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América Latina

Haiti: pais deixam filhos em orfanato para que possam ter o que comer

5 mar 2013 - 13h55
(atualizado às 14h17)
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Em meio à extrema miséria, muitos pais haitianos tomam uma difícil decisão: deixar seus filhos em um orfanato, para que tenham o que comer e acesso à educação, em um país já marcado pela miséria antes mesmo do violento terremoto há três anos.

Este foi o caso dos pais de Berzelais, que deixaram o filho há seis anos no orfanato Rose-Mina de Diegue, na capital do Haiti, que hoje acolhe 96 menores e é um dos poucos que tem condições de dar alimento diário e educação regular a seus internos.

Barzelais tem agora 18 anos e não pretende se desligar da instituição.

Come e vai para a escola, um luxo para muitos em seu país. Também ajuda a cuidar das crianças do orfanato, explica à AFP este jovem que perdeu uma das pernas em um acidente quando criança e que, segundo os funcionários do local, é muito bom com equipamentos eletrônicos.

Esta é uma história que se repete no orfanato comandado por Osvaldo e Rolande Celestin Fernandes. Ele um militar argentino que há mais de uma década deixou seu país para se casar com uma pastora de uma igreja protestante haitiana que dedica sua vida aos pobres.

"As mães chegam o tempo todo sem possibilidades de criar seus filhos, e nós os aceitamos, órfãos ou não. Aqui comem todos os dias e vão à escola, e por isso suas famílias acreditam que podem viver melhor", explica Marie Sandra Edouard, filha de Roland Celestin e que é responsável pelo local na ausência de seu pai.

As crianças, muitas delas com visíveis sequelas da desnutrição com a qual tiveram que conviver desde o nascimento, têm entre 0 e 18 anos, e o orfanato está em um dos raros bairros em condições menos precárias.

"Sempre falta dinheiro. Damos o que comer às crianças três vezes ao dia, mas é uma tarefa quase impossível", explica Marie Sandra.

Hoje, os pequenos correm alegremente ao redor de um grupo de soldados voluntários da Companhia de Engenharia do Brasil, que trouxe alimentos ao orfanato. Se servem, uma, duas, três vezes em pratos que chegam a transbordar do cozido levado à mesa com o maior cuidado, até aqueles que mal aprenderam a andar.

A capitão Tatiana Microni carrega em seus braços uma menina de um ano e meio de idade que não parece ter mais do que sete meses. "Quando chegou aqui estava muito pior, agora com a comida está se recuperando aos poucos", explica.

No Haiti, segundo dados do programa da ONU para o Desenvolvimento, 22% das crianças com menos de cinco anos sofrem de desnutrição crônica. Antes do devastador terremoto de 2010, a situação era ainda pior: 30%.

Cerca de quatro milhões de pessoas vivem em condições de insegurança alimentar neste pais de dez milhões de habitantes, uma situação agravada com a seca e os furacões do final do ano passado, explica à AFP o representante no Haiti da FAO (Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura), Frits Ohler.

"Dois terços da população no Haiti vive no campo e da agricultura, ainda assim, mais de 50% da comida consumida no país é importada", explica o responsável.

Melhorar a produção agrícola no país depende de desafios que vão dos extremos climáticos até a falta de definição sobre a titularidade das terras, baixa produtividade, alta degradação ambiental, com apenas 2% das florestas preservadas, e em determinados períodos uma escassez de sementes para o plantio que se inicia agora.

O Haiti foi devastado por um terremoto em 2010, além de uma epidemia de cólera que tirou a vida de milhares de haitianos.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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