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Mundo

Haitianos em massa deixam Porto Príncipe após terremoto

16 jan 2010 - 17h09
(atualizado às 17h29)
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Milhares de haitianos deixavam neste sábado a capital do país, Porto Príncipe, em um êxodo da cidade devastada pelo terremoto, onde a ajuda não chega com a rapidez necessária para os que estão feridos, com fome e desabrigados.

Rua fica destruída em Porto Príncipe
Rua fica destruída em Porto Príncipe
Foto: AP

Partindo em direção às províncias em busca de abrigo com parentes ou amigos, muitos simplesmente caminham levando sacolas à cabeça ou nos ombros. Outros entulham carros e caminhões com seus bens, aguardando por horas nas filas dos postos de gasolina para abastecerem os veículos.

"Esperei por dois dias, mas nada chegou, nem mesmo uma garrafa de água", disse Yves Manes, andando devagar na direção de uma estrada principal na saída da cidade, com a esposa e dois filhos.

Sua mulher mancava por causa de um ferimento na perna, que está enrolada em uma camiseta manchada de sangue. "Dizem que há caminhões levando as pessoas para fora deste inferno. Perdi todo o meu dinheiro, mas darei minhas roupas, darei qualquer coisa para sair daqui", disse Manes.

O governo haitiano estima entre 100 mil e 200 mil o número de pessoas que podem ter morrido no terremoto que na terça-feira atingiu o país, o mais pobre do hemisfério ocidental. Um ministro disse à Reuters que pode ser necessário reconstruir três quartos da cidade.

A área rural foi muito menos afetada do que Porto Príncipe por causa da escassez de edificações grandes, de concreto. Haitianos que têm também passaportes de outro país se concentram no aeroporto, tentando entrar nos aviões militares e de ajuda que deixam o país.

O pessoal militar dos EUA chegou a armar um escritório temporário de imigração para examinar os documentos das pessoas antes de deixá-las ficar perto da pista.

As autoridades haitianas estão praticamente sem condições de reagir a um dos piores terremotos já registrados no mundo. Por isso, o esforço de ajuda está amplamente aos cuidados da ONU, dos militares dos EUA e de outros governos estrangeiros, além de um grande número de órgãos de ajuda que se empenham em ajudar.

Apesar da grande ajuda internacional, muitos dos centenas de milhares de haitianos morando nas ruas ¿por terem perdido as casas ou por temor dos costumeiros secundários- nada receberam ainda.

"Disseram na rádio que o (presidente dos EUA) Obama está nos enviando ajuda. Então, onde está? Expliquem isso para todas estas pessoas, por favor", disse Donade Mars, que organiza os refugiados acampados no gramado do prédio do gabinete do primeiro-ministro. "Quanto tempo teremos de esperar?"

Embora a violência nas ruas seja apenas esporádica, muitos temem que isso possa mudar se a situação se tornar ainda mais desesperadora. Todos os criminosos do principal presídio de Porto Príncipe escaparam.

Moradores dizem que as chamas vistas na sede destruída do Judiciário podem ter sido provocadas por alguns deles tentando queimar os arquivos com o histórico de seus casos. Diante do que foi o principal hospital de Porto Príncipe, duas meninas - que parecem ser irmãs - estão entre dezenas de pacientes em macas na rua, e apenas três médicos estrangeiros tentam atender a todos.

As duas, feridas e aparentemente órfãs, não falam. "Elas estão em estado de choque, não podem falar", disse a fotógrafa Kena Betancur. "Ninguém sabe quem são elas, de onde são e como vieram parar aqui."

Terremoto

Um terremoto de magnitude 7 na escala Richter atingiu o Haiti nessa terça-feira, às 16h53 no horário local (19h53 em Brasília). Com epicentro a 15 km da capital, Porto Príncipe, segundo o Serviço Geológico Norte-Americano, o terremoto é considerado pelo órgão o mais forte a atingir o país nos últimos 200 anos.

Dezenas de prédios da capital caíram e deixaram moradores sob escombros. Importantes edificações foram atingidas, como prédios das Nações Unidas e do governo do país. Estimativas mais recentes do governo haitiano falam em mais de 200 mil mortos e 50 mil corpos já enterrados. O Haiti é o país mais pobre do continente americano.

Morte de brasileiros

A fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, Organismo de Ação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Zilda Arns, e militares brasileiros da missão de paz da ONU morreram durante o terremoto no Haiti.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, e comandantes do Exército chegaram na noite de quarta-feira à base brasileira no país para liderar os trabalhos do contingente militar brasileiro no Haiti. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil anunciou que o país enviará até US$ 15 milhões para ajudar a reconstruir o país. Além dos recursos financeiros, o Brasil doará 28 t de alimentos e água para a população do país. A Força Aérea Brasileira (FAB) disponibilizou oito aeronaves de transporte para ajudar as vítimas.

O Brasil no Haiti

O Brasil chefia a missão de paz da ONU no país (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, ou Minustah, na sigla em francês), que conta com cerca de 7 mil integrantes. Segundo o Ministério da Defesa, 1.266 militares brasileiros servem na força. Ao todo, são 1.310 brasileiros no Haiti.

A missão de paz foi criada em 2004, depois que o então presidente Jean-Bertrand Aristide foi deposto durante uma rebelião. Além do prédio da ONU, o prédio da Embaixada Brasileira em Porto Príncipe também ficou danificado, mas segundo o governo, não há vítimas entre os funcionários brasileiros.

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