteza criado pela doença de Hugo Chávez, aliado da ilha.

O próprio Raúl Castro fixou as novas regras do poder comunista ao limitar a dois o número de mandatos de cinco anos que podem cumprir os dirigentes cubanos.

O novo Parlamento, eleito após um longo processo eleitoral que começou em outubro com as eleições municipais, será constituído oficialmente no domingo para eleger os 31 membros do Conselho de Estado, principal órgão executivo, que é provável que designe seu presidente, Raúl Castro, para um segundo mandato.

Nesta sexta-feira, o presidente cubano brincou diante dos jornalistas dizendo que ia renunciar, pois teria direito a se aposentar em razão de sua idade.

"Vou renunciar. Já vou fazer 82 anos, tenho direito a me aposentar. Não acreditam em mim?", disse Castro sorrindo frente aos jornalistas, após ter acompanhado o primeiro-ministro da Rússia, Dimitri Medvedev, na deposição de uma oferenda de flores a um antigo cemitério militar soviético perto de Havana.

Brincadeiras à parte, os observadores buscam no seio do Conselho de Estado o possível sucessor de Raúl Castro, que deve governar o país - sem os irmãos Castro - a partir de 2018.

- Miguel Díaz-Canel, um engenheiro elétrico que completará 53 anos em abril, ex-ministro de Educação Superior que, desde março de 2012, é um dos oito vice-presidentes do Conselho de Ministros.

- Marino Murillo, um economista de 52 anos, vice-presidente do Conselho de Ministros e encarregado de supervisionar as reformas econômicas.

- Bruno Rodríguez, um advogado e diplomata de 55 anos, ministro das Relações Exteriores desde 2009 e que em dezembro ingressou ao escritório político do Partido Comunista de Cuba (PCC).

"O principal risco é uma transição intergeracional mal administrada. Essas experiências foram desastrosas para os partidos comunistas no poder", declarou à AFP o analista Arturo López-Levy, da Universidade de Denver no Colorado, nos Estados Unidos.

"Nenhum destes dirigentes poderá governar Cuba como fizeram Fidel Castro e Raúl Castro. Não contam com a legitimidade carismática que é o sinal chave de liderança histórica, portanto será um período de teste, em que estes possíveis candidatos terão que demonstrar a habilidade e capacidade de levar adiante as reformas que se propõem e moldar o futuro de Cuba", analisou em entrevista à AFP o cientista político cubano Carlos Alzugaray.

A espera de que surja um sucessor, Raúl Castro dispõe de cinco anos para continuar com sua "atualização" do sistema econômico cubano, herdado do modelo soviético e à beira da falência.

"O milagre do petróleo não é para amanhã e o apoio da Venezuela não é eterno, Raúl deve atuar", resumiu um diplomata ocidental.

Cuba não descobriu petróleo em suas recentes explorações no Golfo do México e está à mercê de uma eventual mudança de governo na Venezuela - principal pilar econômico da ilha - cujo presidente Hugo Chávez retornou esta semana a seu país depois de dois meses de tratamento em Havana.

Cuba ainda enfrenta um severo embargo comercial e econômico imposto há mais de meio século pelos Estados Unidos.

Desde que sucedeu oficialmente Fidel na presidência, em fevereiro de 2008, Raúl Castro empreendeu reformas estruturais, consistentes sobretudo ao inserir elementos de uma economia de mercado dentro do sistema estatal, sem tocar no poder do PCC.

Também realizou reformas sociais, como uma nova lei migratória que autorizou os cubanos em janeiro a sair do país (concedeu carta branca), além de permitir desde 2008 a compra de telefones celulares e computadores e de os cubanos se hospedarem em hotéis, benefícios que até então eram reservados aos turistas estrangeiros.

Mas estas são apenas migalhas, segundo a oposição que continua exigindo liberdade de expressão, liberdade de associação e direito a manifestar sua oposição a um regime comunista que considera todo opositor como um "mercenário" a mando dos Estados Unidos.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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