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América Latina

Farc discordam de prazo do governo colombiano para assinar a paz

13 jan 2016 - 14h52
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O governo da Colômbia e as Farc iniciaram nesta quarta-feira em Havana a última etapa de seus diálogos de paz com o objetivo de acelerar as negociações, embora com diferenças sobre a data-limite do 23 de março para assinar o acordo final, um prazo que a guerrilha considera improvável.

"Estamos fazendo o impossível, mas há causas objetivas que certamente vão impedir que isso se dê em 23 de março. De ambas as partes, porque da parte do Estado há empecilhos tão importantes como é o esclarecimento e o desmantelamento do paramilitarismo", disse hoje à imprensa Milton de Jesús Toncel, o guerrilheiro "Joaquín Gómez".

As palavras do comandante das Farc contrastam com as declarações feitas ontem pelo presidente colombiano, Juan Manuel Santos, que indicou que os negociadores governamentais retornaram a Havana com a instrução de "colocar o pé no acelerador no processo" para poder assinar a paz no prazo de 23 de março.

"Gómez" também indicou que a insurgência tem "o acelerador ligado" desde o início do processo de paz, há mais de três anos, mas há assuntos "que saem do controle de suas mãos" e que impedirão o cumprimento dos prazos previstos.

O chefe negociador das Farc, "Ivan Márquez", já havia advertido através de sua conta no Twitter que é uma "leve ingenuidade" insistir em 23 de março como data-limite para o acordo final, devido à demora na aplicação no pacto sobre justiça transicional.

O comandante "Joaquín Gómez" também lamentou atrasos em outros acordos conseguidos, como o compromisso adotado pelo governo em novembro de indultar 30 guerrilheiros das Farc, o que ainda não aconteceu.

"O governo prometeu que indultaria 30 camaradas nossos, e inclusive deu a entender que para o Natal estariam em liberdade. Hoje a única coisa que há é uma demora sem nenhum tipo de justificativa", indicou.

Perguntado sobre o 15º aniversário do "Plano Colômbia", o acordo entre Colômbia e EUA para a paz e o fortalecimento do Estado que estabelecia ajuda econômica americana para acabar com os cultivos ilícitos, "Gómez" assinalou: o saldo foi "morte, paramilitarismo, execuções extrajudiciais e pobreza".

O presidente Santos irá, no próximo dia 4 de fevereiro, às celebrações em Washington pelo aniversário desse acordo bilateral. Ele foi convidado pelo presidente americano Barack Obama, que está apoiando esse novo processo de paz com as Farc com a nomeação do enviado especial Bernie Aronson.

Além disso, durante o ano fiscal 2014, os Estados Unidos concederam US$ 324,82 milhões (pouco mais de R$ 1 bilhão) em assistência total à Colômbia, e 70% dessa soma foi voltada para programas de paz e segurança.

"Me parece muito bom que Obama apoie. Assim como apoiaram e financiaram o Plano Colômbia, está muito bem que apóiem a saída política ao conflito social e armado que por mais de 50 anos dessangrou o país", ressaltou "Gómez".

A mesa de negociação de Havana iniciou hoje as discussões sobre o último ponto da agenda, o fim do conflito, que inclui complexos assuntos como o cessar-fogo bilateral e definitivo e a entrega das armas por parte da guerrilha, que há meses já estavam sendo previamente discutidos por uma subcomissão técnica composta por altos comandantes militares de ambas as partes.

As delegações encaram a reta final do processo de paz após carimbar, em 15 de dezembro, um transcendental acordo para a reparação das vítimas, que contempla a criação de uma jurisdição especial para os delitos contra a humanidade baseado no reconhecimento da responsabilidade.

Em mais de três anos de conversas, o governo da Colômbia e as Farc já alcançaram acordos em quase todos os temas da agenda: propriedade da terra e desenvolvimento rural, participação política e erradicação de cultivos ilícitos e drogas.

EFE   
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