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América Latina

Mujica elogia diálogo entre Colômbia e Farc e defende modo de vida austero

O presidente uruguaio realiza uma viagem internacional que inclui China, Espanha e Itália, para reforçar vínculos bilaterais e atrair investimentos

30 mai 2013 - 17h04
(atualizado às 17h25)
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<p>Mujica realiza uma viagem internacional que inclui China, Espanha e Itália</p>
Mujica realiza uma viagem internacional que inclui China, Espanha e Itália
Foto: EFE

A negociação entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) "é a coisa mais importante que está acontecendo agora na América Latina", afirmou nesta quinta-feira o presidente do Uruguai, José Mujica.

Os esforços para terminar com 50 anos de guerra "merecem todo o apoio da sociedade mundial. Os conflitos armados já não solucionam nada", enfatizou o ex-guerrilheiro de 78 anos, dos quais passou 14 na prisão durante a ditadura em seu país (1973-1985).

Mujica, que realiza uma viagem internacional que inclui China, Espanha e Itália, para reforçar vínculos bilaterais e atrair investimentos, analisou na entrevista a situação regional e nacional, a crise europeia, e comentou sua visão da vida e da política.

Quais reflexões o senhor faz sobre o desponte econômico na América Latina, em contraste com a profunda crise na União Europeia?

Mujica -

A América Latina está vivendo uma idade florescente. Em termos econômicos aprendemos que não se pode viver com um déficit fiscal, que é necessário cuidar dos recursos públicos e administrá-los melhor, e a conjunção positiva de política e economia ajudou a diminuir o grau de injustiça enorme na região. A crise europeia, já prolongada demais, está nos abatendo parcialmente, neste mundo globalizado. A Europa vive uma crise de caráter político, no sentido que não encontra o rumo do conjunto de decisões que lhe permitam sair dessa estagnação. Qual rumo? Pedimos à Europa e ao governo espanhol que defenda uma perspectiva que permita concluir a negociação que dura já muitos anos entre Mercosul e União Europeia.

<p>Na Espanha, ele conversou com a Agência EFE</p>
Na Espanha, ele conversou com a Agência EFE
Foto: EFE
Suas iniciativas para legalizar o aborto e a venda e consumo de maconha chocam com uma grande oposição em seu país, segundo recentes pesquisas, ao mesmo tempo em que por elas uma ONG holandesa lhe indicou ao Prêmio Nobel da Paz 2013.

Mujica -

As enquetes são favoráveis à legalização do aborto, mas há uma negativa majoritária da população sobre a maconha. Pretendemos regular um mercado que já existe e proibi-lo é deixá-lo no mundo clandestino. O verdadeiro problema não é a maconha, mas o narcotráfico, porque o consumo existe em nossa sociedade.

Como o senhor, que foi guerrilheiro, vê o processo de negociação em andamento entre o governo colombiano e as Farc?

Mujica -

É o que de mais importante está acontecendo na América Latina. Todos os esforços para que a Colômbia possa terminar com 50 anos de guerra merecem todo o apoio da sociedade mundial. Os conflitos armados já não solucionam nada e não fazem bem a ninguém. As primaveras árabes se iniciaram com violência e não parece que as sociedades vivam melhor. São expressões de um momento. Em alguns lugares incentivaram uma espécie de fanatismo que não acompanha a época moderna. Não se deve querer impor o que pensamos, é preciso respeitar a todo o mundo.

Como é sua relação com a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, após recentes desencontros, provocados por comentários seus sobre sua personalidade?

Mujica -

A relação é boa, com o país e sua presidente. Em política segue havendo bastante machismo e a presidente (argentina) tem que adotar em algumas ocasiões uma atitude mais forte.

O senhor vive com austeridade sua vida privada e pública. Deveriam outros governantes e cargos públicos seguir seu exemplo?

Mujica -

Eu sou sóbrio em minha maneira de viver, leve de bagagem, como dizia (o poeta espanhol) Antonio Machado. Se tenho uma casa e uma vida muito complicada e muita riqueza que cuidar, não tenho tempo para fazer as coisas que eu gosto. Os governantes deveriam sempre dar exemplo e lembrar que não levam nada na gaveta. Eu faço isso pela minha própria concepção da vida. Estive 14 anos preso e quando me davam um colchão já me sentia feliz. Não precisamos de muito...

EFE   
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