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América Latina

Primeiro dia da cúpula UE-Celac indica acordo sobre Venezuela

10 jun 2015 - 19h57
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O vice-presidente da Venezuela, Jorge Arreaza, afirmou nesta quarta que os países da União Europeia e da Celac alcançaram um acordo para incluir na declaração final da cúpula birregional uma menção sobre as sanções dos EUA à Venezuela, um ponto que dividia os dois blocos.

"Ficou - na declaração final que amanhã (quinta-feira) assinaremos, em nome do presidente Maduro (...) - um parágrafo no qual a Celac expressa sua preocupação e a UE acolhe essa preocupação", disse Arreaza.

Arreaza se referiu ao repúdio da Venezuela, país apoiado pela Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) - ao decreto emitido em março por Barack Obama. No texto, o presidente Obama qualifica o país sul-americano de ameaça para os Estados Unidos e já sancionou sete funcionários venezuelanos.

O vice-presidente venezuelano chegou a Bruxelas na noite de terça-feira de surpresa para participar da cúpula, informaram à AFP fontes latino-americanas. Na lista oficial divulgada pela UE, aparecia o nome da chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, como chefe da delegação presente ao evento, do qual participam 61 países.

A princípio, estava prevista a participação do presidente Nicolás Maduro, que também deveria se reunir no domingo passado com o papa Francisco, no Vaticano. O encontro com o sumo pontífice, renomado mediador de conflitos, foi cancelado por uma "otite forte" do presidente.

Já na abertura da cúpula, a Venezuela dominou a atenção dos presentes, quando o presidente equatoriano, Rafael Correa, presidente pró-tempore da Celac, atacou as sanções americanas contra o governo Maduro.

"Rejeitamos e exigimos a derrogação da ordem executiva emitida pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama [...] A ordem, além do ridículo argumento, viola flagrantemente o Direito Internacional", afirmou o presidente equatoriano em seu discurso inaugural.

A presidente Dilma Rousseff insistiu no mesmo ponto. "Sabemos que essas medidas são contraproducentes, ineficazes e injustas. Por isso, rejeitamos a adoção de qualquer tipo de sanções contra a Venezuela", afirmou Dilma, em sessão plenária, segundo o discurso enviado à imprensa pelo Palácio do Planalto.

À noite, Arreaza declarou que o presidente da Bolívia, Evo Morales, e outros dirigentes latino-americanos mencionaram "o tema da necessária anulação imediata deste decreto".

Além da posição da Casa Branca, europeus e latino-americanos se desentendem sobre a postura a adotar perante a situação política venezuelana, onde três dirigentes opositores - Antonio Ledezma, Leopoldo López e Daniel Ceballlos - estão presos. O trio é acusado de incitar à violência e de conspirar contra o governo Maduro.

Diante da defesa explícita da Celac ao governo venezuelano, a Europa, que demonstrou em várias ocasiões sua "preocupação" com a situação política do país, mostrou-se muito reticente.

A Venezuela foi o "ponto mais difícil" na negociação da declaração final, admitiram fontes europeias.

Mais cedo, na abertura da cúpula conjunta com a Celac, a União Europeia manifestou seu apoio ao presidente colombiano, Juan Manuel Santos, no processo de paz com a guerrilha das Farc. A UE também demonstrou sua vontade de normalizar as relações com Cuba.

"Apoiaremos os esforços do presidente Santos para que se obtenha uma paz duradoura na Colômbia", afirmou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, no discurso de abertura desse encontro de dois dias.

"A UE colocará em andamento um fundo para apoiar as ações pós-conflito no país", acrescentou Tusk, diante de mais de 40 chefes de Estado e de Governo europeus e latinos.

Além disso, Tusk reafirmou o compromisso europeu de concluir as negociações sobre o diálogo político e o acordo de cooperação com Cuba, saudando a normalização das relações entre a Ilha e os Estados Unidos.

Tusk lembrou ainda que a UE é o primeiro investidor e segundo sócio comercial da região latina e pediu que se modernize a associação estratégica entre os dois blocos.

Os ministros das Relações Exteriores da UE e da Celac analisaram, durante dois dias - quarta e quinta-feira -, o futuro das relações entre as regiões.

Juntas, as duas regiões somam 1,1 bilhão de habitantes e correspondem a um terço dos membros das Nações Unidas.

Com esse encontro, a UE espera "aproximar posições" e obter uma "cooperação mais estreita" em relação aos temas da agenda global - em especial na mudança climática, de olho na Conferência de Paris, no fim do ano.

A UE busca ainda reforçar o diálogo político e os vínculos comerciais com essa região de 33 países. Destes, 26 já assinaram acordos de associação com importantes capítulos comerciais.

A cúpula desta quarta e quinta-feira com os presidentes de ambas as regiões será a oportunidade para Chile e México avançarem na "modernização" de seus acordos comerciais com os europeus, com a incorporação de novos setores - como o da energia, no caso do país norte-americano.

As estagnadas negociações com o Mercosul também estão na agenda. Na quinta-feira, durante o "retiro" dos chefes de delegação, a comissária europeia do Comércio, Cecilia Malmstrom, vai-se reunir com os chanceleres dos países do Mercosul. Nesse encontro, serão definidos os passos a seguir.

A portas fechadas, devem discutir "o futuro das relações birregionais no âmbito dos novos desafios mundiais", relatou uma fonte diplomática europeia.

As fontes consultadas pela AFP disseram que estará sobre a mesa a proposta de organizar esses encontros em nível ministerial, de maneira mais regular.

Esta será a segunda cúpula entre a Celac e a UE. O primeiro encontro aconteceu em 2013 no Chile.

Em entrevista à AFP, a secretaria-executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), Alicia Bárcenas, considerou que as duas regiões devem "ceder" em suas posições, se quiserem fechar um acordo comercial.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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