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América Latina

Marcha indígena contra estrada completa um mês na Bolívia

15 set 2011 - 20h43
(atualizado às 20h57)
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Centenas de indígenas da Amazônia boliviana completaram nesta quinta-feira um mês de marcha rumo a La Paz, ainda longe do seu destino e mais distantes ainda de convencer o presidente Evo Morales a não construir, com a ajuda do Brasil, uma estrada que atravessará um parque nacional. Os manifestantes pretendem percorrer os 600 quilômetros que separam a cidade de Trinidad de La Paz, num ato que tem dominado o debate político nas semanas que antecedem uma inédita eleição direta para juízes, marcada para 16 de outubro.

Desde que partiram, em 15 de agosto, os indígenas avançaram 280 quilômetros. Para chegarem a La Paz, eles ainda precisariam passar por um bloqueio rodoviário que camponeses pró-Morales pretendem montar, além de empreender a extenuante subida dos Andes.

Morales, que acusou ONGs ambientalistas e setores conservadores da oposição de usarem a marcha para fins políticos, disse que se reunirá na quinta-feira com indígenas que abandonaram a marcha, mas que não irá ao encontro dos que insistem no protesto.

Esse anúncio irritou líderes da marcha, que já rejeitaram encontros com sete delegações ministeriais e insistem na presença de Morales.

"O projeto será executado, depois das consultas que manda a lei e com observadores internacionais, porque o governo tem uma responsabilidade, que é integrar o leste ao oeste", afirmou Morales na quinta-feira em um ato público em El Alto, nos arredores de La Paz.

O chanceler David Choquehuanca, indígena aimará como Morales, disse que o presidente visitará na sexta-feira o Território Indígena e Parque Nacional Isidoro Sécure (Tipnis), reserva de 1,2 milhão de hectares no centro do país que está no traçado da estrada.

"O presidente foi convidado ao Tipnis por indígenas que se retiraram da marcha e pela maioria de comunidades desse parque que querem falar sobre a estrada e não rejeitam o diálogo, como fazem alguns dirigentes da marcha", disse Choquehuanca a jornalistas.

Os participantes do protesto, integrantes de grupos indígenas minoritários, se dizem "decepcionados".

"Ainda esperamos uma resposta positiva do presidente, que venha ao nosso acampamento. Do contrário, retomaremos a marcha, e só Evo será o responsável por qualquer violência", disse Jenny Suarez, porta-voz do movimento, a rádios locais.

Se for construída, a estrada de 306 quilômetros ligará os departamentos de Cochabamba, no centro, e Beni, na fronteira com Rondônia, atravessando o Tipnis. O projeto, de 420 milhões de dólares, seria financiado em grande parte pelo governo do Brasil.

Os indígenas dizem que não foram consultados sobre a obra. O governo diz que a consulta ainda está para ser realizada.

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