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América Latina

Peru se divide entre fujimorismo e antifujimorismo

8 abr 2016 - 18h28
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A possibilidade de Keiko Fujimori vencer as próximas eleições presidenciais no Peru reativou o movimento antifujimorista, que lembra a corrupção e as violações aos direitos humanos durante o governo de seu pai, Alberto Fujimori, que cumpre pena de 25 anos de prisão.

Após sua derrota no pleito de 2011 para o atual presidente Ollanta Humala, Keiko, de 40 anos, tem liderado as pesquisas realizadas no país, apesar da necessidade de um segundo turno. A questão que ainda não está definida é seu adversário.

De acordo com as últimas pesquisas, o ex-ministro Pedro Pablo Kczynski, está tecnicamente empatado com a congressista Verónika Mendonza. Mais atrás vem o jornalista Alfredo Barnechea.

Apesar das tentativas feitas por Keiko durante a campanha para se desvincular do legado do pai, há um setor da sociedade peruana que a considera um risco para a democracia.

A filha do ex-presidente se afastou de reconhecidos aliados fujimoristas e das posturas mais extremas de direita. Inclusive, chegou a reconhecer erros e crimes no governo de seu pai.

Alguns analistas, como Luis Benavente, diretor da empresa de pesquisas Vox Populi, consideram que Keiko apresentou um estilo próprio de liderança durante a campanha: mais amigável, sem atacar os rivais e soube fugir das perguntas dos jornalistas diante dos ataques ao seu pai.

Outros, como Alfredo Torres, presidente-executivo do Instituto Ipsos, destacam que Keiko "realizou um trabalho intenso percorrendo o país e desenvolvendo conexão com a população", além de ter cometido poucos erros.

Mas o problema de Keiko, disse Torres à Agência Efe, é o "passado e o entorno de gente ligada ao governo de seu pai". Por isso, há temores, "um pouco exagerados" na avaliação do analista, que Keiko possa permitir a volta do autoritarismo e da corrupção.

Os peruanos estão divididos entre os que reconhecem o êxito de Alberto Fujimori na luta contra o grupo guerrilheiro Sendero Luminoso e no crescimento econômico do Peru, e os que não perdoam os casos de corrupção e violações aos direitos humanos, transformando as eleições em um duelo entre o fujimorismo e o antifujimorismo.

As revogações de várias candidaturas que tinham conquistado parte do eleitorado que busca um novo nome e outra forma de fazer política fez com que o antifujimorismo ganhasse força, algo que os analistas previam que ocorreria somente no segundo turno.

Benavente explicou que essa polarização é um clássico nas eleições peruanas. Os fujimoristas têm o apoio de um terço do eleitorado e "é o populismo de direita mais forte da América Latina". O que gerou o antifujimorismo, fenômeno que já ocorreu nas eleições presidenciais de 2000 e 2011.

Para Torres, o fujimorismo e o antifujimorismo "são dois lados da mesma moeda". "Uns veem as conquistas, os outros veem o lado obscuro da década de governo de Alberto Fujimori".

Para o presidente-executivo do Instituto Ipsos, a candidata da Frente Ampla, Verónika Mendoza, é quem melhor capitaliza o movimento antifujimorista.

Benavente também destacou que nos protestos registrados nas últimas semanas contra a candidatura de Keiko, grande parte dos manifestantes era formada por jovens que não viveram o governo de Alberto Fujimori.

Além disso, ressaltou que em uma sociedade como a peruana, na qual predomina o pensamento mágico-religioso, uma vitória de Keiko é vista como o "mito do eterno retorno", na qual "o pai retorna encarnado em sua filha".

Mas o sentimento antifujimorista, que se reforça com as manifestações contra Keiko, pode provocar uma nova derrota da filha do ex-presidente, como ocorreu no pleito de 2011.

Um dos mais reconhecidos opositores da família Fujimori é o escritor Mario Vargas Llosa, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2010, que alertou que um triunfo de Keiko seria "a volta de uma das ditaduras mais corrompidas, violentas e sanguinárias".

Independentemente de quem vencer as eleições presidenciais, o que se dá como certo é que o partido de Keiko, Força Popular, será o com mais representação no parlamento peruano.

EFE   
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