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América Latina

Maduro busca apoio do Mercosul em meio a tensão com os EUA

Presidente venezuelano visitará Uruguai, Argentina e Brasil nesta semana

7 mai 2013 - 07h40
(atualizado às 07h56)
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O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, inicia nesta terça-feira sua primeira viagem internacional de olho no apoio político de seus aliados do Mercosul diante das ameaças de instabilidade interna e de novas pressões por parte dos Estados Unidos, que questionam a legitimidade de seu governo.

Herdeiro político do líder Hugo Chávez, morto em março, Maduro obteve uma vitória apertada nas eleições extraordinárias de abril, com 1,5% de vantagem, pouco mais de 220 mil votos. O resultado é questionado pelo rival opositor, Henrique Capriles, que exigiu a realização de uma auditoria da totalidade das urnas.

Na avaliação de analistas ouvidos pela BBC Brasil, Maduro pretende alcançar com a viagem três objetivos centrais: fortalecer o apoio político de seus aliados no Mercosul, demonstrar à comunidade internacional que há estabilidade política no país e acertar os mecanismos do ingresso da Venezuela ao bloco sul-americano.

Sem a liderança e o apoio popular que contava seu mentor Hugo Chávez, é fundamental para Maduro demonstrar que seu governo conta com aliados de peso como a presidente Dilma Roussef e a argentina Cristina Kirchner, na avaliação de Luis Fernando Ayerbe, Coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Unesp.

"É muito importante (para Maduro) esse apoio internacional e mostrar que ele é reconhecido como um líder", afirmou Ayerbe. "Há uma enorme preocupação com a divisão interna, com a ofensiva da oposição e que isso possa representar um problema para o governo a curto prazo", acrescentou.

Apoio do Mercosul

A necessidade de trazer para casa um maior apoio político do Mercosul - visto pelos venezuelanos como uma barreira política de proteção - ganhou ainda mais força depois que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, questionou a legitimidade do governo de Maduro, incrementando a tensão política que se arrasta há anos entre Caracas e Washington. "Nossa visão tem sido que o povo venezuelano deve eleger seus líderes em eleições legítimas", disse Obama, em entrevista ao canal Univisión.

Fazendo coro aos protestos da oposição, Obama disse que "o hemisfério completo está vendo a violência, protestos e ataques à oposição". Os Estados Unidos não reconheceram oficialmente a presidência de Maduro.

Deputados trocam socos e pontapés em Congresso:

Para o analista político Carlos Romero, professor da Universidade Central da Venezuela, a legitimidade de Maduro não é foco de debate na região, mas sim sua capacidade de governar nos próximos anos. "Legitimidade, ele (Maduro) tem. Toda a comunidade latino-americana reconheceu seu triunfo", afirmou Romero à BBC Brasil. "Alguns vizinhos mostram preocupação pela polarização política, mas não questionam o resultado em si".

Na opinião dos especialistas, a principal preocupação na América do Sul é que a situação no país "alcance extremos" que coloquem em risco investimentos privados e megaprojetos de infraestrutura e energéticos firmados ainda no governo Chávez. "Qualquer mudança brusca que não ocorrer pela via democrática será um grave problema para o Brasil e para os demais países", afirmou Ayerbe.

Na era Chávez, o Brasil se converteu no terceiro principal parceiro comercial da Venezuela, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e China. De 1999 a 2012, a balança comercial saltou de US$ 1,4 bilhão (cerca de R$ 3 bilhões) para US$ 6 bilhões (R$ 12 bilhões).

Crise diplomática

Na semana passada, a polarização política no país veio à tona novamente com a troca de socos entre oposicionistas e chavistas na Assembleia Nacional, deixando um saldo de onze parlamentares feridos.

O episódio foi o pivô de um mal estar diplomático com o Peru, responsável pela presidência pro-tempore da Unasul. O chanceler peruano Rafael Roncagliolo pediu que o bloco sul-americano reiterasse o chamado ao governo Maduro por "tolerância" e ao "diálogo" - a linguagem utilizada na reunião de emergência do bloco, convocada dias depois da eleição venezuelana por causa da crescente tensão nas ruas de Caracas.

Após a divulgação do resultado oficial do pleito, correligionários de Maduro e de Capriles convocaram uma série de protestos populares. Enfrentamentos nesses protestos resultaram, segundo a Procuradoria Geral da Venezuela, na morte de nove pessoas. O governo diz que a violência foi incitada pela oposição, que responsabiliza o governo pelas mortes.

Recentemente, Maduro também se envolveu em um imbróglio diplomático com a Colômbia, ao acusar o ex-presidente Álvaro Uribe de estar envolvido em um plano para assassiná-lo. Segundo o presidente venezuelano, Uribe contaria com o apoio de ex-funcionários do Departamento de Estado dos Estados Unidos, como Otto Reich e Roger Noriega, e da oposição venezuelana.

Na segunda-feira, o embaixador venezuelano em Bogotá teve que dar explicações à chancelaria da Colômbia, a pedido do governo do presidente Juan Manuel Santos. Até este incidente, Caracas e Bogotá viviam uma espécie de "lua-de-mel" diplomática após anos de crises entre Chávez e Uribe.

Mercosul

Com os colegas sul-americanos, Maduro terá de negociar os termos e regras aduaneiras para a adesão definitiva do país ao Mercosul. A Venezuela tem o prazo de três anos para adequar-se às regras comerciais do bloco.

Outro objetivo da viagem, de acordo o próprio Maduro, é "comprar comida" para conter o desabastecimento de alguns produtos da cesta básica. "Parte chave desse giro que começo amanhã (esta terça-feira) é garantir outra vez a reserva de três meses de alimentos, de produtos de higiene da casa e pessoal", afirmou.

Com uma economia dependente da exportação petroleira, a precariedade da produção agropecuária na Venezuela é um dos principais problemas enfrentados pelo governo. Apesar da política de subsídios agrícola e da política de reforma agrária, quase 70% da alimentação dos venezuelanos depende de importações. Somente do Brasil, a venda de carnes carnes bovinas e de frangos correspondem a quase 25% da pauta de exportação brasileira à Venezuela, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento (MDIC).

O presidente venezuelano deve chegar a Montevidéu ainda nesta terça-feira. Na quarta-feira, Maduro viaja a Buenos Aires para reunião com a presidente argentina Cristina Kirchner. O encontro com a presidente Dilma Roussef está previsto para quinta-feira. Maduro não visitará o Paraguai, suspenso do bloco desde a destituição do presidente Fernando Lugo.

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