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América Latina

Haiti: após protestos por cólera, ONU suspende ajuda no norte

17 nov 2010 - 15h58
(atualizado às 16h44)
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A ONU afirma que suspendeu operações de ajuda no norte do Haiti devido aos protestos violentos de haitianos, que culpam os funcionários da organização pela epidemia de cólera no país. A organização alega que ataques contra seus funcionários que tentam combater a doença estão prejudicando a resposta internacional à epidemia.

Haitianos infectados pela cólera recebem atendimento médico em hospital improvisado de Porto Príncipe
Haitianos infectados pela cólera recebem atendimento médico em hospital improvisado de Porto Príncipe
Foto: Reuters

Voos que levam ajuda para a região foram cancelados, projetos de purificação de água e treinamento foram cortados. Alimentos foram saqueados ou queimados em um armazém da ONU.

Muitos haitianos culpam soldados nepaleses da Minustah (missão de paz da ONU no Haiti) de levarem o cólera ao país. Na segunda-feira, um integrante da Minustah matou pelo menos um manifestante que participava de um protesto em Cap Haitien, a segunda maior cidade haitiana.

A ONU confirmou que o tipo de cólera verificado no Haiti é o mesmo existente no Nepal, mas diz não ter encontrado provas de que seus soldados sejam os portadores da doença. De acordo com o correspondente da BBC para o setor de desenvolvimento internacional, Mark Doyle, a força da ONU no país não é popular, pois é vista como face pública do governo do Haiti.

O Haiti vive uma epidemia de cólera desde outubro. Até o momento, a doença já matou mais de mil pessoas no país.

O cólera é causado por uma bactéria transmitida por água ou alimentos contaminados, causando febre, diarreia e vômitos, levando à desidratação severa, e pode matar em 24 horas se não for tratado. No entanto, a doença pode ser controlada facilmente por meio da reidratação e de antibióticos.

Muitos haitianos não têm acesso à água limpa, sabão e saneamento adequado. Há receio de que o cólera se espalhe pelos acampamentos de sobreviventes do terremoto ocorrido em janeiro, onde vivem 1,1 milhão de pessoas.

Motivação política

Na terça-feira, a Minustah pediu o fim dos protestos violentos nas cidades de Cap Haitien e Hinche, onde, de acordo com a organização, seus trabalhos de combate à doença foram muito prejudicados.

Na segunda-feira, manifestantes armados abriram fogo contra os soldados da tropa da ONU em Quartier Morin, na região norte do país, de acordo com uma declaração da ONU.

Pelo menos dois manifestantes foram mortos, incluindo o que foi atingido por um disparo de um soldado da ONU. Seis funcionários da organização foram feridos em Hinche. Os protestos continuaram na terça-feira em Cap Haitien.

De acordo com a ONU, a violência no norte do país tem motivações políticas e visa prejudicar as eleições marcadas para o dia 28 de novembro. "A maneira com que os eventos ocorreram sugere que estes incidentes tinham motivações políticas, que visam criar um clima de insegurança na época das eleições", disse a organização.

"A Minustah pede que as pessoas continuem vigilantes e não sejam manipuladas pelos inimigos da estabilidade e democracia no país", afirmou.

O presidente do Haiti, René Préval, também pediu calma à população na terça-feira, afirmando que os protestos estão impedindo as pessoas de receber tratamento. "Desordem e instabilidade nunca trouxeram soluções para um país que atravessa momentos difíceis", afirmou o presidente em um pronunciamento transmitido em rede nacional.

"Disparos, atirar garrafas, (fazer) barricadas ou queimar pneus não vão nos ajudar a erradicar a bactéria do cólera. Pelo contrário, vai evitar que os doentes recebam os cuidados e que os remédios sejam distribuídos onde são necessários", acrescentou.

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