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América Latina

Morre ex-ditador argentino Jorge Videla aos 87 anos

17 mai 2013 - 13h55
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O ex-ditador argentino Jorge Videla, condenado a duas penas de prisão perpétua por crimes contra a Humanidade durante o governo militar de 1976/83, faleceu nesta sexta-feira aos 87 anos em uma prisão da periferia de Buenos Aires.

Videla, que estava detido na penitenciária Marcos Paz, 45 km a sudoeste de Buenos Aires, morreu de causas naturais, segundo o boletim médico.

Ele foi "encontrado em sua cela sem pulsação nem reação das pupilas. Um ECG (eletrocardiograma) foi realizado e constatou o óbito, às 08h25 do dia de hoje", afirma o boletim médico.

"Durante a noite, ele não se sentia bem, não queria jantar e esta manhã o encontraram morto na cela", disse à imprensa Cecilia Pando, presidente da Associação de Familiares e Amigos de Presos Políticos da Argentina (AFYAPPA), como se autodenominam os militares condenados por crimes na ditadura.

O secretário dos Direitos Humanos argentino, Martín Fresneda, afirmou que "é importante que tenha falecido de morte natural e em uma prisão comum".

"Houve justiça, não houve vingança e se vai como uma pessoa que foi responsável pelos principais horrores que o povo argentino viveu", disse o ministro, em referência aos julgamentos dos crimes da ditadura.

A presidente da organização Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, foi sincera: "Fico um pouco mais tranquila de que um ser desprezível tenha deixado o mundo".

"A história certamente considerará o genocídio que os argentinos sofreram o opróbrio da ditadura cívico-militar que liderou (Videla) e do qual não se arrependeu, sobre o qual fez declarações tardias para reivindicar todos os seus crimes", completou.

Nora Cortiñas, das Mães da Praça de Maio, disse que não festeja a morte e lembrou que "ditadores como Videla morrem e levam com eles os segredos mais importantes da história".

O prêmio Nobel da Paz (1980) Adolfo Pérez Esquivel reagiu da mesma forma, ao afirmar que o ex-ditador "leva consigo muita informação" sobre os desaparecidos do regime militar argentino.

"Nunca se arrependeu dos crimes e leva muita informação consigo, mas a justiça deve continuar trabalhando para descobrir o que aconteceu com os desaparecidos e com as crianças" sequestradas, disse Pérez Esquivel ao canal C5N.

O líder humanitário, que recebeu o prêmio Nobel por suas denúncias contra a ditadura, disse que "os militares guardam tudo e algum dia essas informações serão divulgadas".

"Avançou-se muito na Argentina pela verdade e pela justiça, é o país que mais avançou no mundo, mas ainda há um longo caminho", disse Pérez Esquivel, de 81 anos, diretor do Serviço de Paz e Justiça.

Além de ter sido condenado duas vezes à prisão perpétua, Videla foi sentenciado a 50 anos como responsável por um plano para o roubo de bebês na ditadura.

Quase 500 crianças foram roubadas por militares, policiais ou outras pessoas durante a ditadura, de acordo com as Avós da Praça de Maio, que permitiram com suas iniciativas que 108 delas recuperassem a verdadeira identidade.

O ex-general, que perdeu a patente militar pela justiça civil, que ele nunca reconheceu, foi presidente entre 1976 e 1981, os anos mais duros da ditadura, que deixou 30.000 desaparecidos, segundo as organizações de defesa dos direitos humanos.

"Como fiz antes, quero manifestar que este tribunal carece de competência e jurisdição para me julgar pelos casos protagonizados pelo Exército na luta contra a subversão", disse na terça-feira passada ao se negar a depor em um julgamento sobre a Operação Condor, a coordenação da repressão entre as ditaduras do Cone Sul.

Depois da morte de Videla, o único dos comandantes da ditadura que permanece vivo é Reynaldo Bignone, que foi o último presidente militar antes do retorno à democracia com a posse de Raúl Ricardo Alfonsín (1983/89) em dezembro de 1983.

No livro "Disposição Final", publicado em 2012, Videla admitiu pela primeira vez que o regime havia provocado o desaparecimento de "sete ou oito mil pessoas" para evitar protestos dentro e fora do país.

"Digamos que eram 7 mil ou 8 mil as pessoas que deviam morrer para ganharmos a guerra contra a subversão; não podíamos fuzilá-las. Também não podíamos levá-las à justiça", disse Videla em uma entrevista em sua cela ao jornalista Ceferino Reato.

O jornalista o entrevistou durante 20 horas entre outubro de 2011 e março de 2012.

Videla foi condenado à prisão perpétua ao lado do comandante da Marinha Emilio Massera, no histórico julgamento das juntas militares de 1985, que colocou no banco dos réus três das quatro juntas militares que governaram a Argentina entre 1976 e 1983.

Foi indultado em 1990 pelo ex-presidente Carlos Menem (1989/99) e voltou a ser detido em 1998, tendo sido condenado à prisão domiciliar pelo caso do roubo de bebês. Em 2010, a Suprema Corte de Justiça anulou os indultos.

O ex-ditador foi levado para uma prisão dentro de um quartel militar até que, finalmente, em 2008, foi levado para a prisão comum de Marcos Paz, onde estão detidos os condenados por crimes contra a Humanidade.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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