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Fujimori versus Humala, o peso do sobrenome no pleito peruano

13 mai 2011 - 10h07
(atualizado às 10h23)
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Nas eleições peruanas do próximo dia 5 de junho, os dois candidatos na disputa, Ollanta Humala e Keiko Fujimori, carregam, para bem ou para mal, o peso de um sobrenome e uma herança familiar que marcou suas histórias políticas.

Keiko nunca negou a herança paterna e até conseguiu perpetuar a memória de seu pai preso no chamado "movimento fujimorista", que se nega a ser rotulado ideologicamente apesar de contar com o apoio de toda a direita peruana.

Se resta alguma dúvida do peso de um sobrenome, o irmão mais novo de Keiko, Kenji Fujimori, um jovem de 30 anos sem trajetória política, a esclarece: foi o candidato mais votado para o Congresso nas eleições de 10 de abril, com mais de 380 mil eleitores.

Aparentemente, o fenômeno oposto acontece com o sobrenome Humala: o candidato Ollanta está tendo dificuldades de se desvencilhar da ideologia e da forma de atuar de seu polêmico irmão Antauro, preso por ter dirigido em 2005 o ataque a uma delegacia em Andahuaylas, no sul do Peru, no qual morreram quatro policiais.

Apesar de Ollanta ter sido absolvido em julgamento sobre sua participação no chamado "andahuaylazo", o popular apresentador de televisão e escritor Jaime Bayly - admirador confesso de Keiko - trouxe o assunto à tona em seus últimos programas e se empenha em provar que Ollanta foi o responsável intelectual do episódio.

Ollanta e Antauro são filhos de Isaac Humala, ideólogo do "etnocacerismo" (uma doutrina que misturava o ultranacionalismo e esquerdismo e que propunha a supremacia inca) e que chegou a pedir o fuzilamento dos traidores da pátria e dos homossexuais.

Se Keiko Fujimori reivindica a herança de seu pai como "o melhor governante que o Peru teve", Ollanta Humala tentou tomar distância de um pai que, por seus ideais radicais, pode atrapalhar sua tentativa de ganhar o centro político.

"Felizmente, meu pai não é candidato nem sequer ao governo distrital", disse Humalla ao jornal "Trome" recentemente.

Para a presidente da Sociedade Peruana de Psicanálises, Teresa Ciudad, há uma similaridade entre ambos os candidatos no que se refere a seus progenitores.

"Eles são filhos de pais que não os viram como indivíduos, mas como uma extensão de si mesmos, depositários de suas fantasias mais grandiosas. Tudo isto não apresenta boas credenciais democráticas", comentou Ciudad em declarações à Agência Efe.

"Dá a impressão que ambos foram submetidos à autoridade paterna, não parecem ter tido um tratamento respeitoso por parte dos pais", acrescenta.

Keiko Fujimori chegou à política aos 19 anos, ao se transformar em primeira-dama após o divórcio de seus pais em 1994, um trabalho que Teresa Ciudad vê como "imposto, já que (Alberto Fujimori) estava por trás da ideia de que ela fosse sua sucessora".

É difícil saber quanta influência efetiva o ex-presidente exerce de sua cela na Direção de Operações Especiais da Polícia Nacional (Diroes), mas seus críticos asseguram que ele vem conduzindo a campanha da filha à espera que ela o liberte caso chegue ao Executivo.

Diante das suspeitas, Keiko chegou a jurar que não soltará o pai, confiando que a Justiça peruana seguirá seu curso e terminará declarando nulo o julgamento que o condenou a 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade.

Quanto à Ollanta Humala, o único preso em sua família é seu irmão Antauro, do qual se desvencilhou em inúmeras declarações, enquanto o pai, ideólogo e inspirador de Antauro, mantém um prudente silêncio nestes meses de campanha eleitoral.

O que salta à vista é que os dois candidatos optaram por potencializar em suas campanhas uma imagem de família feliz que ambos formaram com seus respectivos cônjuges.

Keiko Fujimori aparece como a "mãe e mulher" com a qual as peruanas devem se identificar, e a estratégia parece estar rendendo frutos, a julgar pela vantagem que está conquistando entre o eleitorado feminino nas pesquisas.

Já Humala aparece diariamente em vários palanques ao lado de sua inseparável esposa, Nadine Heredia, e às vezes também com seus três filhos.

Será que os candidatos querem se libertar da grande sombra de seus pais utilizando seus filhos?

EFE   
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