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América Latina

Lava Jato e legado de Fujimori marcam eleição presidencial no Peru

10 abr 2016 - 10h35
(atualizado às 11h11)
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Após uma campanha influenciada por revelações da operação Lava Jato, que investiga o esquema de corrupção na Petrobras, e marcada por polêmicas envolvendo a candidata favorita, Keiko Fujimori, 23 milhões de peruanos vão às urnas neste domingo para eleger um novo presidente, dois vice-presidentes e os congressistas do país.

Candidatos peruanos mais prejudicados pelo escândalo brasileiro teriam sido os que hoje têm poucas chances de vitória: os ex-presidentes Alan García (1985-1990 e 2006 a 2011) e Alejandro Toledo (2001 a 2006).
Candidatos peruanos mais prejudicados pelo escândalo brasileiro teriam sido os que hoje têm poucas chances de vitória: os ex-presidentes Alan García (1985-1990 e 2006 a 2011) e Alejandro Toledo (2001 a 2006).
Foto: EFE

As notícias sobre a Lava Jato ocuparam as manchetes dos jornais e sites peruanos em várias ocasiões durante a corrida pela presidência, embora as maiores polêmicas tenham sido ligadas a Keiko ─ e em especial, ao legado de seu pai, Alberto Fujimori, presidente do país entre 1990 e 2000. Ele está preso cumprindo uma pena de 25 anos por crimes contra a humanidade.

Segundo analistas, os candidatos peruanos mais prejudicados pelo escândalo brasileiro teriam sido os que hoje têm poucas chances de vitória: os ex-presidentes Alan García (1985-1990 e 2006 a 2011) e Alejandro Toledo (2001 a 2006).

Isso porque alguns dos negócios feitos no Peru com empreiteiras brasileiras ─ e questionados pela operação ─ foram fechados durante suas gestões.

"A Lava Jato teve um impacto significativo na opinião pública peruana", disse à BBC Brasil o economista Carlos Aquino, professor da Universidade Mayor de San Marcos, em Lima, capital do Peru.

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No mês passado, o jornal El Comércio , de Lima, publicou uma pesquisa da IPSOS indicando que para 62% dos peruanos "empreiteiras brasileiras estenderam tentáculos ilícitos no país" e para 83% "(o atual presidente Ollanta) Humala está vinculado com os escândalos no Brasil".

No mesmo levantamento, 55% afirmaram "estar informados de que a Polícia Federal brasileira vinculou Humala (à Lava Jato) por ele ter recebido US$ 3 milhões (cerca de R$ 11 milhões, em valores atuais) da Odebrecht em 2011", ano da campanha em que foi eleito.

Keiko

O escândalo brasileiro passou longe de Keiko, do partido Fuerza Popular (em geral definido como de centro-direita ou direita), que, segundo pesquisas, teria cerca de 36% das intenções de voto.

Em segundo lugar na corrida eleitoral, aparecem tecnicamente empatados os candidatos Pedro Pablo Kuczynski, do Peruanos por El Kambio (Peruanos pela Mudança), e Verónika Mendoza, do Frente Amplo.

Kucynski, conhecido como PPK, foi ministro da Economia e Finanças e é definido pela imprensa local como um político de centro-direita ou de direita.

Já Verónika, de esquerda, conhecida pelo diminutivo 'Vero', se opõe radicalmente às propostas dos adversários e ao modelo de abertura econômica ─ implementado por Alberto Fujimori e que continuou em vigor. Ela se define como "antifujimorista".

A expectativa é que haja um segundo turno em 5 de junho, caso as pesquisas sejam confirmadas e nenhum candidato supere os 50% dos votos neste domingo.

Na semana passada, peruanos contrários a Keiko e seu pai foram às ruas para protestar na data que marcou o 24º aniversário do que ficou conhecido como o "autogolpe" de Fujimori ─ quando ele determinou o fechamento do Congresso Nacional, alegando que precisava de mais poderes para recuperar a economia e derrotar grupos guerrilheiros.

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Fujimori foi condenado à prisão após ser considerado responsável por uma série de assassinatos e sequestros cometidos por forças de segurança durante seu governo ─ em especial duas matanças: a de Barrios Altos (1991) e de La Cantuta (1992).

Críticos costumam se lembrar de Fujimori como um líder autoritário que atentou contra a independência das instituições peruanas para preservar seu poder e que chegou a fugir para o Japão após a explosão de um escândalo de corrupção.

Mas ele ainda tem simpatizantes principalmente entre os peruanos mais pobres ─ que atribuem a ele a derrota da guerrilha do Sendero Luminoso e de outros grupos, além do fim da crise que o país atravessou nos anos 80, no governo de Alan García.

Keiko de 40 anos, é formada em administração de empresas nos Estados Unidos, e foi primeira-dama no governo de seu pai (seus pais haviam se separado).

Ela concorre à presidência pela segunda vez ─ na primeira, perdeu para Humala.

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Em seus discursos, promete que não cometerá os "erros" do governo de seu pai. Também diz que governará para os mais pobres e defende as reformas econômicas aplicadas por Fujimori.

'Interesse limitado'

Fontes brasileiras, porém, dizem que, qualquer que seja o candidato vencedor, o interesse do Brasil nos resultados da eleição peruana é mais limitado este ano que na votação que levou à vitória de Humala.

"Com os escândalos no Brasil, desta vez acompanhamos a eleição peruana sem o envolvimento que tivemos na eleição de 2011, que contou com marqueteiros brasileiros e conselhos de políticos de peso do Brasil na campanha de Humala", disseram fontes de Brasília sob a condição do anonimato.

Na época, lembraram, o Brasil tinha forte interesse na expansão dos negócios do Peru ─ em parte justamente em função das obras envolvendo empreiteiras brasileiras, que agora são alvo da Lava Jato.

No dia 4, o site de notícias Semana Econômica publicou que o diretor-executivo da Odebrecht Latinvest, Jorge Barata, teria afirmado que a empreiteira estaria vendendo seus investimentos no Gasoduto Sur Peruano, um dos principais investimentos do setor no país.

O Peru é o oitavo principal parceiro comercial do Brasil na América do Sul. No ano passado, o intercâmbio comercial (soma das exportações e importações) entre os dois países totalizou cerca de US$ 3 bilhões (R$ 10,8 bilhões), queda de 13% em relação a 2014.

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