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América Latina

Farc admitem cota de responsabilidade por vítimas do conflito na Colômbia

20 ago 2013 - 12h52
(atualizado às 13h04)
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A guerrilha comunista das Farc reconheceu nesta terça-feira pela primeira vez sua cota de responsabilidade pelos milhares de mortos no conflito armado de quase meio século na Colômbia e propôs avançar com lealdade no tema de reparação às vítimas nas negociações de paz.

As Farc fizeram este reconhecimento quase um mês após o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, admitir pela primeira vez a responsabilidade do Estado em "graves violações" dos direitos humanos no âmbito do conflito, que deixou 600.000 mortos e mais de três milhões de deslocados.

"Sem dúvida, também houve crueldade e dor provocados por nossas fileiras", afirmou a guerrilha em um comunicado lido à imprensa por Pablo Catatumbo, integrante da delegação que negocia a paz com o governo de Santos em Havana desde 19 de novembro de 2012.

"Ainda assim, devemos reconhecer a necessidade de aproximar o tema de vítimas, sua identificação e sua reparação com total lealdade à causa da paz e da reconciliação", acrescentou o líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

A reparação às vítimas é um dos pontos ainda não abordados na agenda das negociações, junto com o abandono das armas e as drogas ilícitas.

Atualmente, as duas partes debatem a participação política e em maio chegaram a um consenso sobre o complexo tema agrário, causa da disputa que conduziu em 1964 à criação das Farc, a guerrilha mais antiga da América Latina e a maior da Colômbia, com cerca de 8.000 combatentes.

Catatumbo reiterou a exigência de criar uma comissão internacional da verdade que investigue o "confronto fratricida" na Colômbia.

"Propusemos aos senhores do governo (...) que seja realizada imediatamente a integração de uma comissão formada por especialistas nacionais e estrangeiros no interesse da investigação da história, para que se estabeleça a verdade sobre o ocorrido durante a violência partidarista", disse.

"Esta comissão, em nossa opinião, deve ser integrada imediatamente", acrescentou Catatumbo, que convidou "o país inteiro a um dia de reflexão e contrição" e criticou a Igreja Católica colombiana, "a igreja do regime", acusada de "não ter contribuído para a reconciliação".

É esperado o pronunciamento iminente sobre o "marco jurídico para a paz" da Corte Constitucional da Colômbia, ante a qual no dia 25 de julho o presidente Santos reconheceu pela primeira vez a responsabilidade do Estado em "graves violações" dos direitos humanos.

"O Estado colombiano foi responsável, em alguns casos, por omissão, em outros casos por ação direta de alguns agentes do Estado, de graves violações dos direitos humanos e infrações ao direito internacional humanitário ocorridos ao longo destes 50 anos de conflito armado interno", disse Santos naquela ocasião, ao defender uma reforma constitucional que permitiria criar um mecanismo de justiça transicional de acordo com um eventual acordo de paz.

As Farc reiteraram nesta terça-feira seu apoio ao protesto iniciado na segunda-feira na Colômbia por milhares de camponeses, que demandam ajuda econômica e um maior acesso à propriedade da terra, e que terminou com vários feridos e de detidos.

"Queremos reiterar nossa saudação às justas lutas travadas hoje ao longo de todo o território nacional pelo nosso povo contra a política neoliberal", disse Catatumbo.

A delegação do governo, liderada por Humberto de la Calle, não fez declarações à imprensa em sua chegada ao Palácio das Convenções de Havana, sede das negociações.

O atual ciclo de negociações de paz começou na segunda-feira e se estenderá até 29 de agosto.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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