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América Latina

Maduro busca legitimidade e governabilidade ao tentar aproximação com EUA

Governo expressou vontade de normalizar as relações diplomáticas com os americanos. Para analistas ouvidos pelo Terra, a empreitada chavista visa sustentar governo fragilizado

27 mai 2013 - 08h55
(atualizado às 08h56)
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<p>O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, tomou posse no dia 19 de abril</p>
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, tomou posse no dia 19 de abril
Foto: Carlos Garcia Rawlins / Reuters

O governo da Venezuela expressou há cerca de uma semana, de forma oficial, vontade de normalizar as relações diplomáticas com os Estados Unidos, que estão em um dos níveis mais baixos da história, apesar da parceria comercial seguir firme. Analistas internacionais ouvidos pelo Terra, coincidem ao apontar como motivos uma tentativa do presidente Nicolás Maduro de legitimar sua eleição contestada pela oposição com ajuda americana e garantir a governabilidade diante de um chavismo enfraquecido.

Os sucessivos incidentes diplomáticos mantêm as embaixadas em Caracas e Washington sem representantes desde 2010. O desejo de normalização foi divulgado pelo chanceler venezuelano, Elías Jaua, que justificou o objetivo "como garantia de paz", mas ressaltou que isso depende de "respeito mútuo" e do fim da "ingerência" americana em seus assuntos internos. Maduro já havia nomeado o deputado governista Calixto Ortega como o encarregado de contatos com a sociedade americana.

Abraço no diabo?

Foto: AP

Maduro repetiu seu antecessor logo após tomar posse chamando o mandatário americano, Barack Obama, de “chefe dos diabos”. Chávez costumava se referir ao ex-presidente George W. Bush como “diabo”. No entanto, esses incidentes diplomáticos parecem não interferir nos negócios. Os Estados Unidos são um dos principais parceiros comerciais da Venezuela, que vende aos americanos 1,5 milhão de barris de petróleo, o que representa mais da metade do total exportado pelo país.

Para o sociólogo brasileiro Felippe Ramos, que mora em Caracas, a reaproximação com os Estados Unidos faz parte de uma grande empreitada de Maduro em busca da construção da governabilidade. “Após os resultados eleitorais que lhe deram estreita margem de vitória, a Venezuela encontra-se em um cenário político de baixa mobilização de forças chavistas, alta popularidade do líder opositor Henrique Capriles e suposições de divisões na cúpula chavista e em um cenário econômico de problemas na distribuição de divisas, alta inflação e escassez de alguns produtos”, afirma. Esse cenários, somados com a ausência de uma liderança carismática, “pressionam o presidente à moderação política e à conciliação com setores produtivos e econômicos.”

Para ex-embaixador americano na Organização dos Estados Americanos (OEA) no governo de Bush, Roger Noriega, o objetivo de Maduro é legitimar o seu governo diante dos Estados Unidos. “Maduro está desesperado para conseguir algum grau de legitimidade mediante o intercâmbio de embaixadores com Washington. Acredito que isso vai ser muito difícil por dois motivos: o presidente Obama se negou a reconhecer a imparcialidade e a transparência das eleições de abril; e o regime chavista é um narco criminoso que tem sido hostil à segurança regional”, afirma.

“Se os diplomatas americanos desafiarem a posição do presidente Obama e normalizarem as relações com Maduro, será uma desmoralização para os democratas decentes que são nossos aliados naturais na Venezuela”, diz.

Ramos lembra que Maduro teve reuniões com o principal conglomerado empresarial ligado à oposição, a Polar, além de reunir-se com o empresário Gustavo Cisneros, dono do canal de televisão Venevisión, e com os representantes da Televen, outro canal privado. “A normalização das relações com os Estados Unidos, agora impulsionada pelo governo venezuelano, insere-se nesse contexto mais amplo (...) Em uma conjuntura difícil, o chavismo tenta manter-se vivo, ainda que as consequências políticas dessa virada 'moderada' ainda estejam por ser analisadas em um país em que as forças chavistas haviam se acostumado com a mobilização constante e a polarização política”, afirma o sociólogo.

Noriega duvida que o motivo da tentativa de aproximação da Venezuela com os Estados Unidos seja manter os fortes laços comerciais. “É claro que os Estados Unidos são um dos sócios comerciais mais importantes da Venezuela, mas não acredito que Maduro tenha medo de perder esse cliente do petróleo”, argumenta. 

Fonte: Terra
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