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América Latina

Duvalier, o "Baby doc", ex-presidente hereditário e vitalício

18 jan 2011 - 14h18
(atualizado às 14h51)
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O ex-presidente "vitalício" do Haiti, Jean-Claude Duvalier, o "Baby Doc", que retornou ao país domingo, após 25 anos de exílio na França, assumiu o poder em Porto Príncipe aos 19 anos, perpetuando uma longa ditadura no país mais pobre do continente americano.

16 de janeiro  - Jean-Claude 'Baby Doc' Duvalier acena a apoiadores de seu hotel em Porto Príncipe: retorno inesperado para 'ajudar na reconstrução do país'
16 de janeiro - Jean-Claude 'Baby Doc' Duvalier acena a apoiadores de seu hotel em Porto Príncipe: retorno inesperado para 'ajudar na reconstrução do país'
Foto: AP

Aos 59 anos, "Baby Doc", filho do ditador falecido François Duvalier chamado "Papa Doc", escolheu o primeiro aniversário do terremoto devastador para reaparecer no cenário político do Haiti. "Vim para ajudar", declarou ele ao chegar a Porto Príncipe onde beijou o solo.

Afastado do poder por uma revolta popular em 1986, após 15 anos de reinado absoluto em Porto Príncipe, Duvalier é uma personalidade polêmica, mesmo após um quarto de século de ausência.

As autoridades do Haiti estimam que mais de 100 milhões de dólares foram desviados a título de realizações de obras sociais até a queda de "Baby Doc" em 1986. Houve dilapidação sistemática das empresas do Estado, com uma parte do dinheiro transferida para bancos suíços.

O governo de Berna tentou acelerar a devolução do dinheiro de Duvalier, sobretudo após o terremoto que devastou o Haiti em 12 de janeiro do ano passado, mas chocou-se à resistência, na justiça, da família Duvalier.

Queixas por "crime contra a humanidade" foram apresentadas contra ele na França, país que o acolheu.

Jean-Claude, nascido em 3 de julho de 1951 em Porto Príncipe, não parecia preparado para aceder ao poder aos 19 anos, e dirigir a primeira república negra das Américas. Seu pai, que reinou desde 1957, morreu no dia 21 de abril de 1971.

Sua silhueta pesada, suas dificuldades de elocução, sua timidez e o gosto por uniformes enfeitados, não transmitiam a imagem de um ditador implacável, nem de um tecnocrata terceiro-mundista.

Testemunha desde a chegada do pai ao poder, quando tinha 7 anos, de todas as intrigas, desgraças, detenções, execuções, bombardeios do palácio e 11 tentativas de golpe de Estado, Jean-Claude, segundo as pessoas mais íntimas, foi profundamente marcado pela violência. Aos 11 anos, saiu ileso de um violento atentado no qual foram mortos três guardas-costas.

"Baby Doc" tentou uma tímida liberalização.

Mas, no fundo, o regime era o mesmo: afastado de um povo jamais consultado democraticamente, submetido ao controle rígido da milícia dos "Tontons macoutes" e vigiado pela velha guarda 'duvalerista' chamada "os dinossauros".

No entanto, mudou a constituição, limpou o exército e afastou os "Macoutes", pronunciando em 1977 uma anistia geral, além de criar uma liga haitiana dos direitos do Homem, e propor eleições livres.

Mas, segundo seus oponentes, foram apenas concessões à política do então presidente americano Jimmy Carter.

Após o casamento com Michele Bennett, rica herdeira protestante e divorciada, saída da burguesia mulata - isto é, símbolo do antigo regime - freou a liberalização. A imprensa passou a ser controlada e os oponentes, presos.

Derrubado por uma revolta popular em 1986, "Baby Doc" foi levado a se demitir pelos Estados Unidos, com a França aceitando recebê-lo de forma temporária. O ex-presidente passou, em seguida, a gozar de uma aposentadoria dourada, em amplas mansões da Côte d'Azur.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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