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América Latina

Maduro justifica pressão contra oposição: 'golpe suave'

Nesta terça-feira, Maduro anunciou a prisão de três generais da Força Aérea que, supostamente, tentaram dar um golpe; deputada da oposição perdeu cargo na mesma semana

27 mar 2014 - 13h42
(atualizado às 13h55)
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<p>Presidente Nicolás Maduro cita uma tentativa de golpe da oposição; nesta semana, 3 oficiais foram presos e a deputada María Colina Machado perdeu o cargo</p>
Presidente Nicolás Maduro cita uma tentativa de golpe da oposição; nesta semana, 3 oficiais foram presos e a deputada María Colina Machado perdeu o cargo
Foto: Reuters

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, justificou a pressão do governo contra a oposição alegando que um "golpe suave" está ocorrendo no país desde o início dos protestos, no dia 12 de fevereiro.

Na terça-feira, o presidente venezuelano anunciou a prisão de três generais da Força Aérea que supostamente tentavam dar um golpe de Estado e, no mesmo dia, a deputada venezuelana María Corina Machado, um dos rostos mais conhecidos da oposição, teve o cargo cassado.

Esta foi a primeira vez em 15 anos da chamada Revolução Bolivariana em que oficiais ativos de uma patente tão alta são acusados de crime contra a segurança do Estado - apesar de recorrentes denúncias prévias de supostas negociações militares para derrubar o governo.

Oficialmente não foram revelados os nomes dos generais presos, nem especificados seus cargos. Alega-se que o procedimento das prisões não cumpriu o protocolo, e críticos do governo descartam a importância de qualquer iniciativa em que os três poderiam estar envolvidos.

'Monolítica'

Mas o caso dos três generais é uma exceção. A Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) apresentou na quarta-feira um comunicado de apoio ao governo no qual, apesar de garantir que não há problemas internos, defende a tese de "golpe suave" defendida por Maduro.

"Frente a estes fatos a Força Armada Nacional Bolivariana se mantém monolítica e nada prejudica nossa convicção democrática nem a moral de quem, através de suas atuações, conseguiu consubstanciar-se com a realidade de nosso povo, pois, graças a nosso comandante supremo e eterno, Hugo Chávez, conseguimos compreender que a União Cívica e Militar nos faz mais fortes", afirmaram os militares em comunicado.

María Corina Machado perdeu cargo de deputada após intervir como "funcionária do governo do Panamá" na OEA
María Corina Machado perdeu cargo de deputada após intervir como "funcionária do governo do Panamá" na OEA
Foto: Reuters

No documento, a FANB prossegue afirmando que sua união e opinião estão implícitas e foram demonstradas de forma consistente desde 12 de fevereiro, o começo dos protestos no país e o que tem sido chamado de "golpe de Estado suave".

Fontes venezuelanas que conhecem o setor militar do país e pediram anonimato disseram à BBC Mundo que há uma possibilidade de que a prisão dos três seja uma ação para dar o exemplo, na tentativa de sufocar qualquer irregularidade dentro das Forças Armadas.

Apesar de algumas dessas fontes terem afirmado que não acreditam na existência de condições e nem ânimo entre os militares para dar um golpe e assumir o governo, muitos reconheceram que a FANB é uma "caixa-preta" na qual é muito difícil saber exatamente o que se passa.

'Conspiração'

Na quarta-feira, Maduro indicou que os três generais foram presos por "conspirar para colocar a Força Aérea venezuelana contra o governo" e realizar um golpe de Estado.

Durante uma reunião da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), que discutia a situação na Venezuela, Maduro afirmou que os militares presos tinham "ligações diretas com setores da oposição e diziam que esta semana era decisiva".

Antes, o presidente venezuelano já havia acusado "setores de direita apoiados pelos Estados Unidos" de estimular os distúrbios que atingem o país há meses como parte de uma conspiração para um golpe.

Maduro enfrenta há quase dois meses protestos diários contra a inflação, a violência no país e o desabastecimento de produtos básicos em várias cidades. Até o momento 36 pessoas morreram nos confrontos, centenas ficaram feridas e outras centenas foram detidas.

Cassação

A deputada María Corina Machado, que se transformou no rosto internacionalmente mais visível da oposição venezuelana em meio à crise, foi cassada na terça-feira - em um procedimento polêmico que a tirou do Parlamento de forma definitiva sem nem mesmo uma acusação judicial registrada contra a oposicionista.

A imunidade de Machado não foi cancelada antes da cassação e a oposição qualificou a medida de inconstitucional.

O presidente da Assembleia Nacional, o governista Diosdado Cabello, justificou a medida argumentando que Machado aceitou um cargo temporário de um governo "hostil", do Panamá, que, na sexta-feira passada convidou a deputada a falar como parte de sua delegação em uma reunião do Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Em entrevista à BBC Mundo, Machado afirmou que o governo de Maduro está mais "fraco do que nunca".

"A repressão e a violência geraram uma indignação ainda ainda maior e ainda mais força para a mobilização dos cidadãos. A violência só convém ao governo e não é responsabilidade nem culpa dos protestos, é culpa da repressão que impõe Maduro, que passou dos limites", afirmou.

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