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Peru: ex-militar de esquerda é favorito em eleição incerta

8 abr 2011 - 13h49
(atualizado às 14h07)
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Ollanta Humala, um ex-militar de esquerda que questiona o modelo econômico do país, perfila-se como vencedor eventual do primeiro turno da eleição presidencial no Peru. A grande incógnita está em quem o acompanhará no segundo turno: Keiko Fujimori, Pedro Pablo Kuczynski ou Alejandro Toledo.

"Agora é a vez dos pobres", disse Humala, no encerramento da campanha em Arequipa, feudo eleitoral no sul do país deste ex-militar de 48 anos, que as pesquisas dão como certa a vitória no primeiro turno do pleito de domingo.

Na melhor opção para a segunda etapa da eleição aparece a parlamentar Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori.

Humala - um nacionalista, a quem os adversários acusam de ser aliado do presidente venezuelano Hugo Chávez - possui 28 a 29% das intenções de voto, posicionando-se com vantagem superior a 7 pontos sobre Keiko Fujimori, enquanto Toledo Kuczynski, em empate técnico, fica a dois pontos atrás dela.

Em seu fechamento de campanha, o ex-presidente Toledo, que aspira a ser reeleito depois de ter governado entre 2001 e 2006, fez, na quinta-feira, apelo ao medo, citando a perspectiva de um segundo turno entre Humala e Keiko Fujimori.

Votar em Keiko Fujimori ou Humala "é escolher entre um passado obscuro e um salto no vazio", reiterou Toledo nesta sexta-feira.

Esse cenário eventual foi definido pelo prêmio Nobel de Literatura, Mario Vargas Llosa, como "uma escolha entre a Aids e um câncer terminal".

Humala prometeu nacionalizar empresas e reformar a Constituição, seguindo modelo implantado na Venezuela e que foi adotado em países aliados como Bolívia, Equador e Nicarágua, como repete Toledo.

Num país que no ano passado cresceu quase 8%, o maior avanço da última década, a popularidade de Humala se explica pelo fato de a nova riqueza não ser redistribuída com equidade, segundo analistas. O país mantém bolsões de pobreza que alcançam 34% da população e um emprego informal de 70%.

"Humala sintoniza com um amplo setor do eleitorado nacional que exige mudanças na política econômica neoliberal e um efetivo combate ao câncer da corrupção no país", disse o analista Carlos Reina.

Keiko Fujimori, de 35 anos, manteria o modelo econômico, mas a instabilidade num eventual governo seu deriva do fato de ser a herdeira do governo de Alberto Fujimori, caracterizado pela violação dos direitos humanos, autoritarismo e corrupção.

Durante a campanha, Keiko ficou entre distanciar-se ou aproximar-se do legado de seu pai, segundo as circunstâncias, mas já no fechamento dos comícios definiu o governo como o "melhor da história do Peru".

"Um governo de Keiko estaria desde o primeiro dia na berlinda, não só na frente nacional, mas na comunidade internacional pela possibilidade de concessão de anistias a seu pai e a violadores dos direitos humanos", disse à AFP o cientista político Aldo Panfichi.

A continuidade do modelo econômico atual - baseado na expansão da mineração, nas exportações agrícolas e numa robusta demanda interna - estaria garantida por Toledo ou por Kuczynski, um ex-ministro da Economia de 72 anos (o dobro da idade de Keiko).

Milionário e ex-executivo do Banco Mundial, Kuczynski, partidário do livre mercado, foi subindo nas pesquisas e aspira a passar para o segundo lugar, com uma promessa de estabilidade e de trabalhar para diminuir a pobreza.

Cerca de 20 milhões de peruanos estão convocados para votar no próximo domingo, quando também será eleito o novo Congreso, em meio a esse panorama de incerteza que poderá estender-se por dias. Basta lembrar, para isso, a contagem oficial lenta e as previsíveis impugnações de votos, como aconteceu em 2006.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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