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América Latina

Haiti: chegada dos EUA à sede do governo é vista como ocupação

19 jan 2010 - 15h00
(atualizado às 15h34)
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Centenas de haitianos presenciaram nesta terça-feira, entre reações de resignação ou revolta, à impressionante aterrissagem de vários helicópteros das tropas americanas no Palácio Presidencial, num ato considerado por muitos como uma perda da soberania.

"Isso é uma ocupação. O Palácio do país representa nosso poder, é o nosso rosto, nosso orgulho", critica Feodor Desanges.

Uma semana depois do violento terremoto que devastou a capital haitiana, esta é a primeira vez que a população vê as tropas enviadas pelos Estados Unidos.

"Não os vi distribuindo comida no centro da cidade, onde as pessoas precisam urgentemente de água, alimentos e medicamentos. Isso mais parece uma ocupação", protesta Wilson Guillaume, estudante haitiano de 25 anos.

Pelo menos quatro helicópteros levaram para o local cerca de cem soldados paraquedistas da 82ª divisão aerotransportada.

"O problema é que nosso governo não é bom. O que está acontecendo hoje em Porto Príncipe é uma vergonha para a história e a independência do Haiti", acrescentou Desanges.

As tropas americanas trouxeram consigo uma grande quantidade de água e comida, aparentemente com a intenção de instalar uma pequena base de apoio nas ruínas do palácio.

Muitos haitianos acampados nos arredores se agitaram com a possibilidade de conseguir um pouco de alimento e água.

Uma hora depois de chegar, um grande grupo de soldados partiu na direção do hospital geral da capital, para iniciar as operações de segurança.

Ao passar, foram recebidos por uma mistura de gritos de "bem-vindos" e "obrigado" por "voltem pra casa" e "não nos ocupem".

Para Herold Line, professor haitiano, o problema não é os Estados Unidos ocuparem o palácio presidencial e sim se começarem a estender a ocupação pela cidade.

"O que importa é que nos ajudem a reconstruir o Estado e as instituições públicas, que são inexistentes", explica.

"A prioridade agora é tirar os últimos sobreviventes debaixo das pedras, prevenir uma epidemia e dar de comer e beber aos flagelados", acrescenta.

"Se encontrasse o Barack Obama, diria a ele que precisamos de segurança. Há milhares de pessoas sem casa, não há Estado e as ruas estão cheias de bandidos", afirma, por sua parte, Nicolas Fritz.

Na semana passada, o presidente americano colocou todo o poderio dos Estados Unidos a serviço do Haiti e mobilizou um impressionante dispositivo de ajuda que inclui um contingente de 10.000 soldados.

"Ao povo do Haiti, dizemos com clareza e convicção: vocês não serão abandonados, não serão esquecidos", declarou.

Obama ofereceu "todos os elementos de nossa capacidade nacional, nossa diplomacia, e a assistência ao desenvolvimento, o poder de nossas forças armadas e, o mais importante, a compaixão de nosso país".

"Vocês conheceram a escravidão e a luta contra os desastres naturais. E, apesar de tudo, nunca perderam a esperança. Hoje, saibam que a ajuda chegará", declarou Obama.

Terremoto

Um terremoto de magnitude 7 na escala Richter atingiu o Haiti no último dia 12, às 16h53 no horário local (19h53 em Brasília). Com epicentro a 15 km da capital, Porto Príncipe, segundo o Serviço Geológico Norte-Americano, o terremoto é considerado pelo órgão o mais forte a atingir o país nos últimos 200 anos.

Dezenas de prédios da capital caíram e deixaram moradores sob escombros. Importantes edificações foram atingidas, como prédios das Nações Unidas e do governo do país. Estimativas mais recentes do governo haitiano falam em mais de 200 mil mortos e 50 mil corpos já enterrados. O Haiti é o país mais pobre do continente americano.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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