PUBLICIDADE
URGENTE
Saiba como doar qualquer valor para o PIX oficial do Rio Grande do Sul

América Latina

Morte de Chávez completa 1 mês e futuro da Venezuela segue indefinido

Destino da Venezuela será definido no próximo dia 14, quando acontecem as eleições presidenciais

5 abr 2013 - 10h46
(atualizado às 10h53)
Compartilhar
Exibir comentários
<p>Imagem de Chávez com mensagens de simpatizantes foi colocado no  exterior da Academia Militar em Caracas, onde o corpo foi velado por 10 dias</p>
Imagem de Chávez com mensagens de simpatizantes foi colocado no exterior da Academia Militar em Caracas, onde o corpo foi velado por 10 dias
Foto: Tomas Bravo / Reuters

Um mês se passou desde o anúncio da morte de Hugo Chávez, vítima de um câncer aos 58 anos, e o futuro da Venezuela ainda não está definido. A continuidade da “revolução bolivariana” iniciada em 1999 estará em jogo no próximo dia 14, quando acontece a eleição presidencial. De um lado, o presidente interino Nicolás Maduro, autodeclarado “filho de Chávez”, e, de outro, novamente o jovem Henrique Capriles, que perdeu a eleição de 2012 para o próprio Chávez.

No início da noite do dia 5 de março, Maduro, então vice-presidente, apareceu em rede nacional de rádio e televisão acompanhado do alto escalão do governo para, aos prantos, dar a esperada notícia. Chávez morreu no Hospital Militar, em Caracas, para onde foi sido transferido após quase três meses em Havana tratando o câncer. No mesmo dia, um pouco antes do anúncio, fontes do governo já informavam que a saúde do mandatário tinha piorado.

Era o fim de um período confuso, duvidoso e turbulento na Venezuela. O corpo do presidente passou a noite sendo preparado no Hospital Militar e, no final da manhã do dia 6, foi levado para a Academia Militar para o velório. Um cortejo gigante tomou conta das ruas de Caracas. A maré vermelha aumentava a cada hora, quando centenas de pessoas chegavam do interior do país para se despedir de seu líder.

<p>Ex-presidente Lula e presidente Dilma Rousseff, com a filha do presidente venezuelano, Hugo Chávez, Rosa Virginia</p>
Ex-presidente Lula e presidente Dilma Rousseff, com a filha do presidente venezuelano, Hugo Chávez, Rosa Virginia
Foto: Palácio de Miraflores / Reuters

O velório durou dez dias e contou com a presença de dezenas de chefes de Estado. Cristina Kirchner, da Argentina, José Mujica, do Uruguai, e Evo Morales, da Bolívia, foram os primeiros a chegar. Eles participaram do primeiro dia dos atos fúnebres. A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também compareceram.

Maduro chegou a anunciar que o corpo de Chávez seria embalsamado e ficaria exposto para sempre no Museu da Revolução, mas voltou atrás dias depois alegando que especialistas russos disseram que para realizar o procedimento o corpo do presidente teria que passar três meses fora do país.

Futuro incerto

Hoje, um mês após o dia em que a tristeza tomou conta dos chavistas, a Venezuela está envolvida em uma intensa campanha eleitoral, marcada pela incerteza política e econômica e pelo vazio deixado pelo presidente, onipresente na vida política há 14 anos.

<p>Caixão é conduzido pelas ruas de Caracas em meio a uma multidão de apoiadores</p>
Caixão é conduzido pelas ruas de Caracas em meio a uma multidão de apoiadores
Foto: Jorge Dan Lopez / Reuters

Para o governo, Chávez continua vivo e está no centro da campanha eleitoral. A imagem do chefe de Estado está nos muros de Caracas e nos cartazes exibidos nos comícios. Seus discursos foram novamente divulgados pelas TVs estatais e o programa eleitoral de Maduro é exatamente o mesmo de Chávez.

Na opinião do sociólogo brasileiro Felippe Ramos, que mora em Caracas, nesse um mês foi possível constatar que o chavismo está consolidado como movimento político. “Nem o Capriles trabalha com a ideia de que ele será presidente agora”, afirmou ao Terra, ressaltando que Capriles se destaca por ser mais racional e estratégico que os demais líderes opositores. “Ele não trabalha com o curtíssimo prazo, mas vê que, em algum momento o chavismo vai perder uma eleição e, como ele é muito jovem, procura se manter como um ator importante na oposição”, argumenta.

Henrique Capriles, 40 anos, perdeu a eleição de 7 de outubro do ano passado. No entanto, na campanha contra Maduro se mostra mais agressivo do que quando enfrentou Hugo Chávez. “Isso prova que ele se comporta através de uma tática traçada”, diz Ramos, que lembra que Capriles "sabia que Chávez era um líder imbatível" e procurou não bater de frente com ele. Com Maduro a tática á diferente. O herdeiro político de Chávez foi escolhido para o confronto direto, na opinião do sociólogo brasileiro.

Socialismo cristão

"Maduro não enfrenta uma campanha eleitoral, parece estar em uma sessão de espiritismo e ser um médium de Chávez para ganhar votos e unir o chavismo. Manter viva a emoção chavista é uma tática eleitoral", disse à agência AFP Manuel Felipe Sierra, veterano jornalista e autor de vários livros sobre a realidade política venezuelana.  

Milhares de pessoas fazem fila par dar o último adeus a Chávez
Milhares de pessoas fazem fila par dar o último adeus a Chávez
Foto: EFE

O candidato chavista tenta criar um misticismo em torno da imagem do presidente morto. Nos últimos dias, por exemplo, contou, chorando, que Chávez havia aparecido para ele na forma de um passarinho. A declaração virou motivo de piada na oposição.

