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América Latina

Lino Oviedo, a "ave Fênix" da política paraguaia

3 fev 2013 - 14h19
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Herói do golpe que derrubou Alfredo Stroessner há 24 anos, o candidato presidencial Lino Oviedo foi uma das figuras mais controvertidas da cena política paraguaia: condenado, exilado e reabilitado, nos últimos anos liderou o terceiro maior partido político do Paraguai.

General reformado, Lino Oviedo faleceu aos 69 anos em um acidente de helicóptero na mesma noite que, 24 anos atrás, participava da queda de Stroessner às ordens do consogro deste, o general Andrés Rodríguez.

Daqui a dois meses e meio, ele voltaria a tentar seu sonho de chegar à presidência, à frente da União Nacional de Cidadãos Éticos (Unace), uma cisão do Partido Colorado com a qual obteve 21,89% dos votos nas eleições presidenciais de abril de 2008, vencidas por Fernando Lugo.

Nascido em Juan de "Mena" (província de Cordilheira, no centro do Paraguai) em setembro de 1943, Lino César Oviedo Silva se formou como militar na Alemanha e era coronel quando forçou a rendição de Stroessner, a quem ameaçou com uma granada e uma pistola.

Promovido em 1993 ao comando do Exército, em abril de 1996 se declarou à revelia contra o então presidente, Juan Carlos Wasmosy, antigo aliado que ordenou sua destituição, o encarcerou e promoveu contra ele um processo por motim do qual só se livraria definitivamente 11 anos depois.

Aí começa uma década de processos judiciais, exílio, desaparições e períodos de prisão durante o qual promoveu sua figura política à frente da Unace, originalmente uma corrente dentro do Partido Colorado.

No dia 9 de março de 1998, foi condenado a dez anos de prisão militar por "comissão de crimes contra a ordem e a segurança das Forças Armadas e por insubordinação" no governo de Wasmosy, o que representou sua imediata inabilitação política, sua "baixa absoluta" no Exército e a perda de todas as honras.

Raúl Cubas, candidato que o substituiu na Unace, ganhou as eleições de 1998 e a três dias de assumir a Presidência, decretou sua liberdade, trocou a pena de dez anos por três meses e lhe restituiu seus direitos cívicos e políticos.

Porém, em dezembro, o Tribunal Supremo anulou o decreto, ordenou seu retorno à prisão e Lino Oviedo se entregou, mas continuou sua batalha.

Em 23 de março de 1999, a democracia paraguaia atravessou seus piores horas desde a queda de Stroessner: após o assassinato do vice-presidente Luis María Argaña, houve um "julgamento político" para o impeachment de Cubas e protestos populares nas quais morreram sete jovens manifestantes.

Oviedo foi envolvido nestes fatos, conhecidos como o "março paraguaio", como autor intelectual, e conseguiu fugir antes de Cubas apresentar sua renúncia. O destino foi a Argentina (pátria de sua esposa, Raquel Marín), que lhe ofereceu asilo político.

De novo o herói se transformou em vilão: expulso do partido, foi acusado de instigar o magnicídio, e o governo pediu sua extradição à Argentina, que o manteve confinado na Terra de Fogo, mas não o entregou.

Quando Carlos Menem acabou seu mandato, Oviedo passou à clandestinidade, e foi acusado de instigar uma nova tentativa golpista protagonizada em 18 de maio de 2000 por seguidores "oviedistas" em Assunção, e rapidamente sufocada.

Detido em 11 de junho de 2000 em Foz do Iguaçu (Brasil), foi levado a uma prisão em Brasília, e o Paraguai solicitou sua extradição pelos episódios do "março paraguaio", porém sem sucesso, pois o Supremo Tribunal Federal (STF) viu no caso "motivações políticas".

Oviedo ficou em liberdade após 18 meses preso e pouco depois anunciou a conversão de seu movimento Unace em partido político e sua intenção de se apresentar às eleições presidenciais de 2003.

O Tribunal Supremo do Paraguai ratificou a anulação de seus direitos cívicos, mas Oviedo não desistiu: em 29 de junho de 2004, retornou ao Paraguai, sabendo que iria "direito à prisão".

"Ficarei em liberdade e governarei o Paraguai", prometeu pouco antes de entrar em um presídio militar de Assunção para cumprir a condenação de dez anos pela tentativa golpista em 1996 contra Wasmosy.

Nos anos seguintes, uma série de decisões judiciais confirmaram e anularam as diversas penas pelos processos abertos contra ele, até que finalmente o Tribunal Supremo lhe outorgou a liberdade em 31 de julho de 2007, quando havia cumprido a metade de sua sentença pelo levante de 1996, e três meses depois a anulava totalmente, após aceitar o testemunho de comandantes militares que negaram os fatos.

Livre e reabilitado, Oviedo não descartou uma aliança com Fernando Lugo para tentar acabar com o governo dos colorados - que estavam há seis décadas no poder -, mas por fim apresentou sua própria candidatura com o Unace e obteve o terceiro posto no pleito.

Dono de uma grande fortuna acumulada à sombra do general Andrés Rodríguez - que assumiu a Presidência após a queda de Stroessner -, uma comissão do Congresso brasileiro vinculou seu enriquecimento com o narcotráfico, o que ele sempre negou.

EFE   
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