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América Latina

Elegante clube de golfe no Haiti abriga 50 mil refugiados

19 jan 2010 - 14h11
(atualizado às 14h43)
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Soldados da tropa de elite dos Estados Unidos estão deitados nas quadras de tênis e ao lado de uma piscina, exaustos. Cinquenta mil pessoas que perderam suas casas lotam o campo de golfe de nove buracos. Helicópteros aterrissam a cada meia hora, trazendo caixas de água e alimentos.

Desde o terremoto catastrófico da semana passada, o renomado Club Petionville, situado numa colina com vista para Porto Príncipe e o mar do Caribe, foi convertido no maior campo de refugiados do Haiti.

O Haiti é o país mais pobre das Américas, mas sua elite frequentava a elegante sede do clube de campo para jantar e conviver com empresários e diplomatas estrangeiros. Agora, o clube está sendo ocupado por comandantes da 82ª Divisão Aerotransportada das Forças Armadas norte-americanas.

O campo de golfe está recoberto de barracas improvisadas com lençóis e paus por pessoas que lotaram o terreno depois de o terremoto ter derrubado suas casas e os muros do estabelecimento. O clube, cujo nome é uma homenagem ao ex-presidente haitiano Alexandre Petition, sofreu poucos danos, com a exceção de algumas colunas quebradas.

"Os dias aqui são longos, mas é bom poder ajudar", comentou o sargento norte-americano Michael Watson, veterano da resposta das Forças Armadas dos EUA ao desastre provocado pelo furacão Katrina em Nova Orleans, em 2005. "O Katrina foi muito ruim, mas isto daqui é muito pior", acrescentou.

O terremoto de magnitude 7 que atingiu o Haiti na terça-feira passada matou entre 100 mil e 200 mil pessoas, segundo o governo, e deixou milhões desabrigadas.

Diferentemente das cenas caóticas vistas em outras áreas, com refugiados saindo aos tapas na disputa por comida e água, há uma fila organizada no gramado do clube de campo. Cada refugiado tem direito a duas garrafas de água e a uma ração Refeição Pronta para Comer, conhecida pela sigla MRE.

"Se eles começam a ficar nervosos, a gente simplesmente se senta", disse o capitão John Hartsock. "Isso já aconteceu duas vezes. Eles entendem a mensagem. Não queremos que todo o mundo enlouqueça, como a cena da Somália em 'Falcão Negro em Perigo'".

Do iraque ao Haiti

Hartsock, que já serviu três turnos no Iraque, disse que é mais fácil entregar ajuda humanitária no Haiti porque não existe o mesmo risco de ataque.

Em lugar das cercas de arame farpado comuns no Iraque, uma fila de cadeiras brancas de beira de piscina é a única barreira entre soldados e refugiados.

"Queremos evitar o clima militar," disse Hartsock.

A massa de barracas frágeis e a presença de milhares de pessoas deitadas sobre a grama cria a aparência de um campo de refugiados tradicional, mas um olhar mais de perto revela diferenças, possivelmente refletindo o meio social de mais alto nível das áreas que cercam o clube.

Muitos dos refugiados são pessoas que falam fluentemente três línguas: crioulo, francês e inglês. Os ocupantes de duas ou três barracas tinham painéis solares do lado de fora, com os quais estavam carregando alguns telefones celulares.

Rony Florial normalmente é professor de tênis no clube. Agora está ajudando a organizar filas de refugiados, enquanto alguns soldados aproveitam para dormir um pouco nas quadras de tênis. Outros soldados aguardam em volta da piscina para seu próximo turno de serviço, reclinados em espreguiçadeiras, de uniforme completo, curtindo a vista espetacular da cidade e dos morros.

"Estamos fazendo tudo o que podemos para ajudar", disse Florial. "Os proprietários fecharam o clube e deixaram os americanos tomando conta. É para o bem da nação".

Desde o sábado, soldados norte-americanos vêm prestando assistência a refugiados no clube Petionville desde o nascer do sol até a noite. Na segunda-feira eles entregaram cerca de 20 mil garrafas de água.

Mas líderes dos refugiados dizem que muitas de suas necessidades não estão sendo atendidas. Como o clube de golfe fica no alto de uma colina, a temperatura cai rapidamente à noite, e o frio já matou várias crianças.

"Precisamos de cobertores, precisamos de banheiros, precisamos de ajuda para as crianças que perderam seus pais", disse o organizador Michel Ovilus. "E precisamos de casas. Estas pessoas não querem passar o resto de suas vidas em um campo de golfe".

Terremoto

Um terremoto de magnitude 7 na escala Richter atingiu o Haiti no último dia 12, às 16h53 no horário local (19h53 em Brasília). Com epicentro a 15 km da capital, Porto Príncipe, segundo o Serviço Geológico Norte-Americano, o terremoto é considerado pelo órgão o mais forte a atingir o país nos últimos 200 anos.

Dezenas de prédios da capital caíram e deixaram moradores sob escombros. Importantes edificações foram atingidas, como prédios das Nações Unidas e do governo do país. Estimativas mais recentes do governo haitiano falam em mais de 200 mil mortos e 50 mil corpos já enterrados. O Haiti é o país mais pobre do continente americano.

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