O sociólogo Felippe Ramos lembra que Maduro defendeu que o socialismo do século XXI é cristão. “E o interessante é que ele não é cristão. Ele segue uma corrente do hinduísmo, mas precisa adota esse discurso cristão na campanha”, afirma.

Enquanto o chavismo faz de Chávez um mito, ou um santo, a oposição evita falar e criticar o presidente e Capriles concentra suas críticas no trabalho que Maduro executou desde dezembro passado.

"São Chávez"

O túmulo de Chávez se transformou em local de peregrinação, uma capela consagrada a "Santo Hugo Chávez" foi criada no bairro caraquenho de 23 de janeiro, onde o líder está sepultado, vídeos de televisões oficiais o mostram chegando ao paraíso e sendo recebido por Simón Bolívar, e o governo o classifica de "profeta", "comandante supremo da revolução" ou "redentor dos pobres".

<p>Nicolas Maduro observa quatro de Hugo Chávez em imagem do dia 8 de março</p>
Nicolas Maduro observa quatro de Hugo Chávez em imagem do dia 8 de março
Foto: AP

Para a historiadora Margarita López Laya, no dia 14 de abril milhões de venezuelanos emitirão "um voto de agradecimento a Chávez" ao votar Maduro. "O fantasma de Chávez está muito presente na disputa. É uma campanha muito singular, cujo cronograma coincide, propositalmente, com o período de luto", disse à agência EFE a analista política Carmen Beatriz Fernández, diretora da empresa de consultoria Dataestrategia.

O luto por Chávez deixou em segundo plano a discussão de temas cotidianos como a falta de segurança e a escassez de produtos básicos. A Venezuela apresenta a taxa de homicídios mais alta da América do Sul e uma das maiores inflações do mundo. "O luto por Chávez tinha dominou a agenda, mas depois devem começar a surgir outros temas, como a economia e a insegurança", garantiu Carmen.Pesquisas realizadas nos últimos dias apontam entre 10 e 20 pontos percentuais de vantagem para Maduro, mas, segundo os analistas, a ausência de Chávez representa um elemento de incerteza que é difícil de ser avaliado. "É uma situação complexa, são 14 anos de decisões associadas a uma vontade, a um único carisma. Após o luto, o país continuará igualmente dividido, já que os principais problemas Chávez não levou consigo", afirmou o analista político Xavier Rodríguez, diretor do Entorno Parlamentar. 

Inesquecível
Maduro citou Chávez em média 192 vezes por dia no 1º mês

As alusões são tantas que até foi criado um site que conta as vezes em que Maduro cita Chávez. Segundo a página "Madurodice.com", o candidato do Partido Socialista Unido da Venezuela (Psuv) mencionou o governante 5.758 vezes desde que o dia 5 de março. "Maduro tenta surfar sobre a onda emocional gerada pela morte de Chávez, que impactou todo o país. O que o candidato do Psuv faz é se mostrar como 'o herdeiro'. Ele diz ao eleitorado que o último pedido de Chávez deve ser atendido", afirma Carmen.

Os últimos 3 meses de Chávez

Chávez foi visto em público pela última vez no início de dezembro, quando apareceu na televisão para anunciar que voltaria a Cuba para uma nova cirurgia contra o câncer. Na ocasião, ele previu certeiramente o que aconteceria no futuro: disse que, se algo acontecesse que o impedisse de assumir o terceiro mandato para o qual tinha sido eleito dois meses antes e um novo pleito fosse convocado, os venezuelanos deveriam votar em Maduro.

<p>Chávez apareceu em público pela última vez no dia 8 de dezembro de 2012, quando anunciou a volta do câncer </p>
Chávez apareceu em público pela última vez no dia 8 de dezembro de 2012, quando anunciou a volta do câncer
Foto: Reuters

Hugo Chávez encerrou aquele pronunciamento e sumiu. Sua voz nunca mais foi ouvida e ele não foi visto nem pelos colegas presidentes que tentaram visita-lo no hospital em Havana. Evo Morales, da Bolívia, tentou várias vezes, mas não conseguiu ver seu amigo e companheiro político.

Em Caracas, além de Maduro, o ministro da Informação, Ernesto Villegas, e o genro de Chávez e também ministro, Jorge Arreaza, davam boletins semanais sobre a saúde do presidente. Infecção respiratória, recaídas e recuperações após dias eram as únicas informações passadas pelo governo. Oficialmente, Chávez sempre esteve lúcido e governando à distância. Esse foi o argumento para adiar a posse para seu terceiro mandato, que deveria ter acontecido no dia 10 de janeiro, por tempo indeterminado.

O líder venezuelano lê a edição de ontem do jornal cubano Granma
O líder venezuelano lê a edição de ontem do jornal cubano Granma
Foto: Divulgação

Em fevereiro, depois de muita pressão vinda da comunidade internacional, dos opositores e da imprensa, o governo divulgou três fotos do presidente internado. Ele não poderia falar nem pelo telefone porque padecia de um problema nas cordas vocais, causado pela infecção respiratória. Nas imagens, Chávez aparecia sorridente ao lado de suas duas filhas. Em uma das fotos, o presidente segurava a edição do dia do jornal cubano Granma, tática usada em várias ocasiões quando Fidel Castro esteve internado.

No período em que Chávez esteve internado, o jornal espanhol ABC se converteu na principal fonte mundial de notícias diferentes daquelas que o governo passava. Entre outras versões, o diário informou, em reportagens assinadas por seu correspondente em Miami, que o presidente teve uma parada cardíaca no final de dezembro, perdeu muito peso e estava irreconhecível e que foi transferido para o Hospital Militar de Caracas porque os médicos informaram à família que já não poderiam fazer mais nada para salvá-lo.

Com agências internacionais. 

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade