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Policial haitiano atira em militares brasileiros por comida

20 jan 2010 - 08h44
(atualizado às 08h46)
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Um grupo de militares brasileiros que faziam segurança do transporte de alimentos nas ruas de Porto Príncipe foi alvejado com tiros na tarde de segunda-feira. O incidente foi confirmado à BBC Brasil por dois militares que integram o Batalhão Brasileiro no Haiti (Brabat).

Policiais usam cassetetes para dispersar haitianos:

Segundo os relatos, houve troca de tiros assim que os primeiros disparos foram ouvidos. Um haitiano teria sido preso e identificado como membro da polícia local.

Um dos militares descreveu o episódio como "natural", já que o terremoto "potencializou" a insegurança alimentar no país caribenho. Procurado pela BBC Brasil, o comando do Batalhão não confirmou a informação dos dois militares, mas acrescentou que não seria improvável.

Visibilidade

O comandante do contingente militar da ONU no Haiti, general Floriano Peixoto, minimizou o impacto dos recentes episódios de violência no pais. Segundo ele, a "natureza dos incidentes" registrados nos últimos dias "é a mesma" do período pré-terremoto.

"Tínhamos saques, sequestros (antes do desastre). O que temos agora é uma maior visibilidade", disse ele. "Os incidentes já aconteciam antes do terremoto",disse.

Apesar dos relatos, em situações de violência, sobretudo na favela Cite Soléil, o general diz que os casos são "pontuais". O embaixador brasileiro no Haiti, Igor Kipman, disse que violência que se vê em Porto Príncipe é "esporádica".

"A situação preocupa sim, mas não está em descontrole", disse o embaixador a um grupo de jornalistas na base militar brasileira. Ainda segundo o embaixador, a ideia de que as gangues voltaram a dominar a favela "não é verdadeira".

A expectativa, de acordo com Kipman, é que de um novo presídio, que já estava sendo construído por canadenses no país, fique pronto até março. Ate lá, os presos serão colocados em prisões provisórias.

Segundo o governo haitiano, cerca de 4 mil presos fugiram das penitenciárias de Porto Príncipe, que ficaram parcialmente destruídas e sem vigilância após o terremoto que devastou a capital.

Terremoto

Um terremoto de magnitude 7 na escala Richter atingiu o Haiti nessa terça-feira, às 16h53 no horário local (19h53 em Brasília). Com epicentro a 15 km da capital, Porto Príncipe, segundo o Serviço Geológico Norte-Americano, o terremoto é considerado pelo órgão o mais forte a atingir o país nos últimos 200 anos.

Dezenas de prédios da capital caíram e deixaram moradores sob escombros. Importantes edificações foram atingidas, como prédios das Nações Unidas e do governo do país. Estimativas mais recentes do governo haitiano falam em mais de 200 mil mortos e 50 mil corpos já enterrados. O Haiti é o país mais pobre do continente americano.

Morte de brasileiros

A fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, Organismo de Ação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Zilda Arns, o diplomata Luiz Carlos da Costa, segunda maior autoridade civil da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti, e pelo menos 16 militares brasileiros da missão de paz da ONU morreram durante o terremoto. Dois militares estão desaparecidos.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, e comandantes do Exército chegaram na noite de quarta-feira à base brasileira no país para liderar os trabalhos do contingente militar brasileiro no Haiti. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil anunciou que o país enviará até US$ 15 milhões para ajudar a reconstruir o país. Além dos recursos financeiros, o Brasil doará 28 t de alimentos e água para a população do país. A Força Aérea Brasileira (FAB) disponibilizou oito aeronaves de transporte para ajudar as vítimas.

O Brasil no Haiti

O Brasil chefia a missão de paz da ONU no país (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, ou Minustah, na sigla em francês), que conta com cerca de 7 mil integrantes. Segundo o Ministério da Defesa, 1.266 militares brasileiros servem na força. Ao todo, são 1.310 brasileiros no Haiti.

A missão de paz foi criada em 2004, depois que o então presidente Jean-Bertrand Aristide foi deposto durante uma rebelião. Além do prédio da ONU, o prédio da Embaixada Brasileira em Porto Príncipe também ficou danificado, mas segundo o governo, não há vítimas entre os funcionários brasileiros.

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