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América Latina

Fuga de "El Chapo": uma afronta ao México com repercussão mundial

17 dez 2015 - 21h24
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A fuga do traficante Joaquín "El Chapo" Guzmán e o aniversário do desaparecimento dos 43 estudantes em Iguala foram dois duros golpes para o governo do México, que compensou em parte a queda de suas receitas petrolíferas com investimento estrangeiro e evitou, por enquanto, a forte freada econômica da América Latina.

Embora 2015 tenha sido um ano eleitoral, com pleitos legislativos e locais em junho, será recordado pela fuga do líder do Cartel de Sinaloa no dia 11 de julho por um túnel de 1,5 quilômetro que unia sua cela com uma casa abandonada nos arredores do presídio do Estado do México (centro) em que estava recluso desde 2014.

A segunda fuga de Guzmán de uma prisão - a anterior foi em 2001 de uma prisão de Guadalajara - gerou mal-estar no México pela corrupção que revelou e nos Estados Unidos porque esse país tinha pedido sua extradição.

Além disso, ofuscou uma viagem do presidente Enrique Peña Nieto à França em 4 de julho, na primeira vez que uma visita de Estado se integrava à festa nacional francesa, com a participação inédita de tropas mexicanas nos desfiles franceses.

Peña Nieto, que a qualificou de "afronta ao país", começou o ano visitando o presidente dos EUA, Barack Obama, enquanto dezenas de manifestantes protestavam perante a Casa Branca pelo desaparecimento dos 43 estudantes de magistério de Ayotzinapa (no estado sulista de Guerrero) em 26 de setembro de 2014.

Essa imagem se repetiu em Londres em março, onde Peña Nieto celebrou o Ano Dual México-Reino Unido e se reuniu com o primeiro-ministro, David Cameron, e a rainha Elizabeth II.

O mesmo ocorreu em junho em Bruxelas, onde participou de uma Cúpula UE-CELAC na qual avançou na renovação do acordo estratégico entre o México e o bloco europeu, antes de partir à Itália para realizar outra visita oficial.

Nesse mesmo mês Peña Nieto recebeu os reis da Espanha, na primeira visita de Estado que realizaram a um país latino-americano após a proclamação de Felipe VI, e em novembro o presidente cubano, Raúl Castro.

O encontro, realizado em Iucatã (sudeste mexicano), foi relaxado e cheio de gestos de carinho, embora com um profundo cenário comercial pelos investimentos mexicanos na ilha, tanto os iniciados como os que virão com a abertura de Cuba.

Antes tinham chegado ao México a presidente Dilma Rousseff, que assinou acordos comerciais em visita realizada em maio, e o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, sócio na Aliança do Pacífico.

A recessão econômica no Brasil, o eterno rival regional, foi vista com certo alívio pelos mexicanos, que preveem fechar o ano com um crescimento de entre 2% e 2,8%.

Não era esse o ritmo desejado por Peña Nieto quando iniciou suas reformas estruturais, mas parece pelo menos sólido graças ao aumento em 41% do investimento estrangeiro de janeiro a setembro e à influência positiva do novo impulso dos EUA, país ao qual o México destina cerca de 90% de suas exportações.

Seria muito melhor não fosse a queda das receitas petrolíferas por causa do baixo preço do petróleo, que levou a companhia estatal Pemex a sofrer perdas nos primeiros nove meses do ano superiores em 138% ao mesmo período de 2014.

No âmbito local, à espera de avanços na investigação oficial sobre o paradeiro dos 43 estudantes, questionada por especialistas da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), se completou um ano de seu desaparecimento em Iguala (Guerrero) pela ação de policiais corruptos e grupos criminosos, o que abalou a imagem de Peña Nieto.

Também não ajudou que a Controladoria tenha exonerado de responsabilidade o governante e a sua esposa, Angélica Rivera, em um suposto ato de corrupção na construção de uma casa para ela por parte de um funcionário terceirizado do governo.

Nesse mesmo âmbito explodiu um escândalo de consequências imprevisíveis por gravações ilegais de ligações telefônicas que revelaram supostas práticas corruptas da filial mexicana da construtora espanhola OHL e autoridades governamentais.

Apesar disso, nas eleições ao Congresso de 7 de junho o governista Partido Revolucionário Institucional (PRI) saiu vitorioso com 29% dos votos e conseguiu conservar a maioria na Câmara dos Deputados, com 251 cadeiras, em aliança com outros partidos como o PVEM.

Os principais incidentes nessa votação ocorreram em Oaxaca, um permanente foco de conflito para o governo pela força do sindicato de professores.

Os alarmes voltaram a soar também pelos ataques à liberdade de imprensa, que deixaram 107 repórteres assassinados no país desde 2000, e quando a Suprema Corte abriu as portas da legalização da maconha com uma decisão histórica que autorizou quatro litigantes a consumir e cultivar a planta com fins lúdicos.

Além disso, o país prendeu a respiração com o furacão "Patricia", considerado o mais potente da história, mas que entrou por uma região pouco habitada e acabou perdendo força em uma área montanhosa.

EFE   
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