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América Latina

Processo de paz colombiano está no pior momento, diz negociador do governo

5 jul 2015 - 12h32
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O chefe negociador do governo colombiano nos diálogos de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Humberto de la Calle, afirmou que o processo passa por seu "pior momento" desde que foram iniciadas as conversas em Havana, em novembro de 2012.

Em sua primeira entrevista desde o começo das negociações, concedida ao veterano jornalista Juan Gossaín, e que será exibida esta noite pelo Canal Institucional, La Calle explicou que a atual onda de ataques da guerrilha minguou o apoio ao diálogo e faz com que "a desesperança" se espalhasse entre os colombianos.

"E nós temos que ter a honestidade de dizer aos colombianos que o processo de paz está no seu pior momento desde que iniciamos as conversas", disse na entrevista, que foi antecipada à Agência Efe e outros veículos.

La Calle não quis fixar prazos à negociação, mas advertiu que "o processo está chegando ao fim, por bem ou por mal".

"Seja porque alcançamos um acordo, já que estamos trabalhando na reta final dos temas de fundo. Ou por mal, se, como está ocorrendo, a paciência dos colombianos se esgotar. O risco é real", enfatizou.

Esta crise começou em 14 de abril, quando 11 militares morreram em um ataque das Farc em Buenos Aires, no departamento de Cauca, no sudoeste do país, o que levou o presidente, Juan Manuel Santos, a ordenar o reatamento dos bombardeios contra a guerrilha, em que morreram cerca de 50 rebeldes.

Essa situação desembocou em 22 de maio na suspensão do cessar-fogo unilateral iniciado cinco meses antes pelas Farc, que lançaram então uma ofensiva que se centrou nas infraestruturas energética e petrolífera.

Por causa desses ataques, o meio ambiente e milhões de pessoas foram castigadas e houve trocas de declarações que parecem ter afetado as relações entre os negociadores em Cuba.

"Quero dizer às Farc com toda seriedade: isto se pode acabar. Algum dia é provável que não nos encontrem na mesa de Havana", acrescentou o chefe negociador, que considerou "insuportável" para os colombianos o que está acontecendo.

Neste sentido, La Calle enviou uma mensagem à guerrilha durante a entrevista: "O senhor acredita que se isto fracassar vai haver outro governo que empreenda conversas com esse grupo? O tempo militar e o tempo histórico das Farc também estão se esgotando".

Questionados sobre as punições que os guerrilheiros enfrentarão se o acordo de paz for assinado, La Calle destacou que a situação mudou em relação a outros momentos históricos já que agora existem o Tribunal de Roma e a Corte Interamericana, por isso "não se pode suspender totalmente as penas".

Além disso, disse que "o país exige justiça sem anistias gerais. Isso não vamos fazer" e acrescentou que "as vítimas merecem justiça", o que transforma a negociação em torno deste ponto no "território mais difícil".

Também explicou que o mecanismo de justiça transicional, que permite processar os responsáveis por delitos durante o conflito armado sem cair na impunidade, cria um marco no qual "existe a possibilidade de selecionar, em primeiro lugar os fatos mais graves, para que sirvam como padrão ou referência: massacres, sequestros, violência sexual".

Uma "uma comissão independente" de nove membros faria essa seleção que seria entregue à procuradoria "para definir quem cometeram esses delitos que têm caráter internacional".

Em referência a uma possível extradição aos Estados Unidos por narcotráfico, como aconteceu com chefes paramilitares após sua desmobilização, assinalou que quem deve decidir sobre esse assunto é o presidente.

Por isso, pediu criar uma norma, derivada do acordo de paz, "que demonstre aos outros países que se trata de um acordo sério e respeitável, legítimo, para que respeitem o estipulado e não entrem em controvérsia com o país".

Além disso, La Calle abriu a porta para a declaração de um cessar-fogo ainda antes da assinatura de um acordo de paz, "na medida em que for sério, bilateral, definitivo e verificável, sempre e quando tivermos a garantia que eles (as Farc) assumem sua responsabilidade em matéria judicial e verificação nacional e internacional".

Ele argumentou que há uma grande dificuldade neste ponto porque na Colômbia "há outras fontes de violência, diferentes das Farc, e não podemos dizer à polícia que fique quieta".

"Se querem um cessar-fogo, o governo está disposto a antecipá-lo, para o qual são fundamentais as zonas de concentração (onde se reúnem os guerrilheiros). Esse é o caminho", concluiu.

EFE   
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