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Morte de Hugo Chávez

Analistas: morte de Chávez pode mudar balanço político na América Latina

5 mar 2013 - 21h37
(atualizado às 21h43)
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Apoiadores do presidente venezuelano choram após vice-presidente do país anunciar a morte do líder
Apoiadores do presidente venezuelano choram após vice-presidente do país anunciar a morte do líder
Foto: Reuters

Os efeitos da morte do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, deverão ser sentidos em países vizinhos, entre os quais o Brasil, e poderão afetar alianças políticas e econômicas regionais. A opinião é de analistas ouvidos pela BBC Brasil.

No poder desde 1999, Chávez tornou-se referência para políticos de esquerda que viriam a se tornar presidentes em nações vizinhas nos anos seguintes.

A afinidade ideológica do grupo culminou na criação, em 2004, da Alba (Aliança Bolivariana para as Américas), que hoje agrega Venezuela, Equador, Bolívia, Cuba, Nicarágua e os pequenos países caribenhos de Antígua e Barbuda, Dominica e São Vicente e Granadinas.

Para Nicholas Watson, especialista em Venezuela da consultoria Control Risks, baseada na Colômbia, a morte de Chávez tende a alterar o equilíbrio das alianças políticas na América Latina em favor de governos mais moderados, como os de Chile e Brasil. Já os membros da Alba e, em menor grau, a Argentina, devem perder força, segundo ele. "A morte de Chávez não significa um desastre para a esquerda, mas deve favorecer os países mais centristas."

E para economias que se aproximaram da Venezuela durante o governo Chávez, como Nicarágua, Equador, Cuba e República Dominicana, a morte do presidente pode trazer impactos econômicos negativos, avalia Watson.

Hoje a Venezuela vende petróleo a preços abaixo do mercado para algumas nações vizinhas, especialmente no Caribe. "Talvez as condições de venda sejam mantidas pelo novo governo, mas, sem Chávez, deverá haver mais questionamentos na Venezuela."

Ainda assim, o analista diz que a morte do presidente venezuelano deverá ter menos impacto hoje do que se tivesse ocorrido entre 2005 e 2006, quando, segundo ele, a Venezuela vivia o ápice de sua influência regional. Desde então, a economia venezuelana entrou em crise, reduzindo o poder de influência de Caracas.

Watson afirma ainda que a morte de Chávez pode afetar as recém-iniciadas negociações entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Segundo o analista, o presidente venezuelano e o governo cubano tiveram um papel central na condução das Farc à mesa de negociações. "Com sua morte, o processo de paz perde um ator importante." Ele avalia, porém, que as conversas não serão interrompidas.

Militares declaram lealdade a Maduro após morte de Chávez:

Para Marcio Antônio Scalércio, professor de Relações Internacionais PUC-RJ, o impacto da morte de Chávez na América Latina dependerá, em grande medida, do resultado de uma nova eleição presidencial na Venezuela.

A Constituição venezuelana determina que, quando um presidente não pode tomar posse em razão de morte ou incapacidade, o presidente da Assembleia Nacional deve assumir o Executivo interinamente e convocar eleições presidenciais em até 30 dias.

Chávez assumiria um novo mandato de seis anos em 10 de janeiro. Dias antes de sua saúde se deteriorar, ele afirmou que, caso não pudesse tomar posse, esperava que os venezuelanos escolhessem o vice-presidente Nicolás Maduro como seu substituto. Ex-motorista de ônibus que iniciou sua trajetória política como líder sindical, Maduro chefia o Ministério de Relações Exteriores venezuelano desde 2006. Para Scalércio, porém, não está claro se Maduro conseguirá "herdar todo o capital político que o Chávez detinha".

Antes de ser submetida à apreciação dos eleitores venezuelanos, é possível que a eventual candidatura de Maduro enfrente resistências dentro do partido governista, o PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela). Ex-militar, o presidente Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, é tido como outro alto quadro do partido interessado em concorrer à Presidência.

Na oposição, o governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles, é considerado o principal candidato a disputar o cargo. Acredita-se que uma vitória de Capriles na eleição implicaria alterações mais sensíveis no papel regional da Venezuela.

Durante a última corrida à Presidência, referindo-se a Cuba, Capriles disse que deixaria de "presentear a ilha com petróleo". Estima-se que dois terços do petróleo importado por Cuba venham da Venezuela.

Do ponto de vista econômico, os rumos da sucessão venezuelana também dizem respeito ao Brasil. Quarta maior economia sul-americana, a Venezuela é a oitava maior importadora de produtos brasileiros no mundo. Em 2012, ela foi responsável por 2% de todas as compras de produtos brasileiros, quantia só superada na América do Sul pela Argentina.

Veja íntegra do discurso em que Maduro anunciou morte de Chávez:

Segundo a Embaixada da Venezuela no Brasil, as relações comerciais entre Brasil e Venezuela cresceram 287% nos últimos 13 anos. O saldo é amplamente favorável ao Brasil, que detém superávit de cerca de US$ 3,8 bilhões nas trocas com o vizinho.

Para Nicholas Watson, as relações comerciais entre Venezuela e Brasil hoje se assentam em bases sólidas e dificilmente serão afetadas pela morte de Chávez.

No ano passado, os laços econômicos entre os dois países ganharam um novo ramo quando a Venezuela ingressou formalmente no Mercosul, também integrado por Uruguai, Paraguai e Argentina. Na última cúpula do bloco, no início de dezembro, anunciou-se que Caracas buscaria antecipar a adoção de todas as normas técnicas do grupo, processo que poderia durar até quatro anos.

Watson diz crer que a morte de Chávez não deve prejudicar a adesão e que, sem o presidente, a faceta econômica do grupo deve ser fortalecida. "A entrada da Venezuela no Mercosul foi um ato mais político do que econômico. A remoção dos elementos ideológico e político que Chávez representava pode ser conveniente ao bloco."

O analista diz ainda que o Brasil e outras grandes economias sul-americanas poderão tirar proveito caso o novo governante da Venezuela abra o setor petrolífero do país a investimentos externos. Sob Chávez, a Venezuela - dona das maiores de petróleo do mundo - restringiu a ação de empresas estrangeiras.

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