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Mundo

Jovens lutam contra manipulação e podem decidir pleito mexicano

30 mai 2012 - 14h05
(atualizado em 25/6/2012 às 15h25)
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Elisa Martins
Direto da Cidade do México

Em meio a gritos de torcida de universidades, entonações do hino nacional e cartazes de protesto, um estudante levanta uma cartolina com a frase: "A possibilidade não é utópica". Ao lado, outro universitário mostra um cartaz com o escrito "Pela minha raça falará meu espírito", que divide espaço com outra faixa em que se lê "A verdade nos tornará livres". O encontro de cartazes e ideias faz parte de uma série de manifestações pacíficas de jovens mexicanos que, nos últimos dias, têm revolucionado uma campanha eleitoral à Presidência que não apresentava grandes surpresas - até agora.

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Estudantes participam de marcha em frente ao monumento Estela de Luz, no Centro da Cidade do México
Estudantes participam de marcha em frente ao monumento Estela de Luz, no Centro da Cidade do México
Foto: Eliel Ortiz / Especial para Terra

Acostumada a frequentes manifestações de funcionários de empresas públicas e representantes de sindicatos que aumentam o caos de um trânsito já conturbado, a Cidade do México respira novos ares de protesto. Em um fenômeno que há muitos anos não se via no país, universitários tomaram as ruas da capital e, em menor escala, de outras cidades, para exigir transparência no processo eleitoral que será concluído em pouco mais de um mês. Segundo eles, o poder de decisão dos eleitores estaria sendo manipulado por importantes redes mexicanas de televisão com um claro favoritismo por Enrique Peña Nieto, candidato líder nas pesquisas e representante do Partido Revolucionário Institucional (PRI).

"Existe uma omissão informativa. Canais como Televisa e TV Azteca não cobrem as eleições de maneira transparente. Mostram uma grande vantagem de Peña Nieto, mas não sabemos realmente que vantagem é essa. Buscamos um voto informado. Os meios de comunicação devem fazer sua parte", disse ao Terra a estudante do Tecnológico de Monterrey Katya Becerra, 25 anos, em uma manifestação convocada pelos universitários na última quarta-feira no centro da Cidade do México.

Os manifestantes pertencem a diferentes universidades, mas coincidem no esforço em dizer que não representam nenhum partido. Os entrevistados pela reportagem do Terra não revelaram em quem iriam votar (outros admitiram estar indecisos), alegando que esse não era o principal ponto da manifestação. A causa que abraçam, afirmam, é pela transparência da informação sobre os participantes nas eleições mexicanas. Além disso, pedem voz e exigem ser ouvidos pelos candidatos que, até agora, pouco aprofundaram propostas dirigidas ao eleitorado jovem. Quatorze milhões de mexicanos votarão pela primeira vez para presidente no país, sem contar outros milhões de jovens que poucas vezes foram às urnas.

"Eles precisam detalhar qual vai ser sua postura em relação aos jovens, e quanto vão apostar em nós. Dependendo de como consolidem seu discurso, ganharão ou perderão votos", opinou Atala Romero, 24 anos, também estudante do Tecnológico de Monterrey.

"Há muitos jovens ainda indecisos sobre seu voto, e mesmo nós que já decidimos temos valor e podemos fazer a diferença, por isso pedimos informações claras", explica Montserrat Miranda, 21 anos, aluna da Universidade do Vale do México (UVM). Ao lado, o amigo Rodrigo Brumen, estudante de 20 anos da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), e eleitor de primeira viagem, afirma que os jovens representam quase 40% do eleitorado no país. Em meio à variedade de ideias representada pelas diferentes universidades presentes ao ato, e com alunos com intenções de voto diversas, há um alvo comum: Enrique Peña Nieto, do PRI.

Os protestos começaram há duas semanas, depois de um ato eleitoral do ex-governador do Estado do México na universidade particular Iberoamericana. Na ocasião, o candidato acostumado a ser bajulado, principalmente pelo eleitorado feminino, acabou surpreendido por uma receptividade calorosa - nas críticas. Estudantes acompanharam Peña Nieto até a saída da universidade com acusações e gritos de repulsa. O PRI levantou a suspeita de que os manifestantes seriam membros do Partido da Revolução Democrática (PRD), do candidato esquerdista Andrés Manuel López Obrador. Para mostrar a legitimidade do movimento, 131 alunos da Iberoamericana gravaram um vídeo com suas identificações estudantis, sem afiliação partidária. Era o início do movimento "Yo soy 132", que ganhou adeptos de outras universidades na capital e em pelo menos mais 12 cidades mexicanas.

"O processo deve ser imparcial, já estamos cansados desse sorriso plastificado. O que mais indigna é que queiram nos impor a volta de um partido que não mudou", critica o estudante da Universidade Autônoma Metropolitana (UAM) José Marín Saldívar, 24 anos, sobre o possível regresso ao poder do PRI, que governou o México por 71 anos antes dos 12 anos de domínio do Partido Ação Nacional (PAN), legenda do atual presidente Felipe Calderón.

"As televisões nacionais parecem ter certo apego por alguns candidatos. O acompanhamento feito pela Universidade Nacional Autônoma mostra que há mais espaço para os spots de Peña Nieto, quando os meios deveriam oferecer uma informação equitativa e veraz à população", reclama Citlaleei Netza, 25 anos, estudante de Pós-Graduação da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM).

Enquanto os jovens alçam a voz e surpreendem a classe política, acadêmicos celebram a iniciativa e identificam os detonadores de uma indignação até então silenciosa e restrita à internet e ferramentas sociais.

"Os políticos fazem menção aos jovens, mas sem um discurso específico ou uma estratégia dirigida a eles. É uma campanha muito tradicional, em que os candidatos falham na linguagem e colocam os jovens como secundários. Já os estudantes estão irritados com a associação que possa existir entre Peña Nieto e redes como a Televisa. Para eles, isso não seria o melhor para o próximo governo, muito menos para a democracia", explicou ao Terra Yolanda Meyenberg, cientista política da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM).

Ainda é cedo, porém, para saber que efeitos as manifestações poderiam ter nas urnas, na mudança de cobertura da imprensa local ou na indecisão de 20% do eleitorado mexicano.

"É um movimento que está mais forte na capital, seria preciso acompanhar como ele se desenvolve em outras cidades para ver se realmente influenciará os votos. A capacidade de mobilização é clara, pode ter um peso e inclusive afetar Peña Nieto, mas ainda não é suficiente para criar uma surpresa. O certo é que essa é uma chamada de atenção aos candidatos de que eles não têm dado as respostas de que os jovens precisam", conclui Yolanda.

Fonte: Especial para Terra
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